Gilbert Achcar

Gilbert Achcar

Professor de Estudos de Desenvolvimento e Relações Internacionais na SOAS, Universidade de Londres. Entre os seus vários livros contam-se: The Clash of Barbarisms: The Making of the New World Disorder; Perilous Power: The Middle East and U.S. Foreign Policy, com Noam Chomsky; The Arabs and the Holocaust: A Guerra de Narrativas Árabe-Israelita; The People Want: A Radical Exploration of the Arab Uprising; e The New Cold War: The United States, Russia and China, from Kosovo to Ukraine. Leia mais em gilbert-achcar.net

As posições de Netanyahu, incluindo a rejeição do cessar-fogo em Gaza e da troca de prisioneiros, não podem ser entendidas isoladamente das eleições americanas. Ele recusa conceder à administração Biden um sucesso político no meio da atual campanha eleitoral americana, prestando um serviço a Trump.

A fraca participação eleitoral mostrou a posição dos argelinos face ao regime. Das duas ondas de revoltas a que a região assistiu, os regimes apenas aprenderam lições repressivas para reforçar o seu controlo sobre as sociedades.

Em que consiste o conflito no seio da elite do poder sionista? Não pensem que se trata de um conflito entre falcões e pombas, como o retratam os media ocidentais.

Desde que desistiu de se recandidatar, o presidente dos EUA regrediu na posição sobre o genocídio em Gaza. E isso foi evidente na forma como reagiu ao recente assassinato de Ismail Haniyeh por Israel em Teerão.

O ultra-centrismo de Starmer, que é ainda mais de direita do que a "Terceira Via" de Tony Blair, não só não conseguiu entusiasmar as massas, como mobilizou um eleitorado mais pequeno do que aquele que votou nos trabalhistas sob Jeremy Corbyn.

Netanyahu tornou-se o bem-amado da extrema-direita mundial, não só como modelo para eles, mas também devido aos seus esforços incansáveis para ilibar os seus companheiros em todo o mundo da acusação de antissemitismo e de a associarem àqueles que odeiam. 

A luta política no seio da elite política sionista não é entre falcões e pombas. Tanto Netanyahu quanto a oposição acreditam que ou o Hezbollah se retira para norte ou haverá uma guerra devastadora que todos consideram necessária para restaurar a capacidade de dissuasão do seu Estado.

Netanyahu não se arriscará a romper a aliança com a extrema-direita sionista e aposta claramente na possibilidade de Donald Trump ganhar as eleições presidenciais americanas que terão lugar no início de novembro.

Pressionado pelo eleitorado e pelo movimento de protesto contra a guerra, o presidente dos EUA escolheu um plano de paz oportunista e hipócrita. Biden e Gantz divergem com Netanyahu sobre a forma de liquidar a causa palestiniana mas não sobre o objetivo da liquidação em si.

É uma escolha difícil que Netanyahu enfrenta atualmente, o resultado inevitável da sua dependência de dois grupos extremistas. Tão ou mais difícil é a dos dirigentes do Hamas no interior da Faixa de Gaza, pois é-lhes pedido que abdiquem da sua última carta que lhes garante a sobrevivência.