A organização ambientalista Greenpeace divulgou esta terça-feira um estudo realizado pelo Instituto Wuppertal para o Clima, Ambiente e Energia, e o Think Tank Transportes T3 acerca da infraestrutura de transportes na Europa. No que diz respeito a Portugal, confirma a realidade das políticas seguidas nas últimas décadas: a rede ferroviária diminuiu 18% entre 1995 e 2018, com a perda de 460 quilómetros de ferrovia e mais de 100 mil pessoas a deixarem de ter acesso ao comboio como meio de transporte.
No mesmo período, diz o estudo citado pelo Público, o investimento em infraestruturas rodoviárias fez a rede de estradas aumentar 2.378 quilómetros, um aumento de 346%. Assim, Portugal é o terceiro país europeu que perdeu mais ferrovia e também o terceiro entre os países que mais estradas construíram. O investimento em estradas foi mais do triplo do que no sistema ferroviário (23.400 milhões face a 7.650 milhões).
A Greenpeace diz que não seria difícil reativar 379 quilómetros dos 460 desativados para o transporte ferroviário de passageiros em Portugal. No conjunto da rede ferroviária europeia, a proporção de linhas fechadas em condições de poderem voltar a receber comboios é menor: seriam cerca de 7.300 quilómetros dos 13.717 quilómetros de linhas encerradas entre 1995 e 2020.
Herwig Schuster, porta-voz da Greenpeace para a campanha Mobilidade para Todos, diz que "a Europa tem sistematicamente esvaziado as suas linhas regionais e suburbanas, deixando-as num estado desolado em muitas regiões. Ao mesmo tempo, injeta somas enormes em estradas para carros devoradores de gasolina, que fazem aumentar a crise climática”.
Tendo em conta que as emissões poluentes do setor do transporte rodoviário não têm parado de crescer e que uma viagem de comboio na Europa emite em média menos 77% de gases com efeito de estufa do que uma viagem de automóvel por quilómetro, a Greenpeace apela a uma mudança de prioridades no investimento das estradas para a ferrovia, tornando este meio de transporte mais acessível também no preço.
"Milhões de pessoas fora das cidades não têm outra opção senão possuir um automóvel para ir para o trabalho, levar os filhos à escola ou aceder a serviços básicos, vivendo em zonas com poucos ou nenhuns transportes públicos. Este é o resultado direto do desmantelamento das redes ferroviárias locais e regionais por parte dos governos, ao mesmo tempo que investem dinheiro nas estradas. A poluição climática causada pelos transportes é elevadíssima e temos visto pessoas em toda a Europa e em todo o mundo sofrerem as consequências" afirma a responsável pela campanha europeia da Greenpeace, Lorelei Limousin.
Apesar do fosso de investimento nos dois tipos de infraestruturas ter vindo a reduzir-se desde 2018, os ambientalistas apontam que muitos países continuam a fechar linhas e estações ferroviárias e a planear expansões de aeroportos e construção de mais autoestradas. No caso português, a Greenpeace apela ao cancelamento do projeto do novo aeroporto de Lisboa e que em vez disso "invista na reabertura de linhas de comboio nacionais e introduza serviços internacionais, que possam substituir as deslocações aéreas, pelo menos para Espanha e Sul de França”.