Sudão: tragédia na periferia do capitalismo

03 de junho 2023 - 22:36

Há cinco anos, uma revolução pacífica cercou os quartéis, mas não foi capaz de tomar o poder. Agora, chefes militares de um regime oligárquico guerreiam nas ruas, depois de perder o petróleo do Sul e de esmagar a revolta na região do Darfur. Por Alex de Waal.

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Cartum vista do Hotel Corintia
Cartum. Foto de Christopher Michel/Flickr

A capital do Sudão, Cartum, está a ser destruída numa luta mortal entre dois generais corruptos e brutais. Esta é uma guerra anunciada; permitir que acontecesse foi um fracasso da diplomacia internacional. Mas se examinarmos os duzentos anos de história da cidade, o conflito não dever ser visto como uma surpresa. Cartum foi fundada como um posto de comando construído para fins de saque imperial – e todos os regimes subsequentes continuaram esta prática. Em circunstâncias normais, o Sudão é governado por uma casta de comerciantes e generais que saqueiam as pessoas de pele mais escura das terras altas e levam a sua riqueza para Cartum, uma cidade relativamente opulenta e um paraíso de tranquilidade. Mas a lógica da cleptocracia é inexorável: quando o cartel vai à falência, os mafiosos entram em disputa. Vimos isso na Libéria e na Somália há trinta anos. O saque do Estado sudanês hoje é dez vezes maior.

Cartum foi fundada em 1821 na junção dos dois Nilos – o Nilo Branco, que nasce na África Equatorial, e o Nilo Azul, de fluxo rápido, que provoca inundações sazonais das terras altas da Etiópia. No ponto onde os rios convergem, bem em frente ao moderno prédio do Parlamento, e por alguns quilómetros rio abaixo, as águas castanho-claras e azuis correm uma paralela à outra, sem se misturarem. O local foi escolhido por Ismail Kamil ‘Pasha’, filho de Muhammad Ali, quediva [príncipe] do Egito, que despachou um exército para conquistar o que hoje é o Sudão. Ele também autorizou um bando multinacional de bandoleiros a vaguear por onde quisessem, desde que o Cairo compartilhasse os lucros. Durante seis décadas, Cartum foi um posto avançado do voraz capitalismo de fronteira do século XIX: um entreposto comercial e de escravos para a devastação do Vale do Alto Nilo.

As presas de elefante eram procuradas para as teclas de piano e os próprios elefantes eram exportados – entre eles Jumbo, que foi enviado para o Zoológico de Londres e depois vendido para o circo de Barnum e Bailey nos Estados Unidos. Os mercadores e saqueadores de Cartum faziam incursões em busca de escravos, ou dividiam para reinar entre as tribos das florestas e pântanos do sul, comprando cativos para as suas próprias plantações ao longo do rio ou para serem vendidos ao Egito. Até hoje, os sudaneses têm um léxico de cor de pele, de vermelho e castanho, passando por verde e amarelo até ao “azul” – o povo mais escuro do sul, ainda chamado rotineiramente de abid, que significa “escravos”. Os sudaneses do sul foram retratados como primitivos sem contacto pelos antropólogos da era colonial, mas foram arrastados para a ordem capitalista imperial. O principal senhor da guerra era Zubeir Rahma, um comerciante e traficante de escravos do norte do Sudão, que estabeleceu uma série de fortes no sul do país e depois liderou o seu exército privado contra o vasto sultanato ocidental de Darfur em 1874. A sua ambição de se tornar governante do que era então o domínio mais rico na orla do Saara foi frustrado quando o quediva, alarmado com a sua ascensão à proeminência, o deteve no Cairo.

