Trabalho

“É errado e é ilegal!”: vigilantes lutam pelos seus direitos em Almada e Lisboa

15 de abril 2025 - 18:16

Num caso, a Prestibel não assumiu a totalidade dos trabalhadores na prestação de serviço. No outro, a PSG não pagou a totalidade dos subsídios de Natal. Trabalhadores fazem piquetes nas duas cidades e Bloco fala em luta "por respeito e justiça".

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Concentração de vigilantes na Praça do Município, Lisboa
Concentração de vigilantes na Praça do Município, Lisboa. Fotografia de Esquerda.net.

Esta terça-feira realizaram-se duas concentrações de vigilantes em Lisboa. Pela manhã, os vigilantes da Câmara Municipal de Almada concentraram-se em frente à Prestibel, no Restelo, para protestar contra a rejeição de sete trabalhadores por parte da empresa no contexto de uma transmissão de estabelecimento. No na Praça do Município, os vigilantes da Câmara Municipal juntaram-se para denunciar as faltas no pagamento de subsídios de Natal que a PSG se recusa a pagar na totalidade, também no contexto de uma transmissão de estabelecimento.

São cerca de 180 trabalhadores que fazem a vigilância dos espaços da Câmara Municipal de Lisboa. A PSG, que assumiu a vigilância de vários espaços em novembro de 2024, insiste em não assumir a totalidade do pagamento do subsídio de acordo com a lei. Pagou apenas 2/12 aos trabalhadores, dizendo que o pagamento dos restantes 10/12 cabe à empresa que fazia a vigilância dos espaços antes até novembro.

“É errado e é ilegal”, diz Rui Tomé, do Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas (STAD) no piquete. Falando aos vigilantes, o dirigente sindical condena o facto de muitos deles terem passado o Natal sem receber o subsídio de Natal. “A PSG é uma empresa que não cumpre com a lei sobre transmissão de estabelecimento”, defende.

Segundo Rui Tomé, o sindicato fez uma reunião com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. A COPS, que também assumiu a vigilância de alguns desses espaços, acabou por pagar o subsídio na totalidade aos trabalhadores. “Infelizmente, a PSG continua a não pagar o restante subsídio de Natal”, diz, lembrando que “por detrás dos trabalhadores estão famílias”.

Em entrevista ao Esquerda.net, o dirigente sindical diz que para além da PSG, a Câmara Municipal de Lisboa tem duas responsabilidades: a social e a solidária. “O dever social é que tem nas suas instalações uma empresa contratada que não está a respeitar os direitos dos trabalhadores, e deve exigir às empresas a quem está a pagar o mínimo”, explica.

Já o dever solidário “é de acordo com a Lei da Segurança Privada. Os créditos devidos por parte das empresas é a Câmara Municipal que tem de assumir essa responsabilidade. Ou seja, a Câmara não pode dizer que é um problema entre os trabalhadores e a empresa”.

É a segunda concentração que estes trabalhadores fazem em frente a Câmara Municipal de Lisboa. Rui Tomé diz que há também “um caminho através dos tribunais, só que essas lutas demoram muito tempo”, e portanto as ações sindicais continuaram. “A ação mais eficaz é a da denúncia, de pressionar as empresas”, aponta.

O argumento da PSG para não pagar o restante subsídio de Natal é que está a cumprir a orientação dada pela ministra do Trabalho, que indicou uma solução semelhante num outro caso ocorrido dentro do próprio Ministério. No entanto, ouvida no Parlamento a requerimento do Bloco de Esquerda, a ministra admitiu que a solução não resulta da lei.

Manifestação de Vigilantes em Lisboa
Concentração de vigilantes na Praça do Município, Lisboa. Fotografia de Esquerda.net.

José Gomes, vigilante no Cemitério dos Prazeres, diz que “a única coisa que a PSG tem de fazer é quando faz a transmissão de estabelecimento, pagar os subsídios”. O trabalhador veio à concentração para protestar contra a empresa que “até hoje não assume o pagamento”.

“Vamos continuar sem receber porque a PSG não faz nada e é por isso que estamos aqui hoje”, diz. “E a culpa também é da Câmara Municipal, que aceita este tipo de coisas. Quando o cliente paga, a empresa também tem de pagar”.

