Marcha nacional no sábado pelo fim do genocídio e liberdade para a Palestina

14 de novembro 2023 - 14:11

Plataforma Unitária de Solidariedade com Palestina apela à participação na marcha, com início pelas 15h na Praça do Município, em Lisboa. Em Gaza, hospitais estão praticamente fora de serviço e não existem zonas seguras. Ataques e violência na Cisjordânia intensificam-se.

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Desde 7 de outubro, têm sido organizadas inúmeras iniciativas a nível nacional contra a ofensiva israelita que provocou uma verdadeira carnificina na Faixa de Gaza, com um balanço de 11.240 palestinianos mortos até ao momento, entre os quais 4.630 crianças e 3.130 mulheres, além de 29.000 feridos, como também tem resultado no aumento da violência na Cisjordânia, com incursões frequentes do exército e dos colonos israelitas.

A par das iniciativas descentralizadas agendadas para os próximos dias, que podem ser consultadas na Agenda do Esquerda.net, no próximo sábado, Lisboa será palco de uma Marcha Nacional, com início às 15h, na Praça do Município, e que terminará na Assembleia da República. Convocada pela Plataforma Unitária de Solidariedade com Palestina, esta marcha tem como propósito exigir à classe política portuguesa um fim à legitimação da violência, bem como um cessar fogo imediato e liberdade para a Palestina.

Parar a guerra em Gaza

12 de novembro 2023

As ações em solidariedade com o povo palestiniano têm-se multiplicado por todo o mundo, com manifestações massivas a terem lugar não só em países do Médio Oriente. Em capitais como Londres ou Washington, centenas de milhares de pessoas saem às ruas pelo fim dos crimes de guerra israelitas e a limpeza étnica levada a cabo na Palestina. E as instituições políticas têm vindo a ser diretamente visadas. Esta segunda-feira à noite, rabinos e membros do Congresso dos EUA exigiram em conjunto um cessar-fogo em Gaza, enquanto centenas de ativistas pró-Palestina ocupavam um edifício federal na Califórnia. Israel continua, no entanto, a negar qualquer hipótese de um cessar fogo, e intensifica as suas incursões e bombardeamentos, assim como diversifica as suas máquinas de guerra.

Hospitais praticamente fora de serviço

No Hospital Al Shifa, onde no domingo prematuros foram retirados das incubadoras face à falta de energia, 179 pessoas, incluindo bebés, foram enterrados numa vala comum. Os profissionais de saúde, não possuindo meios para os salvar ou atenuar a sua dor, assistem à agonia e à morte dos pacientes. O diretor do hospital, Mohamed Abu Selmia, disse à BBC que 32 pessoas morreram nos últimos dias, entre estas três bebés prematuros e sete pessoas que pereceram devido à falta de oxigénio. O serviço de diálise está indisponível, pelo que vários pacientes deverão morrer "nos próximos dias". O hospital, com mais de 600 feridos, está quase sem combustível, água potável e outros recursos, e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde é, neste momento, "quase um cemitério". As Nações Unidas confirmam que a maior parte dos hospitais de Gaza já não funciona.

Os relatos dos profissionais de saúde traçam um retrato totalmente desumano. Nos cuidados intensivos neonatais do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, no centro de Gaza, faltam desde medicamentos utilizados para melhorar a função respiratória de bebés prematuros e até sabonetes para os profissionais de saúde esterilizarem as mãos. O cirurgião ortopédico Fadel Naim, baseado na Faixa de Gaza, diz que pacientes com lesões “até ao nível moderado” têm de ser submetidos a cirurgias sem anestesia devido à falta de material médico. “[É] para preservar o stock restante de anestesia, que está prestes a esgotar-se a qualquer momento, para cirurgias importantes e críticas”, afirma, acrescentando que “a dor sentida pelos pacientes durante as intervenções cirúrgicas sem anestesia está para além do que a humanidade nesta Terra pode suportar”.

Num novo relatório, a Human Rights Watch enfatiza que os “ataques ilegais dos militares israelitas a instalações médicas, pessoal e transportes estão a destruir ainda mais o sistema de saúde de Gaza e devem ser investigados como crimes de guerra”, apelando a uma investigação por parte da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre o Território Palestiniano Ocupado e do Tribunal Penal Internacional.