Cartum foi arrasada pela última vez em 1885. O exército do líder milenar sudanês, Mohamed Ahmed “al Mahdi”, invadiu o quartel de tropas egípcias sitiadas, comandadas pelo general Gordon, massacrou os moradores famintos e saqueou a cidade. Mahdi, que nasceu numa família de construtores de barcos no Nilo, estabeleceu uma nova capital em Omdurman, na margem oposta do rio. Agora é a cidade gémea de Cartum. O seu lugar-tenente, Khalifa Abdullahi al-Taaishi, que veio de uma tribo nómada do Darfur, mobilizou os exércitos de massa da causa Mahdista, com o seu uniforme de túnicas remendadas, usado pelos mendigos errantes. Ele emergiu da turbulência e do derramamento de sangue que se seguiram ao colapso do sultanato de Darfur. Quando Mahdi morreu alguns meses depois, o khalifa – a palavra significa “sucessor” – assumiu o comando. Os treze anos seguintes, de despotismo darfuriano governado a partir de Omdurman pelos homens armados do khalifa, até hoje são lembrados pelos povos do Nilo.

Mas em 1898, as metralhadoras Gatling do general Kitchener massacraram as forças mahdistas na planície de Karari, perto de Omdurman. Kitchener ordenou que uma nova cidade fosse construída sobre as ruínas de Cartum. O seu plano assemelha-se a uma bandeira do Reino Unido, com avenidas paralelas à margem do Nilo Azul. Entre os grandes edifícios com colunas havia um palácio em estilo otomano, um ministério das Finanças onde os secretários coloniais arrecadavam receitas com impostos e exportações de algodão – a escravatura já não era uma opção – e o Gordon Memorial College, uma escola para rapazes. Um pioneiro liberal chamado Babiker Badri montou a primeira escola para raparigas em 1907. Mais abaixo na orla havia quartéis para o exército britânico, mais tarde usados ​​como dormitórios para a Universidade de Cartum, os grafitis de soldados coloniais saudosos ainda estão legíveis na alvenaria. O Quartel-General do exército sudanês mudou-se para uma fileira faraónica de blocos de torres com janelas escuras, ao lado do aeroporto. Hoje tudo isto é uma zona de batalha.

Cartum foi durante muito tempo uma cidade acolhedora e cortês, na qual os membros do establishment socializavam em casamentos e festivais, deixando de lado as ferozes diferenças políticas. As suas milícias podiam estar a cometer atrocidades em aldeias remotas, mas assassinato e descortesia entre as elites estavam fora do permitido. Os sudaneses chamam essas pessoas de “a comunidade do Estado”: mais ou menos o enclave educado e de rendimento médio de Cartum e seus arredores. Ao longo de 65 anos de independência, os ditadores militares alternados e os regimes parlamentares discordaram na maioria das coisas, exceto em manter a sua cidade como uma ilha de civilidade e a imagem do Estado-nação que esperavam criar. O primeiro governo independente mudou os nomes das ruas de Cartum. Paralelamente à Avenida da República, uma rua estreita liga o quartel-general do exército ao mercado central e ao Hotel Acropole, o preferido dos visitantes arqueólogos e trabalhadores humanitários. Alheios ou indiferentes à mensagem que isso transmitia aos que estavam além dos limites da cidade, eles chamavam-lhe Rua Zubeir Pasha, em homenagem ao comerciante de escravos Zubeir Rahma.

Cartum é responsável por mais da metade da economia do Sudão. A um dia de carro da cidade fica o modestamente próspero “país em miniatura”: a única propriedade imobiliária, segundo o ex-ministro islamita das Finanças, Abdel Rahim Hamdi, no qual vale a pena investir. O resto do país é um deserto social e económico, devastado pelos herdeiros de Zubeir. Na década de 1970, a marxista sudanesa Fatima Babiker Mahmoud explicou como a classe mercantil do país colheu imensos lucros nas províncias e os despejou em Cartum. Para onde o capital se move, as pessoas seguem-no. A cidade já tinha triplicado de tamanho em vinte anos, para uma população de cerca de um milhão, quando Fatima publicou The Sudanese Bourgeoisie: Vanguard of Development? em 1984. A população da grande Cartum é agora de cerca de sete milhões.

