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Planeta Vivo: Declínio da população animal foi de 69% em 48 anos

O Relatório Planeta Vivo de 2022 analisou quase 32 mil populações de espécies para medir a perda de biodiversidade no planeta devido à ação humana entre 1970 e 2018. Quanto à pegada ecológica portuguesa, são necessários 2,88 planetas para manter estilo de vida atual.
Capa do relatório.

O relatório produzido a cada dois anos pela rede WWF conclui que "a atividade humana insustentável está a fazer com que os sistemas naturais do planeta que suportam a vida na Terra estejam a chegar aos seus limites". Os últimos dados relativos ao período entre 1970 e 2018 indicam que "a abundância das populações globais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuiu em média 69% no período de uma vida humana".

O maior declínio foi sentido na América Latina e Caribe, que nesses 48 anos viu a vida selvagem cair 94%. Nesta região que inclui a Amazónia, "o ritmo da desflorestação estão a acelerar, retirando a este ecossistema único não apenas as árvores mas a vida selvagem que delas depende e a capacidade da Amazónia para agir como um dos nossos grandes aliados na luta contra as alterações climáticas", aponta Tanya Steele,, responsável pela WWF no Reino Unido, citada pelo Guardian. A perda de vida selvagem foi também sentida em Áfriva (menos 66%), Ásia e Pacífico (menos 55%), América do Norte (menos 20%), e Europa e Ásia Central (menos 18%).

O relatório destaca ainda a perda das populações de peixes de água doce, que atingiu 83% entre 1970 e 2018, atribuindo-a à proximidade da população humana. Apesar destes rios e lagos cobrirem apenas 1% da superfície do planeta, calcula-se que mais de metade da população humana viva num raio de 3 quilómetros de distãncia dessas águas. A poluição, a sobreexploração, a mudança dos caudais ou a introdução de espécies invasoras serão as principais responsáveis por este declínio. No caso dos peixes migratórios, o seu declínio de 76% é explicado sobretudo pela construção de barreiras como represas e barragens que impedem o seu movimento. Hoje em dia, apenas pouco mais de um terço dos rios com mais de mil quilómetros correm livremente em toda a sua extensão.

"Apesar da ciência, das previsões catastróficas, dos discursos e promessas, as florestas em chamas, os países submersos, as temperaturas recorde e os mihões de deslocados, os líderes mundiais continuam refastelados a ver o nosso mundo a arder à frente dos seus olhos", acrescentou a ambientalista britânica. O relatório apela aos decisores políticos que estarão reunidos em Montreal em dezembro na Convenção da ONU para a Biodiversidade (COP15) que tomem medidas para enfrentar este cenário.

Pegada ecológica portuguesa: são necessários 2,88 planetas para manter estilo de vida atual

No caso de Portugal, o relatório aponta a sua responsabilidade no declínio das populações de tubarões e raias, cuja abundância global no mar alto diminuiu 71% no período analisado. O nosso país é o terceiro na UE com mais capturas, o segundo a nível mundial com maiores exportações de carne de tubarão e o sexto para a carne de raia.

Para a Associação Natureza Portugal/WWF, é necessária "uma meta para a natureza semelhante à meta de 2016 do Acordo de Paris". O relatório acrescenta ainda que os portugueses precisam atualmente de 2,88 planetas para manter o seu atual estilo de vida, quando no relatório de 2020 essa fasquia estava em 2,52 planetas.

A pegada ecológica portuguesa em 2018, num período de crescimento económico alavancado pelo turismo, era de 4,1 gha por pessoa. O gha, ou hectare global, é uma medida da capacidade inerente da biosfera para produzir biomassa útil, que é apropriada pelos seres humanos. Dois anos antes, essa pegada ecológica era de 4,1 gha por pessoa.

"A recuperação económica implicou um aumento significativo do consumo dos portugueses e dos turistas que procuram Portugal como destino, mas não alterou a sua posição relativa a outros países", mantendo-se no 46º lugar num ranking liderado pelo Qatar, o país que pior desempenho ambiental apresenta.

Para o país enfrentar esta "emergência dupla das alterações climáticas e da perda de biodiversidade", o relatório propõe algumas medidas como a da proteção de 30% do território, uma meta ainda por cumprir, a restauração da saúde dos nossos rios, que implica travar a construção de barragens desnecessárias, o consumo de proteína de forma responsável, reduzindo a quantidade e garantindo a qualidade, o consumo de produtos de base florestal certificados, a proteção dos tubarões e raias, a recusa da mineração em mar profundo e dar voz aos jovens.

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