Alemanha

Mariana Mortágua sublinhou que há sinais de esperança na campanha corajosa e no resultado eleitoral da esquerda alemã. No terceiro aniversário da invasão da Ucrânia, o Bloco defende que a UE deve ter autonomia estratégica e defender negociações sob a égide da ONU.

O partido da esquerda quase ficou à porta do Bundestag nas eleições de 2021. Nos anos seguintes tornou-se palco de uma guerra de fações e foi somando os seus piores resultados em eleições regionais. Mas nos últimos meses conseguiu inverter a trajetória até duplicar a votação este domingo.
 

Resultados finais confirmam derrocada do SPD e vitória da direita e extrema-direita. Partido da Esquerda quase duplica votação face a 2021, atingindo os 8,8% e abrindo caminho à oposição de esquerda.

À beira das eleições, as principais forças políticas negam o carácter estrutural da crise e não apresentam soluções convincentes. Não é de admirar a desilusão com a política ou o crescimento da extrema-direita, tal como se passou com o eleitorado dos EUA em 2024.

Romaric Godin

Em fevereiro de 1525, os camponeses da Alemanha revoltaram-se. Enquanto construíam um movimento de massas debaixo dos narizes dos senhores feudais, quando as autoridades lhes perguntavam o que estavam a fazer diziam que estavam a ir buscar bolos de entrudo. Esta revolta ainda é relevante atualmente.

Martin Empson 

Enquanto a AfD cresce nas sondagens, soube-se que os crimes cometidos pela extrema-direita naquele país aumentaram fortemente. Petra Pau, do Die Linke, considera que se trata de uma “tendência ascendente assustadora” e critica que “muito pouco se fez” ao longo dos últimos tempos para combater isto.

A CDU quer fechar as fronteiras alemãs e chama aos requerentes de asilo “bombas-relógio”. A apoiar a sua proposta estão liberais e o partido de Sahra Wagenknecht. De movimentos sociais ouve-se que são propostas contrárias aos direitos humanos. Só passarão com os votos da extrema-direita, o que coloca em causa o cordão sanitário que isolava até agora a AfD.

No ano passado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão definiu diretrizes para uma política externa “feminista”, centrada na defesa das mulheres marginalizadas. Hoje, em Gaza, este mesmo ministério está a armar a mais mortífera guerra contra mulheres e raparigas deste século.

Magdalena Berger

Há neste momento na Alemanha purgas de pessoas que estão política e ideologicamente desalinhadas com a ideia alemã do que deve ser um judeu e do que é Israel. E nem os judeus escapam delas. É o que nos contam o jornalista Martin Gak e o investigador Michael Sappir.

Nelson Pereira

Quando se aproxima o centenário da Escola de Artes e Ofícios Bauhaus, a extrema-direita volta a questioná-la, tal como o fizeram os nazis nos anos 1930, como parte da sua batalha cultural que visa um regresso ao conservadorismo mais reacionário.

Eduardo Lucita

O Governo da coligação semáforo - SPD, liberais e Verdes - encontrou o sinal vermelho na limite da dívida constitucionalizado de 0,35% e não conseguiu cumprir as suas promessas nem estancar a crise económica que se aprofunda no país.

Lukas Scholle

O anúncio dos despedimentos tinha sido na sexta. Esta segunda, avança com o corte no horário de trabalho e de salário. A filial portuguesa passou, em poucos dias, de garantir que não haveria despedimentos para dizer que “é muito cedo” para dar informações e que há “negociações” com os sindicatos.

O maior construtor automóvel europeu planeia fechar três fábricas na Alemanha, cortar 10% os salários e despedir em massa. Na quinta-feira, milhares de trabalhadores manifestaram-se. No dia a seguir, ficou decidido partir para a greve.

O desastre que a Volkswagen e os seus trabalhadores estão a viver atualmente é também o fracasso do modelo normalmente traduzido por “cogestão” - mas que significa mais literalmente “co-determinação” - que está no cerne do compromisso entre capital e trabalho na Alemanha. Os controlos e equilíbrios falharam e esta é uma lição para a esquerda ocidental.

Romaric Godin

Depois de a ministra dos Negócios Estrangeiros alemã dos Verdes ter justificado o massacre de civis palestinianos, o seu governo autorizou que o cargueiro Kathrin navegue com bandeira da Alemanha. 

Baerbock foi ao Parlamento alemão dizer que os civis palestinianos “perdem o estatuto protegido” só por Israel afirmar que escondem elementos do Hamas. Francesca Albanese diz que é uma forma de “justificar os massacres que Israel está a cometer em Gaza e noutros locais”.

O partido de Sahra Wagenknecht é o veículo de uma migração política para a direita que elimina qualquer vestígio do programa histórico do socialismo.

Jorge Costa

Todas as fronteiras internas alemãs passam a ter controlos fronteiriços, suspendendo a livre circulação de pessoas no espaço Schengen. Outros países europeus reclamam da medida. A extrema-direita europeia aplaude.

Novo fenómeno da política alemã após as recentes eleições regionais, Sahra Wagenknecht defende a aliança entre o conservadorismo em matéria social e uma política geralmente “de esquerda”. Mas o estudo do seu programa e das suas declarações torna este casamento mais que difícil.
 

Romaric Godin

Antes de sofrer duas pesadas derrotas eleitorais nas regionais da semana passada no leste do país, o chanceler alemão já tinha admitido que a posição do executivo sobre a guerra na Ucrânia o estava a penalizar nas urnas.