As Forças Armadas Sudanesas (SAF) – o exército do governo, que agora luta pela sua sobrevivência contra as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares – são também o país em miniatura. O colégio militar colonial foi construído perto de Karari, local da última resistência dos mahdistas contra os britânicos: há um monumento aos 22 lanceiros que morreram na última carga de cavalaria do exército britânico, mas nenhum para os 11.000 mahdistas abatidos a tiros de metralhadora. Karari é agora o local da base aérea de Wadi Sayidna, de onde os estrangeiros foram transportados de avião para a segurança. O principal aeroporto, no centro da cidade, tornou-se uma zona de batalha. O exército colonial incluía um corpo de camelos, o batalhão Equatoria, criado a partir de etnias do sul e batizado com o nome da região – na tradição da escravatura militar –, bem como um quadro de oficiais selecionados a partir elite social das cidades ao longo do Nilo.

Na independência, os descendentes desses oficiais viam-se como os guardiões da nação. Os líderes dos golpes do Sudão – três bem-sucedidos e treze fracassados ​​nos primeiros vinte anos de independência – incluíram conservadores, nasseristas, comunistas e islâmicos. Em algumas ocasiões em que suboficiais das periferias tentaram tomar o poder, as suas tentativas foram denunciadas como “racistas” pelos seus superiores de pele mais clara. Várias tentativas de golpe chegaram perto de desencadear uma guerra civil na capital. Quando os islâmicos tomaram o poder num golpe sem derramamento de sangue em 1989, eles desconfiaram da política do exército, bem como de seu esprit de corps de bebedores contumazes, e criaram as Forças de Defesa Popular como contrapeso. Dez anos depois, em 1999, o movimento islâmico dividiu-se, levantando temores de confrontos armados em Cartum, mas em vez disso as disputas de poder intra-islâmicas deslocaram-se para Darfur.

Cartum travou guerras no sul do país entre 1955 e 1972 e novamente entre 1983 e 2004; esses conflitos também permitiram a extorsão por oficiais do exército e comerciantes. As guerras finalmente terminaram com um acordo de paz em 2005, após o qual o Sudão do Sul optou pela secessão, num plebiscito há doze anos. Com ele foi-se a maior parte dos campos petrolíferos e a receita na qual os comerciantes de Cartum se tornaram viciados. Por essa altura, o Darfur também se tinha rebelado, após décadas de negligência durante as quais foi explorado por Cartum como uma espécie de bantustão para mão-de-obra migrante barata. Os generais de Cartum patrocinaram uma contra-insurgência barata, reunindo as tribos árabes no oeste e autorizando-as a repetir em Darfur a pilhagem, o estupro e a fome que haviam sido usados ​​contra o sul. Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como “Hemedti”, ou “pequeno Mohamed” pelo seu comportamento juvenil, estava entre os mais capazes dos comandantes juniores desta milícia, denominada Janjaweed. A sua ousadia no campo de batalha, o seu relacionamento familiar com as suas tropas e a sua perspicácia nos negócios chamaram a atenção do presidente Bashir.

Mas Hemedti não foi conquistado de forma barata. Em 2008, irritado com a maneira como ele e os seus homens foram usados ​​para o trabalho sujo no Darfur e depois deixados de lado com meses de salários não pagos, retirou-se para o mato e jurou lutar contra Bashir “até ao dia do Juízo”. Ele tomou emprestada a sua retórica dos rebeldes de Darfur, contra os quais tinha lutado, e de ex-milícias descontentes que se auto-denominavam “os soldados esquecidos”. Alguns meses depois, Cartum ofereceu-lhe um acordo – dinheiro, promoção, empregos para os seus parentes – e ele voltou ao redil. Dinheiro e tiroteios são moedas intercambiáveis ​​no mercado político do Sudão, e Hemedti negocia com ambos. Em 2013, seis anos antes de ser derrubado, Bashir rejeitou as objeções do seu chefe de gabinete do exército e formalizou o papel do Janjaweed como a milícia paramilitar oficial do Estado, a ser conhecida como Forças de Apoio Rápido (RFS, na sigla em inglês). Ele concedeu o posto de general a Hemedti – cujo único treino tinha sido o campo de batalha – e deu-lhe uma linha direta com o gabinete presidencial. À medida que os protestos de rua aumentavam em dezembro de 2018 e o regime de Bashir começava a balançar, ele convocou as unidades de Hemedti para a capital como sua força de proteção pessoal. Deveria ter avaliado melhor.

