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Governo quer contrariar a lei em atribuição de subsídios de Natal

10 de dezembro 2024 - 10:39

Empresas subcontratadas pelo Ministério do Trabalho atiram responsabilidade uma para a outra. Apesar da responsabilidade estar explícita na lei, Governo propõe solução que contraria Código do Trabalho.

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Segurança Social
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O Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social assumiu uma solução para resolver um conflito entre duas empresas de vigilância que contraria a lei e até mesmo a atuação de anteriores ministérios. Em questão está a mudança de empresas de segurança (PSG e Powershield) do próprio Ministério, onde as duas empresas atribuem uma à outra a responsabilidade do pagamento de subsídio de Natal a cerca de 500 vigilantes.

Esses trabalhadores estão divididos em quatro lotes, de acordo com a região do país, sendo que a 1 de dezembro de 2024, a PSG assumiu a vigilância dos equipamentos do Ministério em Lisboa e Vale do Tejo e no Norte. No Alentejo e Centro, a transição foi oposta, assumindo a Powershield a vigilância que era da PSG.

Até agora, esses casos tinham sido tratados de acordo com a lei, caindo a responsabilidade do pagamento dos subsídios de Natal sobre a empresa que emprega aqueles trabalhadores à data do pagamento do subsídio de Natal. Ou seja, a PSG pagaria os subsídios na íntegra aos trabalhadores que assumiu em Lisboa e no Norte, e a Powershield aos do Centro e Alentejo.

Só que a secretaria-geral do Ministério do Trabalho tomou uma posição que contraria a lei, dizendo que as entidades devem pagar os subsídios de forma proporcional, sendo que cada empresa pagaria 11/12 dos subsídios de Natal aos trabalhadores que a outra empresa assumiu e 1/12 aos que ela própria assumiu.

A PSG, que se vê livre de pagar os subsídios de Natal aos trabalhadores de Lisboa e do Norte, aprova a solução e assume já ter pago 11/12 dos subsídios aos trabalhadores que transitaram para a outra empresa. Ao mesmo tempo, a Powershield discorda da solução do Ministério e assume pagar, conforme a lei, o subsídio na íntegra a esses mesmos trabalhadores. Isso significa que os vigilantes do Centro e Alentejo poderiam receber quase dois subsídios de Natal, enquanto os de Lisboa e Norte receberiam apenas 1/12 de um.

Ao Jornal de Negócios, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas (STAD) diz que “as empresas que ganham o concurso têm de assumir a garantia de todos os direitos, incluindo as respetivas remunerações, subsídios de férias e de Natal”, e admite avançar para formas de luta que assegurem o pagamento da PSG aos trabalhadores de Lisboa e Norte.

Se até ao dia 13 de dezembro os trabalhadores não tiverem garantia de que vão receber o subsídio de Natal, o STAD convoca uma greve e duas concentrações para exigir "às empresas incumpridoras e ao ministério do Trabalho a aplicação da norma legal da transmissão de estabelecimento".

A confirmar-se esse cenário, haverá uma concentração em Lisboa, das 9h30 da manhã até às 12h30, em frente à sede do ministério do Trabalho, na Praça de Londres. No Porto, os trabalhadores terão concentração marcada para as 14h30 também em frente à sede do ministério do Trabalho, na Avenida da Boavista.

Bloco quer ouvir ministra e sindicato no Parlamento

Na passada quarta-feira, o Bloco de Esquerda entregou na Assembleia da República um requerimento para ouvir, com carácter de urgência, o STAD e a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social sobre a solução que contraria a lei. O partido considera “inaceitável” que os cerca de 500 vigilantes afetos ao Ministério “se encontrem novamente numa posição de grande incerteza, por uma situação à qual são totalmente alheios”.

No documento assinado pelo deputado José Soeiro, sublinha-se que “as empresas estão a colocar em causa o pagamento do subsídio de natal destes trabalhadores” e que a lei, ao contrário da solução do Ministério, prevê que “a partir do dia 1 de dezembro de 2024 cabe à entidade empregadora destes trabalhadores, seja a Powershield ou a PSG, o pagamento do respetivo subsídio de natal até ao dia 15 de dezembro.”

Pela urgência do tema, o Bloco considera que “importa ouvir os esclarecimentos das entidades envolvidas sobre esta matéria”. Também por isso, o grupo parlamentar do Bloco de Esquerda entregou uma pergunta dirigida à ministra do Trabalho onde questiona as diligências tomadas por parte do Governo no sentido de cumprir o Código do Trabalho e as ações que o Ministério pretende tomar na resolução de uma situação em que as empresas “desrespeitam desta forma os direitos dos trabalhadores”.

Nesse documento, o Bloco de Esquerda sublinha que a situação é “grave” e que a ser aceite pelo Governo “põe em causa os adquiridos e as disposições legais sobre a transmissão da posição do empregador” quando um determinado serviço é transferido de uma empresa para outra. É também frisado que é ainda mais grave que isto aconteça “com trabalhadores que exercem as suas funções nas instalações do próprio Ministério do Trabalho e da Autoridade para as Condições de Trabalho ou do IEFP”.

A pergunta, assinada também pelo deputado José Soeiro, procura ainda perceber se o Governo tem conhecimento dessa situação e de outros casos deste tipo, bem como se já foram realizados ações de inspeção nestas empresas.

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