Em conferência de imprensa esta segunda-feira, Mariana Mortágua falou sobre o resultado as eleições alemãs deste domingo e o terceiro aniversário da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Sobre o primeiro tema, considerou que os resultados confirmam que há uma viragem à direita na Europa e que “a cedência à extrema-direita nos temas da extrema-direita só faz crescer a extrema-direita”. E, para a coordenadora bloquista, foi precisamente isso que sucedeu: “os principais partidos do centro foram cedendo ao discurso da extrema-direita e o único resultado” foi o crescimento da AfD na Alemanha, o que faz antecipar “tempos difíceis para a democracia europeia”.
Noutro sentido, há também sinais de esperança. Neste caso, o facto de a esquerda, nomeadamente o partido Die Linke, ter duplicado os seus votos, “sendo hoje uma força importante da resistência à extrema-direita”. Isto sucedeu porque “teve uma campanha muito corajosa sobre temas em que todos os outros vacilaram”, nomeadamente sobre a Palestina, “em que não cedeu o direito dos palestinianos à sua soberania, à sua autonomia e na condenação do genocídio por parte do Estado de Israel”, e sobre a imigração, “em que não aceitou ceder ao discurso xenófobo da extrema-direita quando os principais partidos do centro o faziam”.
Este partido da esquerda alemã também colocou no centro das suas preocupações o custo de vida e as desigualdades, tendo feito importantes campanhas de justiça fiscal, de tributação dos super ricos e de proteção das pessoas no seu salário e no aumento do custo de vida.
“Europa abdicou de ter palavra própria”
Sobre a Ucrânia, Mariana Mortágua vincou que “a eleição de Trump e a forma como Trump tem estado no debate público alterou as condições do cenário internacional”, ficando a União Europeia “completamente paralisada”, tal como o ficou o Governo Português. Isto apesar de Trump ter sempre “dito ao que vinha”.
Executivo nacional e UE ficaram “sem saber o que fazer perante a catadupa de declarações da presidência norte-americana contra a União Europeia que, na prática, o que procura é dividir o território ucraniano com Putin”. Para Mariana Mortágua, Trump “foi muito claro quanto aos seus objetivos” estando a disputar as “chamadas terras raras que têm os minérios que são necessários para a sua disputa tecnológica e económica do mundo”.
A situação é portanto de “total dependência dos interesses estratégicos dos Estados Unidos da América” e de “incapacidade de ter uma política autónoma para poder garantir a paz na Ucrânia. A porta-voz do Bloco considera que a UE “abdicou de ter uma política de paz” e “ter uma palavra própria”.
Pelo contrário, o Bloco defende que a União Europeia “tem de ter um papel de autonomia estratégica e isso quer dizer que quem trará a paz à Ucrânia não é nem Trump, nem a NATO, nem Putin, quem trará paz à Ucrânia são as negociações que devem acontecer sob a égide e patrocínio da ONU”.
É esta a instância, defende, que “tem a legitimidade, o poder e a responsabilidade internacional de poder negociar a paz entre a Ucrânia e a Rússia”. A União Europeia deve assim trabalhar para neste sentido.