A RSF é agora uma empresa mercenária transnacional privada que alugou os seus serviços aos monarcas do Golfo para lutar no Iémen e tem negócios com o Grupo Wagner e com Khalifa Haftar, comandante do Exército Nacional da Líbia. É uma operação de mineração e comércio de ouro e o exército do império comercial em constante expansão de Hemedti. Se nos próximos meses Hemedti e o RSF prevalecerem na batalha por Cartum, o Estado sudanês tornar-se-á uma filial desta empresa transnacional. Hemedti não é da bem-educada “comunidade do Estado” de Cartum. E não devemos ser enganados pela sua identidade como um “árabe” – há uma vasta divisão social entre as elites metropolitanas sudanesas, cujo arabismo mira o Egito, e as comunidades beduínas do Saara. Ele e os seus homens são temidos e ridicularizados como bandidos analfabetos e mal-falantes. É verdade que os principais comandantes do RSF são do próprio clã árabe Mahariya de Hemedti, mas os soldados rasos são de várias tribos, unidos na sua convicção de que foram privados dos espólios do Estado. Como os sudaneses do sul, que votaram pela secessão, eles são súbditos enfurecidos do império sudanês.

Há quatro anos, as ruas de Cartum foram palco de uma revolução cívica não violenta. Foi um intervalo extraordinário: a política sudanesa normal foi suspensa; um acampamento de cidadãos livres cresceu em torno do quartel-general do exército – a cidadela dos seus opressores. Pintaram-se murais de libertação nas paredes e cantaram-se louvores a jovens oficiais do exército que romperam as fileiras e ficaram com o povo. Esses ativistas não tinham nem as habilidades nem a capacidade de articulação política necessárias para levar a sua revolução até o fim. Os doadores estrangeiros, que achavam mais fácil lidar com homens uniformizados e não percebiam a urgência de suspender as sanções, aliviar a dívida e socorrer a economia em colapso, não os favoreciam. Ao mesmo tempo, uma revolução paralela se desenvolvia: uma invasão furtiva de paramilitares da província. Ao longo de muitos anos, uma sucessão de radicais armados de todos os cantos do Sudão esperou libertar o país da sua história imperial. O mais proeminente foi John Garang, soldado dissidente, fundador e líder do Movimento de Libertação do Povo do Sudão. Após a morte de Garang em 2005, não havia ninguém da sua estatura para defender que um novo Sudão, transformado para beneficiar os historicamente oprimidos, era essencial. Hemedti entrou neste vazio revolucionário ao trazer as queixas de Darfur para Cartum e o seu toque populista a um palco maior. O establishment foi incapaz de resistir porque se tinha tornado muito corrupto.

Há um fio que possamos traçar até à era pós-independência para chegar a uma explicação sobre o que está a acontecer em Cartum agora? Não há dúvida de que as sucessivas experimentações de modernidade foram sufocadas pelo capitalismo de compadrio, informações privilegiadas, vantagens para os bem relacionados, um emaranhado de tráfico ilícito e artifícios contra anos de sanções impostas por insistência de Washington.

Durante a década de 1970 – a “década do desenvolvimento” do Sudão – o Banco Mundial e os fundos de investimento árabes despejaram dinheiro no país, mas quando os pagamentos da dívida venceram, o ministro das Finanças descobriu que não havia uma conta central do que tinha sido emprestado — de quem, para quê, ou o que acontecera ao dinheiro. Na década de 1990, o governo de Bashir imaginou um caminho para a modernidade islâmica, mas não conseguiu obter empréstimos nos mercados internacionais e, em vez disso, começou a exportar petróleo. Esses lucros caídos do céu sorte também não são contabilizados, mas a trama pode ser lida nas reluzentes torres de escritórios de corporações islâmicas conectadas à segurança – o que os sudaneses chamam de “Estado profundo”, embora não haja nada de discreto nelas.

