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2018, mais um ano de guerra permanente na Casa Branca

Acossada por investigações judiciais, a presidência de Donald Trump continua apostada na polarização da sociedade contra os migrantes latinos. O ano acabou com uma derrota eleitoral.
Foto Joyce N. Boghosian/Casa Branca/Flickr

2018 começou em Washington com o governo paralisado, face à recusa do Senado em aprovar o Orçamento por causa da situação dos “dreamers”, os que chegaram aos EUA ainda crianças e adolescentes e continuam sem a sua situação regularizada. 

E foi precisamente a situação das crianças migrantes, separadas à força dos seus pais, levadas a julgamento e internadas em campos de retenção, muitas vezes alvo de violência, que provocou escândalo mundial e protestos em vários países, incluindo Portugal. 

Com a promessa de construir um muro na fronteira com o México em banho maria, Donald Trump ameaçou que o exército iria disparar contra os migrantes de países da América Central que viajam organizados em caravanas para se protegerem das redes de tráfico. As caravanas foram recebidas com gás lacrimogéneo, mas as ameaças de Trump serviram para justificar a repressão a tiro noutros países, como a Nigéria. Nas vésperas das eleições intercalares, Trump voltou à carga com o discurso anti-imigração, ameaçando retirar o direito à cidadania, protegido constitucionalmente, aos filhos de migrantes que já nasceram nos EUA.

No plano internacional, a administração norte-americana continuou a investir nas sete guerras que mantém por todo o planeta, aprovando o reforço do seu gigantesco orçamento militar. O isolamento dos EUA manifestou-se na cimeira do G7 no Canadá, na guerra das tarifas alfandegárias com a Europa e a China, que teve uma trégua em dezembro, ou na retirada do acordo nuclear com o Irão.

No plano interno, as investigações à interferência russa na campanha das presidenciais apertaram o cerco ao núcleo duro da Casa Branca, enquanto Trump redobrava os ataques à comunicação social. O responsável pela Justiça, que se tinha negado a intervir na investigação, foi demitido, e o responsável pelo Ambiente demitiu-se por causa da promiscuidade com os lóbis do setor.

As eleições intercalares de novembro permitiram aos Democratas recuperar a maioria na Câmara dos Representantes, mas a eleição parcial do Senado manteve a maioria republicana, sum sistema eleitoral desenhado à medida deste partido. A maior novidade foi a eleição de representantes à esquerda do establishment bipartidário, como Alexandria Ocasio-Cortez, portadora de uma agenda política radical que mobilizou eleitores mas ainda está muito longe de poder influenciar decisivamente a política norte-americana.

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Neste dossier:

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