AfD emprega mais de cem extremistas no Parlamento alemão

13 de março 2024 - 12:32

Investigação jornalística descobriu entre os assessores do grupo parlamentar vários elementos neonazis, identitários e conspiracionistas de grupos identificados pelos serviços de segurança estatal como extremistas de direita.

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Plenário do Parlamento alemão
Plenário do Parlamento alemão. Foto Bundestag.

O partido da extrema-direita alemã AfD conta com 78 deputados em 736 lugares no Bundestag. É a segunda maior bancada, com direito a receber mais de 30 milhões de euros em financiamento público. Mas não é claro quantos funcionários estão ao serviço dos deputados. Em fevereiro, a bancada divulgou o número de 182 assessores parlamentares, mas uma reportagem da rádio Bayerischer Rundfunk (BR) teve acesso aos registos internos do grupo parlamentar, com uma lista de mais de 500 pessoas ao serviço do grupo e dos seus deputados.

Nesta lista encontram-se mais de cem pessoas que integram organizações classificadas pelo Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) como extremistas de direita. Elas trabalham para cerca de metade dos deputados da AfD, incluindo os líderes do grupo parlamentar, Alice Weidel e Tino Chrupalla.

Entre os elementos extremistas com acesso livre aos edifícios do Parlamento alemão estão vários participantes em marchas neonazis em Chemnitz, Dresden, Magdeburg e Zwickau, pessoas ligadas ao grupo Reichsbürger (Cidadãos do Reich), que nega a existência de uma república federal e acredita que o atual estado alemão não passa de uma montagem administrativa das potências vencedoras da II Guerra que ainda ocupam o país. Em dezembro de 2022 a polícia alemã prendeu 25 membros deste grupo, que recruta membros entre militares e polícias, por planearem um ataque armado ao Bundestag.

Entre os assessores parlamentares da AfD há também elementos do grupo conspiracionista Querdenker, catapultado pelo negacionismo do coronavirus e que se destacou pelos ataques a jornalistas nas suas marchas contra as restrições impostas durante a pandemia. Também revigorado pela pandemia, o grupo preparacionista ou survivalista Endkampf (Luta Final) também tem elementos ao serviço do grupo parlamentar da AfD. Outros assessores foram responsáveis pela fundação de ramos locais do movimento islamofóbico Pegida e do grupo "Um por cento", que recolhe fundos para apoiar a defesa em tribunal de extremistas de direita ou iniciativas contra a imigração.

Além de dezenas de elementos destes movimentos e grupos da autoproclamada "Nova Direita", sucessora do nacional-socialismo, há também assessores que no passado foram expulsos ou obrigados a sair do partido, entre os quais o ex-líder da organização de juventude,  Marvin Neumann, ou Frank Pasemann, expulso da AfD e do grupo parlamentar em 2020 por comportamentos antissemistas que prejudicaram o partido. Apesar disso, continua ao serviço do deputado Jürgen Pohl. Outro elemento com ligações antigas aos neonazis é Mario Müller, que terá participado na reunião de Potsdam entre políticos da AfD e figuras destes movimentos, onde foi discutido um plano de deportações em massa caso o partido chegue ao poder. Na sequência da divulgação do encontro pela imprensa em janeiro, milhões de alemães saíram às ruas em protesto contra a extrema-direita.

Em reação à reportagem sobre a infiltração extremista no parlamento, a vice-presidente do Bundestag e deputada dos Verdes, Katrin Göring-Eckardt, afirmou à BR que os resultados da investigação são devastadores e não podem ser ignorados. A deputada defende que se deve abrir a discussão sobre se os inimigos da Constituição alemã devem continuar a ser pagos com dinheiro dos contribuintes para desenvolverem as suas atividades de destruição da democracia a partir de dentro dos seus órgãos representativos.

AfD tenta livrar-se da investigação por extremismo

A AfD tem estado na mira das autoridades alemãs há vários anos na sequência das investigações aos movimentos extremistas da direita que representam riscos de segurança para o Estado. Em 2021, a BfV deixou de considerar o partido como um "caso de interesse", que limitava os poderes de investigação a fontes abertas, colocando-a oficialmente sob investigação, o que lhe permite recrutar informadores e intercetar comunicações em algumas circunstâncias.

Esta semana tem lugar no Tribunal Administrativo Superior de Münster mais um capítulo da batalha judicial entre o partido da extrema-direita e as autoridades, com a AfD a contestar a monitorização de que tem sido alvo pela BfV.

Caso o tribunal contrarie a posição do partido, este pode vir a ser alvo de medidas ainda mais severas de vigilância, como já acontece aos seus ramos na Turíngia, Saxónia e Saxónia-Anhalt, classificados como "comprovadamente extremistas de direita".