Guerra Colonial: Um capítulo na longa história de violência do colonialismo português

04 de abril 2024 - 21:37

A Guerra Colonial e as lutas de libertação, que haveriam de abrir caminho ao 25 de Abril, têm uma centralidade inquestionável na história da democracia portuguesa. Ainda assim, continuam a ser remetidas ao silêncio, e a dar lugar a narrativas de branqueamento dos horrores do colonialismo.

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Foto de Armor Pires Mota, publicada no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Em 1961, eclodia a Guerra Colonial, em Angola (Ler: O 4 de fevereiro de 1961 e a guerra colonial em Angola), em resposta a um regime de permanente violência contra as populações africanas e de brutal violência repressiva da polícia política do Estado Novo nas colónias (Ler: Alguns mitos e factos sobre o colonialismo português).

Essa violência, que, como denunciava Amílcar Cabral, passava pela “liquidação física de parte significativa da população dominada”, ganhou contornos de maior visibilidade em massacres como o de Pindjiguiti, Batepá, Mueda ou Wiriamu.

Com uma duração equivalente a mais do dobro da Segunda Guerra Mundial, e um saldo de milhares de mortos portugueses e africanos, a Guerra Colonial e as lutas de libertação, que haveriam de abrir caminho ao 25 de Abril, têm uma centralidade inquestionável na história da democracia portuguesa.

Ainda assim, continuam a ser remetidas ao silêncio, e a dar lugar a narrativas de branqueamento dos horrores do colonialismo. O Esquerda.net, na convicção de que urge quebrar o silêncio e desconstruir os mitos em torno deste conflito e do passado colonialista de Portugal, tem publicado inúmeros artigos sobre esta matéria, alguns dos quais compilados no Dossier As feridas abertas da Guerra Colonial.

A par da denúncia da barbárie do colonialismo português, neste projeto, reunimos contributos de quem participou, em nome da tão propalada “Pátria” portuguesa, numa Guerra que estava perdida a vários níveis, de quem perdeu parte do seu corpo, ou até mesmo a vida, num conflito injusto e imoral. Ou de quem saltou a fronteira para desertar à Guerra. Evocamos igualmente os trajetos e as experiências das suas vítimas, às quais são negados, até hoje, visibilidade e direitos.

E para combater o eurocentrismo enraizado nas nossas narrativas, o Esquerda.net tem ainda procurado juntar vozes que nos trazem memórias construídas a partir dos territórios ocupados, como as da jornalista Diana Andringa, nascida no Dundo, Luanda Norte, e que cresceu em tempo de guerra, ou de Helena Cabeçadas. Esta última, vivendo na infância em Moçambique, descreve-nos o choque entre a África imaginada e a África vivida e o sistema de apartheid que se vivia em Lourenço Marques, atual Maputo. Ambas viriam a engrossar em Portugal as fileiras dos resistentes antifascistas.

E também as vozes de quem lutou nas fileiras dos Movimentos de Libertação Nacional, que nos trazem relatos sobre a resistência, a luta armada e os encarceramentos, como é o caso de Manuel Boal (Guiné-Bissau), Lilica Boal (Guiné-Conacri), Adolfo Maria ou Justino Pinto de Andrade (Angola).

No Esquerda.net é ainda possível encontrar inúmeros artigos sobre o racismo estrutural enquanto herança colonial. Disso são exemplo artigos como As cinzas vivas do colonialismo português, de Miguel Cardina, As origens históricas do racismo estrutural na sociedade portuguesa, de Fernando Rosas, ou É preciso reescrever a história? e A descolonização que falta fazer, de Beatriz Gomes Dias. Em entrevista ao nosso portal, Mamadou Ba também descreve como “a colonialidade continua a marcar as relações económicas, sociais e políticas do país”.

No âmbito do dossier sobre a Guerra Colonial, deixámos ainda algumas sugestões de filmes, documentários, séries, livros e artigos a consultar.