Trump retira Estados Unidos do acordo nuclear com Irão

08 de maio 2018 - 22:50

O presidente norte-americano anunciou que decidiu sair do acordo nuclear alcançado entre o grupo P5+1, composto pelos Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha, e o Irão, acrescentando que os EUA “voltarão a impor sanções económicas ao mais alto nível”.

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"Hoje anuncio que os Estados Unidos se retiram do acordo nuclear com o Irão”, afirmou Trump em declarações à imprensa na Casa Branca.

O presidente norte-americano referiu que tem “a prova” de que o Irão, ao qual se referiu como "um regime de grande terror", mentiu sobre o programa nuclear.

Donald Trump defendeu que o acordo nunca devia ter sido feito, e que o mesmo “não trouxe a paz nem nunca a trará", garantindo que os Estados Unidos “voltarão a impor sanções económicas ao mais alto nível”.

A notícia foi aplaudida pela Arábia Saudita e Israel.

"O reino apoia e saúda os passos anunciados pelo Presidente norte-americano para se retirar do acordo nuclear (...) e o restabelecimento das sanções económicas contra o Irão", fez saber o Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita.

Já o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, felicitou Trump pela sua “decisão valente", agradecendo em nome de todos os israelitas as medidas do presidente dos EUA "para travar a atitude agressiva do Irão".

Numa posição conjunta, Angela Merkel, Emmanuel Macron e Theresa May assinalam que a decisão de Trump não põe em causa o acordo, apelando aos EUA para que “permitam que se mantenha a aplicação das suas principais disposições”. Por outro lado, instigam o Irão a “dar provas” do seu compromisso com o documento.

A alta representante para a Política Externa e vice-presidente da União Europeia, Federica Mogherini, avançou que os restantes líderes do grupo P5+1, composto por todos os países com assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas mais a Alemanha, pretendem manter-se vinculados ao Joint Comprehensive Plan of Action – JCPOA.

“Nós vamos preservá-lo e esperamos que o resto da comunidade internacional faça o mesmo. Não deixaremos que ninguém desmantele este acordo, que é um dos maiores êxitos diplomáticos jamais alcançados”, vincou.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, exortou os restantes seis países signatários do acordo nuclear com o Irão a respeitarem “totalmente os compromissos”, apesar do anúncio de Donald Trump.

“Estou profundamente preocupado com o anúncio da retirada dos Estados Unidos do acordo e o retomar de sanções”, adiantou António Guterres.

O Presidente iraniano, Hassan Rouhani, também acredita que, se os outros países enfrentarem Trump, o acordo “poderá sobreviver”. Rouhani acrescentou, no entanto, que já deu instruções à agência de energia atómica do país (AEOI) para retomar o enriquecimento de urânio caso o acordo não vingue.

“Isto é uma guerra psicológica. Não vamos permitir que Trump vença”, afirmou à televisão estatal, acusando os EUA de desprezar os compromissos internacionais.

Rouhani lembrou ainda que a Agência Internacional de Energia Atómica atestou que o Irão tem cumprido os seus compromissos.

O Joint Comprehensive Plan of Action – JCPOA (ler texto completo), datado de julho de 2015, permitiu ao Irão prosseguir o programa nuclear com fins não-militares e capacidade limitada. No documento é ainda previsto o reforço das inspeções, bem como o levantamento das sanções económicas ao país.

O Irão comprometeu-se a não construir qualquer nova unidade para o enriquecimento de urânio no período de 15 anos, e aceitou limitar o número de centrifugadoras existentes de 19 mil para seis mil num período de dez anos, operando apenas 5000.

O acordo prevê a redução do stock de urânio de baixo enriquecimento do Irão e que não exista enriquecimento na instalação subterrânea de Fordow por cerca de 15 anos. Teerão é ainda obrigado a conceder acesso aos inspetores da AIEA para investigar locais suspeitos ou atividades clandestinas suspeitas em qualquer lugar do país.

Por outro lado, o documento estipulou a reconstrução do reator de água pesada em Arak, de forma a não poder produzir plutónio.

Em contrapartida, os EUA e a União Europeia levantaram as sanções relacionadas ao programa nuclear.

O sucesso deste acordo não foi bem recebido à partida pela Arábia Saudita e Israel. O primeiro-ministro israelita afirmou, à época, que o Irão iria “ganhar o jackpot de centenas de milhares de milhões de dólares, que lhe vão permitir continuar a sua agressão e terror” e que o acordo consistia “uma ameaça à existência de Israel”.