A ministra da presidência da Bolívia, que ocupa interinamente o cargo de chefe da diplomacia do país, anunciou na terça-feira o corte de relações diplomáticas com o Estado de Israel. A decisão foi tomada após um encontro na segunda-feira do presidente boliviano Luis Arce com o embaixador palestiniano no país Mahmoud Elalwani.
"A Bolívia exige o fim dos ataques na Faixa de Gaza, que até agora causaram milhares de mortes de civis e a deslocação forçada de palestinianos, bem como o fim do bloqueio que impede a entrada de alimentos, água e outros elementos essenciais para a vida, em violação do direito internacional e do direito internacional humanitário no tratamento de civis em conflitos armados", disse a ministra María Nela Prada.
O corte de relações diplomáticas é justificado com o respeito com "os objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas, dos direitos à vida, liberdade, a paz, a recusa de todos os atos cruéis, desumanos e degradantes, estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos" e no direito internacional humanitário, prossegue a nota oficial.
O governo boliviano condena também o tratamento hostil com que Israel trata os responsáveis pela entrega da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, negando-lhes os vistos "para realizarem o trabalho que a comunidade internacional lhes delegou, o que constitui uma grave violação dos direitos humanos e produz uma crise sanitária".
María Nela Prada anunciou ainda que a Bolívia irá proceder ao envio de ajuda humanitária para Gaza através do Ministério da Defesa e que a embaixada boliviana nos Países Baixos passará a representar o país na cooperação com o Estado da Palestina.
Chile e Colômbia chamam embaixadores em Israel
Na noite de terça-feira, após ser conhecido o novo massacre de civis provocado pelos bombardeamentos israelitas, desta vez atingindo o campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, os presidentes do Chile e da Colômbia anunciaram a chamada para consultas dos seus representantes diplomáticos em Israel.
"Tendo em conta as inaceitáveis violações do direito internacional humanitário cometidas por Israel na Faixa de Gaza, o Governo chileno decidiu chamar o Embaixador do Chile em Israel, Jorge Carvajal, a Santiago para consultas", anunciou o Presidente chileno Gabriel Boric nas redes sociais.
Boric acrescentou que "o Chile condena veementemente e constata com grande preocupação que estas operações militares - que nesta fase do seu desenvolvimento implicam uma punição coletiva da população civil palestiniana em Gaza - não respeitam as normas fundamentais do direito internacional, como demonstram as mais de oito mil vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças".
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chileno juntou-se ao "apelo urgente para um cessar-fogo" feito por António Guterres e às declarações do Procurador do Tribunal Penal Internacional que avisou Israel para cumprir as obrigações legais que regulam os conflitos armados. Ao mesmo tempo, reafirmou a condenação do sequestro de inocentes pelo Hamas, apelando à sua "libertação imediata e incondicional".
Também nas redes sociais, o presidente colombiano anunciou a chamada da embaixadora do país em Israel. "Se Israel não pára o massacre do povo palestino, não podemos estar lá", afirmou Gustavo Petro.
Na quarta-feira, Petro partilhou imagens das vítimas do ataque a Jabalia, afirmando que aquilo "chama-se genocídio, fazem-no para tirar o povo palestiniano de Gaza e tomá-la de assalto. O chefe de Estado que comete este genocídio é um criminoso contra a humanidade. Os seus aliados não podem falar de democracia".
Mais tarde, reagindo às declarações do porta-voz da diplomacia israelita a criticar a chamada dos embaixadores chileno e colombiano, acusando-os de se colocarem "ao lado da Venezuela e do Irão em apoio ao terrorismo do Hamas", Gustavo Petro comentou apenas que "a Colômbia não apoia genocídios".
Argentina condena ataque israelita a Jabalia, México fala em "crimes de guerra"
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Argentina condenou o ataque israelita ao campo de refugiados de Jabalia, afirmando que é fundamental parar imediatamente os ataques dirigidos contra infraestrutura civil, em especial a destinada a garantir o abastecimento de serviços essenciais na Faixa de Gaza, incluindo hospitais, centrais dessalinizadoras de água e centros destinados a acolher refugiados".
Exigindo a entrada urgente e sem restrições da ajuda humanitária a Gaza e a libertação incondicional e imediata dos reféns na posse do Hamas, a Argentina apela ainda ao cumprimento da resolução aprovada na ONU que defende uma trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada e recorda que "não pode haver uma solução armada para o conflito israelo-palestiniano".
Também a diplomacia mexicana subiu de tom a sua condenação dos bombardeamentos israelitas. No discurso na sessão de emergência da Assembleia Geral das Nações Unidas, a representante do país na ONU, Alicia Buenrostro, condenou "qualquer ataque indiscriminado ou dirigido contra a população civil sob qualquer circunstância, bem como contra pessoal médico e humanitário, ou contra bens civis e infraestruturas essenciais, o que poderá constituir crimes de guerra". Alicia Buenrostro apelou também à libertação imediata e incondicional dos reféns pelo Hamas, entre os quais se encontram cidadãos com nacionalidade mexicana.
A intervenção da diplomata mexicana serviu também para prestar "total apoio do México ao Secretário-Geral António Guterres e a todo o sistema das Nações Unidas, nos seus esforços políticos e humanitários nestes tempos de crise". E para criticar duramente os países com assento permanente no Conselho de Segurança por recorrerem aos vetos cruzados nas votações das resoluções sobre o conflito em curso. A diplomata apelou aos Estados para que se juntem aos 106 países que já subscreveram a iniciativa franco-mexicana para restringir o uso do veto que tem paralisado, nesta e em muitas outras ocasiões no passado, a capacidade de ação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.