Já veio à primeira manifestação e diz que colocou a situação em tribunal “para que a PSG me pague realmente o subsídio de Natal”. “Disseram logo que só pagavam novembro e dezembro, e que não pagavam o resto”.

Vigilantes do Ministério do Trabalho

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“São 6 meses de subsídio de Natal, estamos a falar na ordem dos 500 euros. A minha pergunta é se esta empresa é viável”, diz. “E a Câmara Municipal é totalmente responsável por esta situação, e pelos vistos nem sequer aparecem”.

Na verdade, ao falar aos trabalhadores a dirigente do sindicato Sofia Figueiredo diz que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa “passou aqui há pouco e desresponsabilizou-se, disse que nada podia fazer”. O secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, esteve presente na concentração, considerando a situação “inaceitável” e sublinhando que é importante “colocar o dedo na ferida e exigir respostas”.

“Aquilo que se constata é que se continua a colocar como primeira preocupação, seja pela parte da CML, seja pela parte das empresas, os interesses do capital”, disse.

Bloco diz que é uma luta sobre “respeito e justiça”

Também o vereador em substituição do Bloco de Esquerda, Ricardo Moreira, falou aos trabalhadores neste piquete de greve, dizendo que esta luta “é sobre respeito e sobre justiça”. “Como é que é possível estarem há quatro meses sem subsídio de Natal?”, questionou.

“Inquirimos o Executivo municipal várias vezes, responderam-nos por carta dizendo que não vão pagar a caução e que isso vai forçar a empresa a pagar aquilo que deve a estes trabalhadores”. Só que entretanto, passaram-se quatro meses e os vigilantes estão na mesma situação.

A empresa “continua a não pagar aos trabalhadores e isso é inaceitável”, ainda por cima quando “Carlos Moedas falta ao respeito aos trabalhadores”, defendeu Ricardo Moreira. “Faltou ao respeito quando veio aqui dizer que não há nada a fazer: é falso! Carlos Moedas pode garantir que cada um e cada uma recebe o subsídio de Natal como é a lei”.

“Pode fazê-lo ao forçar a empresa a pagar, e no caso da empresa não respeitar o contrato, sai! É isso que acontece quando as empresas não cumprem os contratos”, afirmou. Isso não acontece só com os vigilantes, é o que acontece também com as trabalhadoras de cantinas e de limpezas industriais.

Por isso, o vereador bloquista volta a sublinhar que “a empresa pode pagar-vos o subsídio amanhã: basta que Carlos Moedas queira. Basta querer. Se não quer, é injusto e desrespeita-vos”.

Trabalhadores da Prestibel em Almada em luta 

No caso dos vigilantes da Câmara Municipal de Almada, o problema é que a Prestibel, que assumiu a vigilância de alguns espaços da Câmara em janeiro, integrou os vigilantes mas deixou cerca de uma dezena de fora, sem especificar o porquê nem declarar critério.

Ou seja, a empresa está a recusar a continuação dos trabalhadores nos seus postos de trabalho. O Bloco de Esquerda já denunciou a situação na Câmara Municipal de Almada e esta terça-feira esses vigilantes também se manifestaram à porta da sede da empresa, no Restelo.

Manifestação de vigilantes
Manifestação de vigilantes. Fotografia de Esquerda.net.

Rui Tomé diz que “a Prestibel ganhou o concurso à PSG e recusa-se a ficar com a totalidade dos trabalhadores”. “Pelas nossas contas, sete trabalhadores foram recusados e chegaram até a ser impedidos de entrar no local de trabalho”.

Uma delegação da vereação almadense do Bloco de Esquerda também esteve presente na concentração, denunciando nas redes sociais que a Prestibel “escolhe os trabalhadores que quer e descarta aqueles que não quer”, o que é “contra a lei” e “deixa os trabalhadores desprotegidos”.

E a Câmara Municipal de Almada “tem a sua responsabilidade, não se pode descartar disso. Tem ao seu serviço empresas que não cumprem a lei e deve ser a primeira a exigir o cumprimento da lei”, afirma o Bloco.