Gilbert Achcar

Gilbert Achcar

Professor de Estudos de Desenvolvimento e Relações Internacionais na SOAS, Universidade de Londres. Entre os seus vários livros contam-se: The Clash of Barbarisms: The Making of the New World Disorder; Perilous Power: The Middle East and U.S. Foreign Policy, com Noam Chomsky; The Arabs and the Holocaust: A Guerra de Narrativas Árabe-Israelita; The People Want: A Radical Exploration of the Arab Uprising; e The New Cold War: The United States, Russia and China, from Kosovo to Ukraine. Leia mais em gilbert-achcar.net

Muitos comentadores retratam Trump como alguém que vai cortar as asas ao governo israelita e obrigá-lo a fazer a “paz” com os palestinianos, quando, na verdade, foi Trump quem permitiu que este governo planeasse livre e abertamente a deportação dos palestinianos da Faixa de Gaza.

O que leva os movimentos neofascistas a negarem a realidade cada vez mais evidente e, sobretudo, a oporem-se às políticas de combate às alterações climáticas que tentam mitigá-las e evitar o agravamento da catástrofe?

O número de vítimas da agressão genocida contra o povo de Gaza continua a aumentar constantemente, e a destruição sionista da Faixa e o seu despovoamento (“limpeza étnica”) continuam a um ritmo extremamente perigoso, com o objetivo de criar uma situação irreversível. 

Trump abandonou um dos instrumentos de “soft power” que a América imaginava possuir sobre o mundo inteiro até à sua chegada à Casa Branca. O rumo neofascista que Washington assumiu durante o segundo mandato de Trump não é, no entanto, menos hipócrita do que antes. 

A guerra no Sudão só tem dois desfechos possíveis: Ou as Nações Unidas assumem finalmente a sua responsabilidade, ou o país caminha para a divisão.
 

O contágio neofascista tornou-se ainda mais forte hoje, com os Estados Unidos a passarem de um papel de dissuasor da erosão da democracia, embora dentro de limites óbvios, para o de encorajador dessa erosão. Não é, pois, coincidência que o ataque de Erdogan à oposição tenha começado após um telefonema entre ele e Trump.

Agora que Trump regressou à Casa Branca com uma arrogância muito maior do que durante o seu primeiro mandato, a possibilidade de recrudescer a guerra no Iémen com o envolvimento direto dos EUA tornou-se muito real, como parte da pressão dos EUA sobre Teerão.

Esta é mais perigosa, em alguns aspetos, do que a era do fascismo. Mas a nova geração é o foco da nossa maior esperança e setores significativos dela revelaram rejeitar o racismo, como o manifestado na guerra genocida sionista em Gaza, e defender igualdade de todos os tipos de direitos, bem como, é claro, o meio ambiente.

O novo fascismo nega abertamente o direito dos povos à autodeterminação. Os governos liberais que restam na Europa estão atónitos. Os povos oprimidos já não podem tirar partido da divergência entre grandes potências que existia no passado mas têm agora de travar as lutas de resistência em condições mais difíceis do que nunca.

Quem quer que acredite que as presentes tréguas se transformarão numa cessação definitiva da guerra, acompanhada de uma retirada total do exército sionista da Faixa de Gaza, está a dar-se ao luxo de sonhar acordado.