Mulheres de Abril

Resistente antifascista, membro destacado do Partido Comunista e artista plástica, morreu esta quinta-feira, aos 95 anos, no hospital de Faro. A sua força, a defesa intransigente dos valores em que acreditava, a sua abertura e capacidade de diálogo marcaram quem teve o privilégio de a conhecer.

O convite do esquerda.net representou uma oportunidade de passar ao papel as experiências vividas num tempo muito sombrio e sem esperança, dando uma ideia de como era então o quotidiano. Até que o “dia perfeito, inteiro e luminoso” nos empurrou para o futuro.

Em 1969, fui dirigir a Escola-Piloto do PAIGC, na Guiné-Conacri, onde se formavam e preparavam quadros para a libertação e o desenvolvimento do país. Por Lilica Boal (Maria da Luz Boal).

Para nós, filhos de uma certa burguesia, passar por uma fábrica é descobrir como a maioria das pessoas vivem no mundo industrial. E toda a hierarquia, toda a alienação que isso pressupõe. Por Ana Rosenheim.

O meu tio Zé Luís d’Espiney foi preso em 1965. Um ano depois, foi preso o meu tio Rui. E, quando tinha nove anos, em 1967, foi preso o meu pai, Sérgio d’Espiney. É este o panorama em que vivia: “não fales”, “não digas”, “não contes”, “tem cuidado”. Por Luísa d'Espiney.

O movimento associativo foi uma escola extraordinária. Foi um período de grande consciencialização política. E também de aprendizagem de competências democráticas. Por Maria Emília Brederode Santos.

O meu grande crescimento, do ponto de vista político, e do ponto de vista humano, foi, de facto, no movimento das mulheres. Por Luísa Amorim.

Em menos de dois anos, eu tinha passado de caloira despreocupada, a activista associativa e política. Como eu, dezenas e dezenas de outros jovens. Em grande parte, fora a política de repressão do governo fascista que nos empurrara para a militância política. Por Maria Augusta Anselmo Seixas (Magú).

Depois do julgamento, quando o Zé Manel [Picão] passou para Peniche, deixavam-me visitá-lo com a condição de tratar dos papéis do casamento. Casámos a 23 de janeiro de 1969 na prisão de Peniche. Por Helena Carneiro.

 

A minha origem de classe e o ambiente em que passei a minha infância moldaram a minha visão do mundo. Desde cedo, os meus heróis foram todos aqueles que, lutando pela sobrevivência própria e da família, estenderam a solidariedade a muitos outros. Por Joana Terlica.

Quando aceitei a proposta do Nuno [Teotónio Pereira], tive logo a imagem da prisão, falámos disso, sabia que era uma coisa que podia suceder. A maior angústia dos interrogatórios era o pânico de implicar outras pessoas com as respostas dadas. Por Luiza Sarsfield Cabral.

Se tivesse ficado em Portugal, não teria vivido esta experiência, ser operária, por exemplo. Teria tido uma vida completamente diferente: teria iniciado a minha carreira de professora, teria casado com um engenheiro, teria tido uma empregada para cuidar dos filhos e da casa, como aliás era comum nas famílias da nossa classe social. Por Conceição Cardeira.

Se a revolta estudantil de 1962, em Lisboa, foi o meu despertar para a política, Maio de 68, em Paris, foi, de facto, a “minha” revolução – ou, segundo a expressão de Daniel Cohn Bendit, “a revolução que eu tanto amei”. Por Helena Cabeçadas.

Foi através das reflexões na Liga Operária Católica Feminina que comecei a conhecer o regime fascista em que se vivia. Estávamos em plena guerra colonial, de vez em quando chegavam soldados no caixão e a consciência política foi ganhando força. Mas o meu baptismo político foi em 1969. Por Conceição Pereira.

Nasci em Braga, comecei a falar em S. Miguel, aprendi a ler em Cabeceiras de Basto e a contar em Guimarães, descobri a amizade em Mirandela e conheci no Porto o amor, a prisão da PIDE e os ideais que se tornaram a minha estrela polar. Por Manuela Barros Ferreira.