O regime de Bashir construiu vastas barragens no Nilo, inundando aldeias milenares e gerando pouca eletricidade. A sua principal função era facilitar suborno para o partido no poder, o que colocou milhões de sudaneses na folha de pagamento do Estado, sem pensar no descontentamento que se seguiria quando o Sudão do Sul optasse pela independência e a torneira do petróleo fosse fechada.

As terras agrícolas eram baratas, os trabalhadores ainda mais, especialmente onde as aldeias tinham sido demolidas para fazer explorações agrícolas comerciais ou incendiadas por milicianos. As árvores foram derrubadas, o solo cultivado por trabalhadores que recebiam uma ninharia para trabalhar na terra que tinha sido sua. Grande parte da cultura principal, o sorgo, é agora exportada para alimentação animal. Durante anos, o Sudão contou com uma exploração cada vez mais implacável da terra e da mão-de-obra, bem como de importação de combustível e maquinaria. Grande parte da sua escassa moeda estrangeira é usada para importar trigo para as pessoas abastadas nas cidades – até recentemente, o produto era fortemente subsidiado. Esta é uma das economias alimentares mais disfuncionais do mundo, agora à beira do colapso.

Capacidades políticas excecionais eram necessárias para manter os chefes islamitas da segurança e do exército, voláteis e rivais, sob controle. Bashir era famoso por saber de cor quem era quem de entre os oficiais do exército, os chefes tribais e os operadores do partido e os seus familiares. Administrou tudo isso durante quase trinta anos. A cabala que o derrubou não confiava no seu sucessor mais capaz – o chefe da segurança, Salah Abdallah Gosh – e montou um instável sistema de duas cabeças. Hemedti, o principal partidário do parricídio, era visto como uma figura muito polarizadora para assumir o cargo principal. Por isso, foi nomeado vice de um obscuro oficial do exército, Abdel Fattah al-Burhan, escolhido para liderar a coligação militar e servir como presidente do Conselho de Soberania, ou presidente de facto.

As deficiências de al-Burhan não se limitam à sua maneira desajeitada de falar em público. Ao contrário de Hemedti, ou antes dele Bashir, não tem a sua própria fonte de dinheiro para lubrificar acordos políticos e foi forçado a pechinchar aos capitalistas militares e comparsas da velha guarda para tomar decisões importantes. Mas a falha fatal no complexo militar-comercial de Cartum é que os cleptocratas terceirizaram a sua luta. O exército é principalmente uma máquina para enganar o público e fazer desfiles impressionantes de tanques e aeronaves, enquanto o combate real é travado por milícias alugadas conduzindo SUVs Landcruiser personalizados. Hemedti entendeu isso melhor do que os graduados da academia militar, que semearam o vento em Darfur e agora estão a colher a tempestade na batalha por Cartum.

Aqueles entre nós que viveram e trabalharam no Sudão durante décadas foram inspirados pelo levantamento civil e passaram a confiar nos seus defensores sem liderança central, muitos deles mulheres. Muitas vezes mordi os lábios, por não querer diminuir o otimismo dos ativistas pela democracia. O pior já aconteceu. Hemedti tomou como reféns as famílias dos membros do SAF e poucos duvidam que ele tenha qualquer escrúpulo em assassiná-las. Generais das SAF e islâmicos da velha guarda ameaçam abertamente matar Hemedti e aqueles que tenham colaborado com ele. Os combatentes de Hemedti saqueiam casas e lojas, enquanto os caças a jato de al-Burhan os bombardeiam do ar. Agora que a maioria dos estrangeiros deixou o país, abastecimentos e reforços para ambas as partes estão chegando; a batalha está fadada a aumentar. Esta é a revolução que ninguém queria.


Alexander William Lowndes de Waal é um investigador britânico da política das elites africana. É diretor executivo da World Peace Foundation na Fletcher School of Law and Diplomacy da Tufts University.

Texto originalmente publicado na London Review of Books. Traduzido por Antonio Martins para o Outras Palavras. Editado para português de Portugal pelo Esquerda.net.