O exército de Israel está a expandir os seus ataques terrestres na Faixa de Gaza. Os bombardeamentos são também constantes, tendo sido assassinadas 42 pessoas só desde esta madrugada, nove das quais eram crianças e uma mulher grávida. Um dos sítios atacados foi uma clínica da Agência das Nações Unidas de Socorro e Obras para Refugiados Palestinos no Próximo Oriente, UNRWA, no campo de refugiados de Jabalia, onde 19 pessoas foram mortas.
Desde que Israel rompeu o cessar-fogo, já matou pelo menos 1.042 palestinianos, elevando o número de pessoas confirmadamente mortas pelo exército sionista desde o início do genocídio a 50.399, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. O gabinete de imprensa da Faixa contabiliza mais de 61.700 uma vez que acrescenta as pessoas que ficaram desaparecidas sob os destroços dos bombardeamentos e cujos corpos não foram recuperados.
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Há ainda novas ordens de evacuação. Esta segunda-feira, todos os residentes de Rafah receberam ordem para sair e no dia seguinte foi a vez dos de Beit Hanoon, Beit Lahiya e áreas próximas no norte do enclave. A agência humanitária da ONU, OCHA, relata que “dezenas de milhares de civis estão a fugir de Rafah debaixo de tiros”.
Para além disso, o território vive o maior período de bloqueio desde que a guerra começou, 31 dias seguidos, o que provoca escassez de alimentos e fez encerrar todas as padarias de Gaza, incluindo as 25 do Programa Alimentar Mundial. Desde o dia 2 de março que o bloqueio é total, não tendo entrado comida, água, combustível ou medicamentos.
Enquanto isto acontece, o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, anunciou um plano para “capturar território extenso” e alargar supostas “zonas de defesa” ou “zonas tampão” sob ocupação militar permanente. Não ficou claro das suas declarações a quantidade de terras de que se pretende apropriar mas vários órgãos de comunicação social israelitas e norte-americanos avançam com 25% do total do território atual de Gaza.
O governante declarou que as tropas sionistas iriam “esmagar e limpar as áreas de terroristas e infraestruturas”. Isto quando já existe uma “zona tampão” de cerca de um quilómetro criada depois dos ataques de 7 de outubro de 2023. Aí, todas as infraestruturas, incluindo habitações, têm sido destruídas e o mesmo se espera que aconteça nas novas “zonas tampão”.
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O “Fórum das Famílias dos Reféns”, que representa os familiares dos 59 israelitas que ainda estão nas mãos do Hamas, criticou o anúncio por considerar que continua a política de fazer com que a libertação destes seja uma “tarefa secundária” que foi “empurrada para o fim da lista de prioridades”.
Paramédicos e trabalhadores de auxílio humanitário executados por Israel
Entretanto, continuam a conhecer-se pormenores do crime de guerra da execução de 15 paramédicos do Crescente Vermelho e trabalhadores de auxílio humanitário palestiniano por parte do exército israelita a 23 de março.
Só neste fim de semana é que equipas internacionais de auxílio humanitário se puderam deslocar ao local. Duas testemunhas oculares que participaram na recuperação dos cadáveres dizem que os corpos foram encontrados com as mãos ou pernas atadas numa vala comum e com marcas de tiros na cabeça ou no peito. Ahmed al-Farra, um médico que viu três dos corpos, confirma também as marcas de execução e o facto de terem as mãos e pés atados.
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Dois destes elementos tinham-se deslocado ao início da manhã daquele dia à zona de al-Hashashin, em Rafah, para prestar ajuda às vítimas de um bombardeamento. Foram mortos. Os restantes 13 tinham ido numa caravana de ambulâncias e de veículos da defesa civil para buscar os corpos dos seus colegas. Um deles era empregado da ONU e há ainda um paramédico do Crescente Vermelho desaparecido. Os veículos, segundo mostram imagens divulgadas pela ONU, foram enterrados por bulldozers na areia, junto com os corpos das pessoas assassinadas.
Jonathan Whittall, porta-voz do OCHA, que esteve no local durante as operações de recuperação dos corpos, confirma tudo isto, a campa coletiva e as ambulâncias enterradas com eles, junto com um veículo da própria ONU: “estivemos a desenterrá-los nos seus uniformes, estavam com as suas luvas. Estavam ali para salvar vidas”.
"Não podemos assistir à violação de direitos humanos e não fazer nada"
Mariana Mortágua reagiu esta quarta-feira às recentes declarações do ministro da Defesa de Israel para dizer que “não podemos continuar a assistir em direto à morte de dezenas de milhares de pessoas, de crianças, a uma invasão que viola todas as normas do direito internacional e não fazer nada”.
Esta inação é caracterizada como “uma falha do governo português que não reconhece sequer o Estado da Palestina”. Para além do reconhecimento, o Bloco de Esquerda defende a imposição de sanções a Israel e a garantia de que não se importem produtos “que vêm de territórios ilegalmente ocupados contra o direito internacional”.
“Esmagar e limpar Gaza”, disse hoje o Ministro da Defesa israelita. Bombardeiam civis, crianças e o direito internacional. Há dois meses, Rangel posava com um ministro do Estado genocida. Sanções, boicote e defesa da suspensão do acordo UE-Israel: é isto que Portugal deve fazer.
— Mariana Mortágua (@marianamortagua.bsky.social) April 2, 2025 at 10:11 AM
Acrescenta-se ainda que “é preciso, de uma vez por todas, acabar com o acordo de colaboração entre a União Europeia e Israel, um acordo que diz que não tem validade se os direitos humanos forem violado. E eu pergunto-vos quantos direitos humanos, quantas alíneas da Carta dos Direitos Humanos é que Israel está a violar todos os dias enquanto assassina crianças, enquanto bombardeia hospitais, enquanto mata funcionários da ONU em Gaza”.
A coordenadora do Bloco desafiou assim o governo em gestão a tomar posição sobre o genocídio de Gaza e sobre estas declarações, “em vez de vermos o ministro Paulo Rangel a ir reunir com representantes do governo israelita”.