Lisboa

Moedas volta a passar culpas pelo fracasso da resposta às pessoas sem-abrigo

26 de setembro 2024 - 15:05

Depois de se saber que o Ministério da Defesa não concretizou a promessa de ceder o Hospital Militar de Belém para acolher os imigrantes que viviam em tendas junto à igreja dos Anjos, o presidente da Câmara de Lisboa responsabiliza agora “a extrema-esquerda” pela situação.

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Carlos Moedas e o ministro da Defesa Nuno Melo.
Carlos Moedas e o ministro da Defesa Nuno Melo. Foto PSD/Flickr

Dias depois de a presidente da Junta de Freguesia de Arroios ter responsabilizado as associações e voluntários que dão apoio às dezenas de imigrantes a viver em tendas junto à igreja dos Anjos por não haver uma solução de acolhimento, prometida pela Câmara em abril e pelo Governo em junho, agora foi Carlos Moedas a apontar o dedo a “alguma extrema-esquerda” que “olha para a situação de sem-abrigo quase como um negócio”.

As acusações de Moedas na entrevista ao Público e Rádio Renascença contrastam com o silêncio sobre a sua responsabilidade em encontrar uma solução, meses depois de a autarquia ter prometido uma solução “no imediato” para tirar aqueles imigrantes das ruas, aqui apontando também o dedo aos presidentes de juntas de freguesia eleitos pelo PS, acusando-os de não querem instalações de acolhimento nas suas freguesias. Com tanto passa-culpas, a única solução para os que dormem em tendas nos Anjos tem sido encontrada pelos próprios, com o apoio das associações e voluntários, que já permitiram que cerca de metade das 130 pessoas que ali chegaram a pernoitar encontrassem emprego e uma solução de habitação digna.

“Acusar ativistas que, perante a falência das autoridades governamentais e autárquicas, se dedicam diariamente a, por todos os meios, encontrar soluções para que as pessoas migrantes possam sair das ruas, a regularizar a sua situação, a procurar trabalho com direitos, seria hilariante se não fosse ilustrativo da total desresponsabilização por parte dessas mesmas entidades. E isso é verdadeiramente dramático”, afirmou uma das ativistas que acompanha a situação na igreja dos Anjos desde o início. Mariana Carneiro, da SOS Racismo, lamenta que não haja da parte do presidente da autarquia “qualquer pudor em mobilizar todo o tipo de falsidades e bodes expiatórios” nem “qualquer intenção de traçar um outro caminho, respeitador dos direitos humanos, que defenda não só os direitos dos migrantes mas sim os direitos de todas e todos nós e os interesses do país”.

Em comunicado, a concelhia lisboeta do Bloco de Esquerda também reagiu às declarações de Carlos Moedas, registando que o autarca, “como sempre faz, culpa outras pessoas pelo seu falhanço, neste caso a ‘extrema-esquerda’”. Os bloquistas lembram que no final do ano passado havia mais 200 pessoas a viver na rua do que no final do ano anterior e que “ao longo de três anos de mandato, Moedas falhou por completo na resposta às pessoas em situação de sem abrigo”. E sobre a promessa feita há seis meses de acolher as pessoas da igreja dos Anjos no Antigo Hospital Militar de Belém, “passou meio ano e, na passada semana, soube-se que o governo desistiu da ideia. De Moedas, que "liderava", não se ouviu uma palavra”.

O Bloco/Lisboa lembra o encerramento das respostas de acolhimento no Casal Vistoso e Quartel de Santa Bárbara sem que tenham aberto novas com as mesmas vagas e o plano de Moedas que “não previa nem mais uma casa até ao fim do mandato”, tendo sido a ação dos eleitos bloquistas “que forçou a duplicação de vagas de housing first no plano, aprovada no executivo apesar do voto contra de Moedas”. Um mandato que contrasta com o que foi feito no anterior, onde o Bloco tinha o pelouro dos Direitos Sociais em plena pandemia e “conseguiu quadruplicar em apenas um ano o investimento da CML nas respostas desta área, aumentando-o para mais de seis milhões de euros”. Um trabalho reconhecido pelas associações no terreno e indiretamente pelo próprio Moedas, que fez questão de apresentar o relatório de execução do plano municipal anterior, elaborado pela Universidade Nova.

Agora a situação mudou para pior e “há centenas de pessoas a pernoitar nas ruas de Lisboa sem que o município garanta sequer acesso a casa de banho ou uma refeição quente. É o falhanço total”, conclui o Bloco/Lisboa, considerando que o fracasso nas políticas dirigidas às pessoas mais vulneráveis de todas as que vivem no município que governa “é o retrato do mandato de Carlos Moedas”, também marcado pelas ”falsidades quotidianas e o estilo autoritário” do autarca.