Palestina

Netanyahu diz que acentuará guerra no Líbano, Guterres diz que não pode haver “outra Gaza”

25 de junho 2024 - 12:24

O primeiro-ministro israelita diz que a fase “intensa” da destruição do território está a chegar ao fim só para prometer mais guerra. Esta terça-feira, dezenas de civis voltaram a ser mortos.

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Estragos no campo de refugiados de Al-Maghazi depois do bombardeamento israelita.
Estragos no campo de refugiados de Al-Maghazi depois do bombardeamento israelita. Foto de MOHAMMED SABER/EPA/Lusa.

A Faixa de Gaza continua a ser fortemente bombardeada, dois dias depois de Benjamin Netanyahu ter declarado, em entrevista ao Canal 14, que a fase “intensa” do ataque contra o território está a chegar ao fim. Isso assinala, por outras palavras, a intenção de continuar o massacre de outras formas e ao mesmo tempo uma escalada nos ataques ao Hezbollah no Líbano. Nas palavras do primeiro-ministro israelita: “estaremos em condições de deslocar certas forças para o norte e fá-lo-emos principalmente com fins defensivos”. Ainda assim, ameaçou que “conseguimos lutar em várias frentes e estamos preparados para isso”.

Num canal de direita e perante uma audiência amigável, que o interrompeu várias vezes com palmas, o chefe do governo israelita tentava passar uma imagem diferente daquela que marcava o fim de semana: a intensificação das manifestações em Israel pela libertação dos reféns, por um acordo de cessar-fogo e por eleições antecipadas.

Nas conversas em Washington entre Antony Blinken, chefe da diplomacia norte-americana, e Yoav Gallant, ministro israelita da Defesa, aquele terá, de acordo com Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, “sublinhado a importância de evitar uma nova escalada do conflito e de chegar a uma solução diplomática que permita às famílias israelitas e libanesas voltar a casa” (sic).

A um oceano de distância, esta segunda-feira, Netanyahu garantiu que se mantém fiel ao plano de cessar-fogo de seis semanas, de retirada de algumas zonas densamente povoadas e de troca de prisioneiros que apresenta como “a proposta israelita que o presidente Biden aprovou”, apesar de ter sido este a dar a cara por ela em primeiro lugar. E sobretudo apesar de ter garantido no parlamento israelita que Israel não acabaria a guerra até que o Hamas seja eliminado.

O Hamas sublinha as contradições nas posições de Netanyahu e o Hezbollah contrapõe-lhe que o fim do massacre em Gaza é uma pré-condição para o início de conversações de paz. Gallant terá dito ao enviado presidencial dos EUA, Amos Hochstein, que isso não é suficiente, exigindo uma retirada para uma “distância substancial” da fronteira.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, assinalou esta segunda-feira os perigos “cada vez maiores” de uma escalada do conflito no sul do Líbano. E também o secretário-geral da ONU, António Guterres, já o tinha feito a semana passada, realçando que o Líbano não pode tornar-se “outra Gaza”. Expressando “profunda preocupação com a escalada entre Israel e o Hezbollah ao longo da Linha Azul”, condenou a escalada “na retórica belicosa de ambos os lados, como se a guerra total estivesse iminente” e considerou que “o risco do conflito se estender ao Médio Oriente é real e deve ser evitado”.

Supremo recusa isenção de recrutamento de ultra-ortodoxos

Esta terça-feira, o Supremo Tribunal de Israel decidiu por unanimidade que os judeus ultra-ortodoxos têm de cumprir a lei geral do país e serem, como todos os outros cidadãos, recrutados para o exército. Na sentença diz-se que “no decorrer de uma guerra esgotante, o fardo da desigualdade é mais duro do que nunca e exige uma solução”, sublinhando que “a discriminação em relação à coisa mais preciosa de todas – a própria vida – é da pior espécie.”

As palavras sobre a medida do governo são duras e a decisão é considerada um revés importante para o governo de Netanyahu, cuja coligação inclui a extrema-direita ultra-ortodoxa que fazia deste tema um ponto de honra para pertencer ao governo.

Mais um dia de balanço trágico em Gaza

Os ataques das forças sionistas esta terça-feira mataram pelo menos 30 pessoas em Gaza, um contra uma casa no campo de refugiados de al-Shati, dois outros contra escolas, outro em Kahn Younis que atingiu pessoas que estavam à espera de ajuda alimentar.

Para além dos bombardeamentos, a realidade continua a ser de fome. De acordo com o sistema de monitorização da ONU Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar, uma em cada cinco pessoas no enclave sofre do mais alto nível de malnutrição, passando dias inteiros sem comer nada. Mais de 495.000 palestinianos sofrem de falhas de alimentação “catastróficas”. Philippe Lazzarini, líder da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos, sintetiza a situação: “Gaza foi dizimada” e “ao mesmo tempo as crianças estão a morrer de malnutrição e desidratação, há comida e água potável à espera nos camiões” de ajuda humanitária impedidos de chegar.

O Ministério da Saúde de Gaza informa que as instalações de saúde do território já não têm bens essenciais, nomeadamente medicamentos necessários para fazer cirurgias e tratar pacientes com cancros ou problemas renais, medicamentos psiquiátricos ou de saúde materna.

O balanço oficial do número de mortes em Gaza chegou agora, pelo menos, já que não conta com muitos desaparecidos, aos 37.626 mortos e 86.098 feridos.

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