Guerra

Ministro procurado pelo TPI foi a Washington ameaçar o Líbano de “voltar à idade da pedra”

27 de junho 2024 - 12:29

Declarações de Yoav Gallant surgem numa altura em que Netanyahu se prepara para abrir uma nova frente de guerra e atrair o Irão para o conflito, enquanto prossegue os ataques a Gaza.

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Yoav Galant no Pentágono
Yoav Galant esta terça-feira no Pentágono. Foto Sgt. Eugene Oliver/Dep. Defesa EUA/Flickr

Numa visita a Washington, o ministro da Defesa israelita Yoav Gallant, que tal como Benjamin Netanyahu é alvo de um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional para responder por crimes de guerra em Gaza, afirmou esta quinta-feira aos jornalistas que o seu país tem meios para fazer regressar o Líbano “à idade da pedra”, embora não queira “entrar em guerra porque isso não é bom para Israel”. A embaixada dos EUA em Beirute avisou esta quinta-feira os cidadãos estadunidenses para reconsiderarem eventuais planos de viagens para este país e aos que já ali se encontram para não viajarem para o sul do Líbano, a zona fronteiriça com a Síria ou os campos de refugiados.

A visita de Gallant serviu para discutir o apoio militar dos EUA a Israel, nos últimos dias alvo de queixas de Netanyahu por causa do atraso no envio de bombas de forte potência, com os EUA a alegarem receios de que possam ser usadas contra civis. Mas a ajuda militar prossegue e soma já 6.500 milhões de dólares desde o início da invasão a Gaza, segundo números oficiais citados pelo Washington Post. E também por isso Gallant considerou os laços entre os dois países como a segunda coisa mais importante para a segurança de Israel, a seguir ao seu exército. E procurou ainda marcar a diferença com Netanyahu e suavizar as críticas feitas anteriormente pelo primeiro-ministro, afirmando que os atrasos foram discutidos e ultrapassados.

O chefe do estado-maior das forças armadas dos EUA, general C.Q. Brown, afirmou no domingo durante uma escala em Cabo Verde que num cenário de ataques do Hezbollah vindos do Líbano, os EUA teriam uma capacidade de apoio à defesa de Israel mais limitada do que tiveram na resposta aos ataques iranianos em abril passado, devido à curta distância entre os dois países. E avisou que uma ofensiva israelita pode contribuir para alargar o conflito a outros aliados do Irão, em especial caso esteja ameaçada a sobrevivência do Hezbollah. Para o general norte-americano, “o Hezbollah tem mais capacidade que o Hamas em termos gerais, no número de rockets e etc. E posso dizer que vejo o Irão mais disposto a dar-lhes apoio” do que aos combatentes do Hamas em Gaza, acrescentou.

No Líbano, os ataques do Hezbollah  a localidades israelitas em resposta à invasão de Gaza provocaram a resposta do exército de Telavive, que já matou cerca de meio milhar de libaneses e 26 israelitas. Calcula-se que a maioria destes eram militares e dois terços dos libaneses membros do Hezbollah. Na memória dos libaneses está a guerra do verão de 2006, na sequência de uma emboscada e rapto de dois militares israelitas pelo Hezbollah, exigindo em troca a libertação dos presos libaneses em Israel. O governo de Ehud Olmert bombardeou infraestruturas civis e lançou uma invasão terrestre que matou mais de 1.100 libaneses e 165 israelitas e fez mais de um milhão de deslocados, a par de um bloqueio ao país que durou meses.

Com o Líbano a atravessar sucessivas crises políticas e económicas nos últimos anos, os principais líderes políticos e boa parte da sociedade não querem ser arrastados para uma guerra provocada pelo agudizar do conflito entre o Hezbollah e Israel. Após serem conhecidos os planos israelitas para uma escalada da guerra, na semana passada o líder do movimento xiita, Hassan Nasrallah, contrapôs com a ameaça de uma guerra “sem regras nem limites”.

Por seu lado, o primeiro-ministro interino Najib Mikato afirmou após o encontro em Beirute com o enviado dos EUA Amos Hochstein, que “é preciso parar a agressão israelita e restabelecer a calma na fronteira”, acrescentando que as contínuas ameaças de Israel à soberania libanesa “não nos impedirão de prosseguirmos os nossos esforços para conseguir a tranquilidade que é a nossa prioridade para nós e a de todos os amigos do Líbano”. Já o líder do maior partido, o Forças Libanesas, acusou as autoridades do país de o terem abandonado e deixado vulnerável à estratégia destrutiva do Irão para a região, criticando também o Hezbollah por estar a arrastar o Líbano para um cenário perigoso.

Ataques em Gaza, manifestações em Israel

Esta quinta-feira é dia de protestos generalizados em Israel para reclamar um acordo de troca de reféns e a realização de eleições o quanto antes. A manhã começou com o corte de auto-estradas e barricadas a arder em Telavive e na estrada costeira.

“O primeiro-ministro abandonou os reféns e está disposto a deixá-los em Gaza enquanto permanecer no poder”, reclamam as famílias citadas pelo Haaretz, defendendo que “apenas um acordo abrangente que traga de volta os reféns e acabe o conflito em Gaza pode salvar o país”.

Os protestos deverão subir de tom ao longo do dia e além de cortes de estradas haverá concentrações em frente às sedes do Likud, das residências dos principais dirigentes da coligação de extrema-direita no poder e junto às sedes sindicais a pedir a convocação de uma greve geral. O ponto alto dos protestos deverá ter lugar junto às residências de Netanyahu em Jerusalém e Caesarea.

Além dos familiares de reféns, os protestos são também convocados por várias organizações de mulheres e de grupos que se opõem à continuação do atual governo.

Também esta quinta-feira, quatro pais de israelitas mortos ou feitos reféns a 7 de outubro entregaram uma petição ao Supremo Tribunal para que seja formada uma comissão de inquérito oficial aos acontecimentos daquele dia.

Em Gaza, prosseguem os bombardeamentos e as mortes de civis. Na manhã de quinta-feira, o alvo foi um edifício no leste da cidade de Gaza, fazendo pelo menos cinco mortos e vários feridos, e o campo de refugiados de Bureij, no centro da faixa de Gaza, com vários mortos a registar, segundo a agência Wafa. No norte de Gaza, outras seis pessoas foram mortas num bombardeamento ao campo de refugiados de Jabalia e no sul, em Khan Younis, várias pessoas morreram nas instalações da escola Al-Khansaa que alberga refugiados de guerra. A agência noticiosa dá conta de outros ataques em várias localidades, incluindo Rafah, onde as tropas israelitas continuam a destruir casas e as colunas de fumo se veem a quilómetros de distância, ou na cidade de Gaza, onde os drones dos ocupantes são muitos e voam a baixa altitude.