Projeto Global contra o Ódio e o Extremismo aponta grupos ativos em Portugal

27 de junho 2023 - 22:25

A organização norte-americana publicou um relatório com o perfil de 13 grupos da extrema-direita portuguesa, incluindo o Chega.

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saudação nazi
Fotografia de Tuomas Saloniemi/Flickr.

O Projeto Global contra o Ódio e o Extremismo (GPAHE) foi fundado por veteranos do movimento dos direitos civis dos EUA para ajudar a travar o ódio e o extremismo dos movimentos da extrema-direita, em especial da atividade que é “exportada” dos EUA para outros países.

No relatório publicado esta segunda-feira, é feito um historial das raízes da extrema-direita portuguesa desde a I República até aos dias de hoje. Quanto aos treze grupos ativos hoje em dia e identificados neste relatório, refere que a maioria são “anti-imigração, nacionalistas brancos ou ambos” e “os quatro grupos anti-LGBTQ+ também são anti-imigração, mostrando a tendência vista noutros lugares do mundo de grupos de extrema-direita a expandir os alvos dos seus esforços de ódio e extremismo e a explorar o receio público sobre eventos Pride e Drag que acontecem em todo o Ocidente”.

O relatório também identifica grupos neonazis, antissemitas, antimulher e anticiganos, bem como conspiracionistas, alguns dos quais começaram em resposta às medidas de saúde durante a pandemia da covid-19.

“O fervor nacionalista branco e anti-imigração entre os grupos de extrema-direita em Portugal é muito preocupante”, disse a cofundadora do GPAHE, Wendy Via. “Especialmente quando partidos políticos e grupos radicais estão a espalhar o mesmo ódio”.

O partido Chega é acusado de “envenenar o discurso nacional com uma retórica racista, anti-LGBTQ+, anti-imigração e anticigana” e a sua rápida ascensão “é um aviso de que nenhum país é verdadeiramente imune a forças exclusivistas, demagógicas, e que até mesmo minúsculos partidos de extrema-direita podem expandir rapidamente a sua base de apoio”, diz o GPAHE.

A influência internacional nos grupos portugueses é bem vincada e um exemplo da transnacionalidade destes movimentos. “Por exemplo, a extrema-direita portuguesa bebe dos movimentos neofascistas franceses (Movimento Social Nacionalista), neofascistas italianos (Escudo Identitário/Força Nova), identitários franceses (Portugueses Primeiro/Escudo Identitário) e até supremacistas brancos americanos (Proud Boys Portugal). E a teoria da conspiração da “Grande Substituição”, comum entre grupos de extrema-direita na Europa e nos EUA, “também se apoderou de partes da extrema-direita portuguesa, com mais de metade dos grupos a divulgarem esta perigosa mentira”.

Os 13 grupos identificados pelo GPAHE são o Active Club Portugal, Alternativa Democrática Nacional (ADN), Associação Portugueses Primeiro, Blood and Honour (B&H) Portugal, Chega!, Chega Juventude,  Habeas Corpus, Ergue-Te/Partido Nacional Renovador (PNR), Escudo Identitário, Força Nova, Movimento Social Nacionalista, Portugal Hammerskins e Proud Boys Portugal. Ficaram excluídos grupos com presença exclusivamente online e outros grupos recém-formados ou que “passaram à clandestinidade para evitar ações do Estado”.

O relatório cita ainda o memorando do Comissário do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, que em 2021 afirmou que “o racismo na polícia continua a ser uma questão de profunda preocupação”, bem como o nível “alarmantemente alto” de violência em Portugal contra as mulheres, principalmente sob a forma de violência doméstica e agressão sexual, ou o aumento de “crimes de ódio motivados racialmente e discurso de ódio” contra pessoas de ascendência africana. O assédio à associação SOS Racismo e ao seu dirigente Mamadou Ba por parte da extrema-direita e de skinheads nazis é também referido.