Resistente antifascista, membro destacado do Partido Comunista e artista plástica, morreu esta quinta-feira, aos 95 anos, no hospital de Faro. A sua força, a defesa intransigente dos valores em que acreditava, a sua abertura e capacidade de diálogo marcaram quem teve o privilégio de a conhecer.

O convite do esquerda.net representou uma oportunidade de passar ao papel as experiências vividas num tempo muito sombrio e sem esperança, dando uma ideia de como era então o quotidiano. Até que o “dia perfeito, inteiro e luminoso” nos empurrou para o futuro.

Em 1969, fui dirigir a Escola-Piloto do PAIGC, na Guiné-Conacri, onde se formavam e preparavam quadros para a libertação e o desenvolvimento do país. Por Lilica Boal (Maria da Luz Boal).

Para nós, filhos de uma certa burguesia, passar por uma fábrica é descobrir como a maioria das pessoas vivem no mundo industrial. E toda a hierarquia, toda a alienação que isso pressupõe. Por Ana Rosenheim.

O meu tio Zé Luís d’Espiney foi preso em 1965. Um ano depois, foi preso o meu tio Rui. E, quando tinha nove anos, em 1967, foi preso o meu pai, Sérgio d’Espiney. É este o panorama em que vivia: “não fales”, “não digas”, “não contes”, “tem cuidado”. Por Luísa d'Espiney.

O movimento associativo foi uma escola extraordinária. Foi um período de grande consciencialização política. E também de aprendizagem de competências democráticas. Por Maria Emília Brederode Santos.

O meu grande crescimento, do ponto de vista político, e do ponto de vista humano, foi, de facto, no movimento das mulheres. Por Luísa Amorim.

Em menos de dois anos, eu tinha passado de caloira despreocupada, a activista associativa e política. Como eu, dezenas e dezenas de outros jovens. Em grande parte, fora a política de repressão do governo fascista que nos empurrara para a militância política. Por Maria Augusta Anselmo Seixas (Magú).

Depois do julgamento, quando o Zé Manel [Picão] passou para Peniche, deixavam-me visitá-lo com a condição de tratar dos papéis do casamento. Casámos a 23 de janeiro de 1969 na prisão de Peniche. Por Helena Carneiro.

 

A minha origem de classe e o ambiente em que passei a minha infância moldaram a minha visão do mundo. Desde cedo, os meus heróis foram todos aqueles que, lutando pela sobrevivência própria e da família, estenderam a solidariedade a muitos outros. Por Joana Terlica.

Quando aceitei a proposta do Nuno [Teotónio Pereira], tive logo a imagem da prisão, falámos disso, sabia que era uma coisa que podia suceder. A maior angústia dos interrogatórios era o pânico de implicar outras pessoas com as respostas dadas. Por Luiza Sarsfield Cabral.

Se tivesse ficado em Portugal, não teria vivido esta experiência, ser operária, por exemplo. Teria tido uma vida completamente diferente: teria iniciado a minha carreira de professora, teria casado com um engenheiro, teria tido uma empregada para cuidar dos filhos e da casa, como aliás era comum nas famílias da nossa classe social. Por Conceição Cardeira.

Se a revolta estudantil de 1962, em Lisboa, foi o meu despertar para a política, Maio de 68, em Paris, foi, de facto, a “minha” revolução – ou, segundo a expressão de Daniel Cohn Bendit, “a revolução que eu tanto amei”. Por Helena Cabeçadas.

Foi através das reflexões na Liga Operária Católica Feminina que comecei a conhecer o regime fascista em que se vivia. Estávamos em plena guerra colonial, de vez em quando chegavam soldados no caixão e a consciência política foi ganhando força. Mas o meu baptismo político foi em 1969. Por Conceição Pereira.

Nasci em Braga, comecei a falar em S. Miguel, aprendi a ler em Cabeceiras de Basto e a contar em Guimarães, descobri a amizade em Mirandela e conheci no Porto o amor, a prisão da PIDE e os ideais que se tornaram a minha estrela polar. Por Manuela Barros Ferreira.