Dos cerca de 130 migrantes oriundos do Senegal, Gâmbia, Mauritânia, Timor e outros países que este ano dormiram em tendas junto à igreja dos Anjos, em Lisboa, resta agora cerca de metade a pernoitar ali. Mas não por terem visto cumpridas as promessas de acolhimento de emergência das autoridades competentes.
Em abril houve uma operação policial que acrescentou a tenda da proteção civil às que já circundavam a igreja. E já nessa altura se ouviram promessas de alojamento urgente para acabar com aquela situação indigna. e no início de junho, já em plena campanha eleitoral para as eleições europeias, o Governo anunciou o seu Plano de Ação para as Migrações, com o ministro Leitão Amaro a prometer que “muito em breve” abriria em Lisboa um centro de acolhimento com capacidade para 200 pessoas para responder à emergência do aumento do número de cidadãos estrangeiros a viver nas ruas de Lisboa.
O espaço escolhido, soube-se dias depois, era o antigo Hospital Militar de Belém, na zona da Boa Hora. No mês seguinte o Expresso questionou o Ministério da Defesa e o gabinete de Nuno Melo respondeu que “no imediato” Governo e Câmara Municipal iriam assinar um “protocolo com vista à cedência temporária do Hospital Militar para acolhimento de cidadãos estrangeiros em situação de sem-abrigo”.
Passados três meses da promessa, não há acolhimento e nem sequer protocolo. Em declarações feitas este domingo à SIC-Notícias, uma ativista do SOS Racismo que acompanha os imigrantes na Igreja dos Anjos confirma que esta “não é uma situação de três meses, há pessoas que começaram a dormir aqui há nove meses. E não é há três meses que temos tido promessas de alojamento, na operação policial em abril já tinham sido feitas, nomeadamente pela vereadora Sofia Athayde”.
Mas até agora, acrescenta Mariana Carneiro, “não houve respostas para alojamento nem outro tipo de respostas. Em relação à alimentação é a auto-organização que responde com uma refeição quente por dia, são eles que cozinham para si próprios. As casas de banho aqui junto à igreja fecham às quatro da tarde e aos fins de semana, o ponto de água potável não funciona apesar dos nossos repetidos pedidos, isto são condições indignas”.
Felizmente, relata a ativista, muitos destes imigrantes já conseguiram sair desta situação, muito “graças ao esforço de ativistas e coletivos, e não das autoridades que tinham a responsabilidade de resolver a situação”. Mas sobretudo porque eles próprios “são um exemplo de resiliência, que têm procurado com todos os esforços começar a trabalhar”.
Mariana Carneiro lembra que também foram as associações que conseguiram acelerar os processos de concessão de documentos e entrevistas na AIMA para as pessoas que pernoitaram durante meses à volta da E conclui que “não há argumento que impeça as autoridades de conseguir uma resposta de alojamento para elas e, no imediato, condições mais dignas. Até porque “eles ensinam-nos o que é a resiliência e o esforço de integração neste país e nós devemos responder à altura num estado de direito democrático”.