A vida política britânica continuou ensombrada pelas negociações do acordo de saída da União Europeia. O frágil governo de Theresa May, que tem suporte parlamentar nos unionistas da Irlanda do Norte, está longe de convencer os deputados (a começar pelos do seu próprio Partido Conservador) a aprovarem o acordo.
Ao fim de meses de negociações difíceis com avanços e recuos, o Conselho Europeu — que reúne os líderes de governo da União Europeia — deu o seu aval ao acordo em novembro. Mas a discórdia entre os apoiantes do Brexit sobre o que seria melhor para o futuro do Reino Unido — o acordo negociado por May ou a saída sem nenhum acordo — foi provocando numerosas baixas no governo ao longo dos meses. Pelo meio, até Donald Trump fez questão de arrasar o plano de May quando visitou Londres.
A questão que está no centro da discórdia tem a ver com a exigência europeia e irlandesa de que não voltará a haver uma fronteira terrestre na Irlanda. Caso houvesse, poria em perigo o histórico Acordo de Sexta-Feira Santa que devolveu a paz à Irlanda do Norte. Não por acaso, o impasse do Brexit anda a par do impasse político na Irlanda do Norte, que já bateu o recorde dos países há mais tempo sem governo formado. O pomo da discórdia é o famoso “backstop” — a garantia inscrita no acordo do Brexit sobre a não existência de fronteiras que muitos conservadores e unionistas querem retirar ou suavizar no acordo. Na Irlanda, já há uma proposta de referendo à unificação caso o acordo acabe por falhar.
Theresa May terminou o ano com uma derrota política, ao ser obrigada a adiar a votação do seu acordo para não o ver chumbado pela Câmara dos Comuns, seguida de uma vitória de Pirro, ao ultrapassar a moção de desconfiança apresentada pelos conservadores que se opõem ao seu acordo.
Ficou assim afastada a hipótese por um ano de May poder voltar a ser desafiada internamente, mas a primeira-ministra não ficou mais perto de ver aprovado o seu acordo no parlamento. Com a fragilidade dos Conservadores e os Trabalhistas de Jeremy Corbyn apostados no desgaste do governo, o cenário de eleições antecipadas, ou mesmo de um novo referendo, está colocado para 2019.