Colocarei brevemente três questões (intervenção na Convenção do Bloco de Esquerda – 27 de maio de 2023):
1ª Existe um perigo real da extrema direita fascizante em Portugal?
A meu ver existe. A extrema direita, como no passado o fascismo canónico, cavalga os destroços das políticas antissociais do capitalismo neoliberal e o seu rasto de pobreza e impiedade. Manipula o medo e a raiva gerados pelo desemprego e a precariedade, pela queda real dos salários com a inflação, pelo risco de ficar sem casa, pelo colapso do SNS. Uma crise social fruto da rendição da maioria absoluta do PS instalada no governo face à onda destruidora do capital financeiro que atinge o mundo do trabalho e largo setores das classes intermédias. É bem certo que a extrema direita não só não pretende alterar em nada esta situação, como se propõe agravá-la. Na realidade, ela representa a vanguarda caceteira da brutalidade e da violência neoliberal. Mas o seu estardalhaço demagógico, a arruaça e a mentira encontram eco na situação desesperada de alguma gente.
2ª É possível então combater o perigo da extrema direita aceitando a governação do PS ?
Na minha opinião não é possível, porque são os efeitos da política da maioria absoluta do PS que alimentam a extrema direita. O combate eficaz ao seu avanço passa pela defesa de medidas justas que respondam à aflição das pessoas e à degradação das suas condições de vida. Passa por secar o pântano onde se alimenta a demagogia fascizante. Mas isso significa uma oposição frontal à estratégia do PS de normalizar a violência neoliberal aspergindo-a com água benta e algumas esmolas pontuais. Aceitar a velha chantagem de que a oposição de esquerda à política arrogante e capituladora do governo do PS significa abrir a porta à direita e à extrema direita, significa amarrar sem esperança qualquer alternativa emancipatória ao carro do bloco central de interesses que, rendido ao poder oligárquico, esse sim, franqueia o passo ao trauliteirismo racista, homofóbico, predador e fascizante.
3ª Então o que fazer?
Sejamos claros: Devemos estar na luta e ousar vencer. Desde logo, na luta ideológica contra o modelo de sociedade e de Estado que o capitalismo neoliberal especulador e predatório nos procura impor como destino. Mas simultaneamente na luta política e social por uma vida digna, pelo direito à habitação, pelo trabalho com direitos, pela defesa do ambiente e pela salvaguarda do SNS e da escola pública, contra o patriarcalismo, a homofobia e o racismo. Propondo políticas alternativas que as as pessoas possam empunhar como armas. Travando ombro a ombro com todas e com todos os que sofrem, mas não vergam a luta toda.
Pelo Socialismo, a nossa bandeira.
