A operação arrancou ao início da manhã de quinta-feira junto ao aglomerado de dezenas de tendas montadas à volta da igreja dos Anjos, em Lisboa. Ali têm pernoitado nos últimos anos grupos de imigrantes vindos de Timor, Senegal, Gâmbia e outros países. Agentes da PSP, funcionários da Câmara de Lisboa e da Agência para Integração, Migrações e Asilo (que substituiu o SEF) começaram a identificar as pessoas presentes.
A vereadora Sofia Athayde, do executivo de Carlos Moedas, disse aos jornalistas que a autarquia daria ajuda a todos e que "estas pessoas precisam de ter uma resposta digna”. Paulo Paulo Santos, coordenador do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem Abrigo (NPISA) de Lisboa, também citado pelo Público, garantia que ninguém seria expulso do local mas que poderia haver encaminhamentos para outros sítios.
Mas para Mariana Caneiro, ativista da SOS Racismo e Solidariedade Imigrante que tem acompanhado a situação e as pessoas que pernoitam no local desde há alguns anos, não restam dúvidas de que “esta é uma acção para tentar que as pessoas saiam daqui” e já não é a primeira vez que testemunha ações semelhantes. Mariana conta que o grupo de senegaleses e gambianos já viram pedidos de asilo recusados pela AIMA, pelo que não acredita nas boas intenções anunciadas pelos funcionários ali presentes. "Apesar dos intuitos da PSP, sabemos que a tentativa da AIMA não tem sido de regularização dessas pessoas” e a intervenção desta quinta-feira serve para “preparar o terreno para as pessoas saírem daqui.”
Para esta ativista, “ilegal é a forma como continuamos a tratar os imigrantes em Portugal. Vamos estar atentos e saber que respostas vão ser dadas a estas pessoas. Esperamos que não seja mudar de quarteirão ou querer que entrem em carrinhas sem saber qual o destino e sem acompanhamento. Não pensem que estas pessoas podem ser varridas como lixo”, alertou, garantindo que “não há base nenhuma para expulsar estas pessoas”.
Também Vasco Barata, deputado municipal do Bloco, criticou a ação do executivo de Carlos Moedas, considerando-a "uma operação que se resume à criminalização da pobreza e à estigmatização de quem já é mais vulnerável".
"A PSP substituiu-se à AIMA e identificou pessoas em situação de sem abrigo, estando ainda por apurar quais os verdadeiros motivos desta ação. Depois de encerrar um centro de acolhimento, transferindo-o para instalações sem condições, esta atuação concretiza uma visão de cidade para as elites", concluiu o deputado municipal bloquista.
No local esteve também um grupo de advogadas de ONG a dar apoio aos imigrantes, analisando as notificações recebidas no caso dos pedidos recusados e ajudando a redigir contestações.