Lisboa

SOS Racismo repudia desresponsabilização de autarca de Arroios sobre migrantes a viver em tendas

25 de setembro 2024 - 21:24

Presidente da Junta de Freguesia de Arroios culpa associações pela situação de migrantes a viver em tendas na Igreja dos Anjos. SOS Racismo fala em "ausência de respostas efetivas por parte das instituições".

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Madalena Natividade
Madalena Natividade. Fotografia via Facebook de Junta de Freguesia de Arroios

O SOS Racismo expressou na passada terça-feira o seu total repúdio pelas declarações prestadas pela presidente da Junta de Freguesia de Arroios, que atribuiu a responsabilidade da situação dos migrantes abrigados em tendas perto da Igreja dos Anjos, em Lisboa, às associações não-governamentais que operam em Lisboa.

O executivo da coligação Novos Tempos liderado por Madalena Natividade não arranjou solução para os problemas daquela população imigrante. Em nota de imprensa, o SOS Racismo explica que “as condições deploráveis” dos migrantes que ali residem “se devem à total ausência de respostas efetivas por parte das instituições e entidades que deviam garantir condições dignas a quem foi obrigado a sair do seu país, e veio para Portugal à procura de trabalho e de uma vida melhor”.

Mas Madalena Natividade, que interveio no telejornal da SIC Notícias este domingo a seguir à ativista do SOS Racismo que tem prestado apoio aos migrantes naquela área, desresponsabilizou a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal, culpando as associações que estão no terreno. “Existem em Lisboa cerca de 32 associações, nomeadamente esta que acabou de falar, que têm como missão dar resposta às pessoas sem-abrigo e que estão há vários anos com a responsabilidade de também ajudar na resolução desta problemática. E o resultado do trabalho do que têm feito é este”, disse.

Mas enquanto a Junta de Freguesia vai passando as culpas para outras entidades, a situação nos Anjos piora. Os migrantes que ali vivem não têm uma fonte de água potável a funcionar e as instalações sanitárias fecham às 16h durante os dias de semana e aos fins-de-semana. A única refeição quente diária é garantida através do apoio de ativistas de várias organizações.

“Bem pode Madalena Natividade tentar varrer a responsabilidade para debaixo do tapete, os factos são indesmentíveis”, afirma o SOS Racismo. “Não é da responsabilidade das associações dar resposta a esta situação, mas são os ativistas sociais que se empenham diariamente no apoio a quem se vê obrigado a viver em condições desumanas”.

O SOS Racismo considerou que a situação que se vive na Igreja dos Anjos é uma manifestação de xenofobia.

Ao Esquerda, Mariana Carneiro, que tinha falado na SIC Notícias em representação do SOS Racismo, disse que o executivo da Junta insiste em atacar "os ativistas que, no terreno, acabam por tentar atenuar as consequências desastrosas das políticas migratórias do Governo e camarárias".

A ativista lembra que "é a falência das nossas instituições, quer a nível do Governo, da autarquia lisboeta, quer a nível do executivo da freguesia de Lisboa, que perpetuam esta situação indigna e vergonhosa" e que "o ataque aos migrantes dos Anjos é um ataque a todos e todas nós, aos direitos humanos, e a ameaça velada da representante da Junta de Freguesia no final das suas declarações é totalmente inaceitável e repudiável."