Gilbert Achcar

Gilbert Achcar

Professor de Estudos de Desenvolvimento e Relações Internacionais na SOAS, Universidade de Londres. Entre os seus vários livros contam-se: The Clash of Barbarisms: The Making of the New World Disorder; Perilous Power: The Middle East and U.S. Foreign Policy, com Noam Chomsky; The Arabs and the Holocaust: A Guerra de Narrativas Árabe-Israelita; The People Want: A Radical Exploration of the Arab Uprising; e The New Cold War: The United States, Russia and China, from Kosovo to Ukraine. Leia mais em gilbert-achcar.net

Esta é mais perigosa, em alguns aspetos, do que a era do fascismo. Mas a nova geração é o foco da nossa maior esperança e setores significativos dela revelaram rejeitar o racismo, como o manifestado na guerra genocida sionista em Gaza, e defender igualdade de todos os tipos de direitos, bem como, é claro, o meio ambiente.

O novo fascismo nega abertamente o direito dos povos à autodeterminação. Os governos liberais que restam na Europa estão atónitos. Os povos oprimidos já não podem tirar partido da divergência entre grandes potências que existia no passado mas têm agora de travar as lutas de resistência em condições mais difíceis do que nunca.

Quem quer que acredite que as presentes tréguas se transformarão numa cessação definitiva da guerra, acompanhada de uma retirada total do exército sionista da Faixa de Gaza, está a dar-se ao luxo de sonhar acordado.

A Autoridade Palestiniana sediada em Ramallah decidiu complementar a ofensiva lançada pelas forças armadas sionistas na Cisjordânia, paralelamente à invasão da Faixa de Gaza.

Quem esperava ou acreditava na transformação do HTS e de Ahmed al-Sharaa, também conhecido como al-Julani, do jihadismo salafita em democracia não-sectária, já começa a perceber que estava a delirar.

Em poucos dias, a Síria transformou-se de novo num teatro de guerra de movimento, no que parece ser um recomeço da última grande deslocação das frentes de batalha que teve lugar em 2016, quando o regime de Assad recuperou o controlo de Alepo com o apoio iraniano e russo e a cumplicidade turca.

A situação atual e o acordo de cessar-fogo são muito diferentes do que eram em 2006. A primeira e mais importante diferença é que o golpe que as forças armadas sionistas conseguiram infligir ao Hezbollah é muito maior hoje do que foi em 2006, embora não seja fatal.

Benjamin Netanyahu aguardava ansiosamente a vitória de Trump e fez tudo o que podia para contribuir para ela. O que é que nos espera agora que o regresso de Trump à Casa Branca está confirmado?

O Hezbollah enfrenta agora o dilema da sua dupla lealdade: parte dos seus dirigentes deseja aceitar um cessar-fogo, juntamente com uma retirada a norte do rio Litani, mas Teerão está a obrigar o partido a fazer depender um cessar-fogo no Líbano de um cessar-fogo em Gaza, o que se tornou absurdo.

Embora deseje desmantelar a capacidade de dissuasão do Hezbollah, Netanyahu não pode iniciar uma guerra global sem assegurar a plena participação dos EUA na mesma, à semelhança da participação de Washington na guerra em Gaza durante vários meses, os meses mais mortíferos e destrutivos.