Gaza: destruição e morte

Segundo o Euro-Med Human Rights Monitor, Israel lançou mais de 25 mil toneladas de explosivos na Faixa de Gaza desde 7 de outubro, o equivalente a duas bombas nucleares. A destruição é devastadora e visa comprometer qualquer possibilidade de gerações futuras de palestinianos se estabelecerem no território. Imagens e fotografias de satélite mostram bairros inteiros arrasados, hospitais, escolas e universidades, locais de culto, destruídos. O mesmo acontece com a esmagadora maioria das infraestruturas vitais, desde estradas, a sistemas de comunicação, estações de tratamento de água e portos marítimos.

As forças israelitas também diversificam o seu aparelho de morte e destruição. Um cirurgião do Hospital al-Shifa, Ghassan Abu Sitta, denuncia que mais de 20 pessoas procuraram tratamento para “ferimentos de bala no peito e pescoço disparados por drones quadricópteros israelitas”. “Este é um drone atirador a voar baixo. Quando se trata de matar, eles são muito inovadores”, escreve no X.

As Nações Unidas (ONU) alertam que os intensos combates de rua impedem as equipas de emergência de responder aos pedidos de ajuda de pessoas presas sob os escombros após o bombardeamento israelita, de acordo com um relatório da ONU. Há falta de combustível para as ambulâncias e os combates perto dos hospitais são tão intensos que as equipas de resgate não conseguem circular.

Esta segunda-feira, as Nações Unidas promoveram um momento de silêncio em homenagem aos colegas mortos em Gaza. Desde 7 de setembro, mais de 100 funcionários da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), "o maior número de trabalhadores humanitários da ONU mortos num conflito em tão pouco tempo".

Não há “zona segura” em Gaza

O gabinete humanitário da ONU informou esta terça-feira que mais de 200 mil pessoas se refugiaram no sul do enclave nos últimos 10 dias.

Ainda que tenha ordenado aos civis no norte de Gaza que se deslocassem para a “zona segura” do sul, Israel tem vindo a promover inúmeros ataques nesta área, com Khan Younis a ser atingida repetidamente nos últimos dias. Nas últimas horas, três ataques aéreos atingiram edifícios residenciais, num dos quais existia também um serviço de telecomunicações. Pelo menos 13 pessoas foram mortas.

As Nações Unidas afirmam que a infraestrutura de abastecimento de água corrente e de gestão de resíduos no sul de Gaza deixou de funcionar. “Devido à falta de combustível, as estações públicas de bombeamento de esgoto, 60 poços de água no sul, as duas principais estações de dessalinização em Rafah e na Área Central, as duas principais bombas de esgoto no sul e a estação de tratamento de águas residuais de Rafah cessaram todas as operações ”, informou o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), citando a agência de ajuda palestina da organização, UNRWA.

“Juntamente com a paralisação das obras de saneamento municipal, isto representa uma grave ameaça à saúde pública, aumentando o risco de contaminação da água e o surto de doenças”, alerta.

Violência na Cisjordânia intensifica-se

Está em curso um ataque israelita na Cisjordânia, em Tulkarem. Pelo menos sete pessoas foram mortas neste ataque e existem há 12 feridos, cinco dos quais em estado crítico. Até agora, 196 palestinianos foram mortos na Cisjordânia ocupada desde 7 de outubro, sendo que este é o segundo grande ataque que os israelitas realizam em Tulkarem.

Esta terça-feira, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano afirmou que tem estado sob “ataques contínuos” das forças israelitas na Cisjordânia ocupada. “Hoje, no campo de Tulkarem, onde uma ambulância foi cercada, inspecionada e um ferido no seu interior foi detido. A infraestrutura ao redor do campo também foi destruída, dificultando o acesso das ambulâncias”, referiu no X.

A Comissão para os Assuntos dos Detidos e a Sociedade dos Prisioneiros Palestinianos assinalaram que duas crianças estavam entre os 31 palestinianos detidos durante a noite desta terça-feira pelas autoridades israelitas. “As detenções concentraram-se em Hebron e Jerusalém e o resto foi distribuído por Ramallah, Qalqila, Jenin e Belém”, afirmaram as organizações num comunicado.

Até ao momento, 2.570 pessoas foram presas desde 7 de outubro, acrescentaram. As campanhas de detenção de Israel foram acompanhadas de tortura, espancamentos intensos, ameaças e vandalismo residencial, segundo os dois coletivos.