A esquerda não são as negociatas, são as pessoas que constroem o país

11 de novembro 2023 - 16:31

Na manifestação da CGTP que juntou milhares de pessoas em Lisboa, Mariana Mortágua defendeu a necessidade de aumentar salários para garantir uma vida digna. Isabel Camarinha defendeu uma "mudança de rumo" para que as pessoas deixem de empobrecer a trabalhar.

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Mariana Mortágua na manifestação da CGTP
Mariana Mortágua na manifestação da CGTP. Foto Tiago Petinga/Lusa

A CGTP juntou este sábado muitos milhares de pessoas nas manifestações nacionais organizadas no Porto e em Lisboa. Na manifestação em Lisboa, Mariana Mortágua trouxe consigo "uma mensagem de esperança e de determinação". Para o Bloco de Esquerda, neste momento "é importante afirmar que a esquerda não são as negociatas, os favores, os privilégios das grandes empresas que beneficiam de cada decisão e de cada grande projeto económico neste país. A esquerda são as pessoas que trabalham, que constroem o país nos mais diversos setores quer no público quer no privado. São estas as pessoas que têm de ter uma vida digna. Essa é a esquerda que importa, quando defende quem trabalha", afirmou a coordenadora bloquista.

Questionada pelos jornalistas sobre a crise política e a perspetiva de legislativas antecipadas em março, Mariana Mortágua defendeu que "das próximas eleições é preciso sair uma esquerda que se bata pelo país, que saiba que o país só anda para a frente se respeitar quem trabalha". E isso significa "aumentar salários e dar condições às pessoas que trabalham tanto no setor público como no privado", dado que é o Estado que estabelece o padrão de aumentos salariais no país.

Sobre o Orçamento do Estado que agora continua a ser debatido no Parlamento, a coordenadora do Bloco mantém a sua oposição e diz que o que a proposta do PS "traz para os trabalhadores do setor público é um aumento salarial que não compensa a inflação dos últimos anos, que não permite acompanhar o aumento do preço das casas, fora as condições laborais que estão a degradar os serviços públicos e estão a impedir o acesso à escola ou ao hospital".

O que é importante sublinhar, prosseguiu, é que "nada do que é importante mudou com esta crise política": as dificuldades das pessoas que perdem poder de compra, a possibilidade de pagar uma habitação condigna, o acesso a saúde e educação de qualidade.

E este é o momento em que "cada partido deve dizer ao que vem", acrescentou Mariana Mortágua, defendendo que "este pode ser um país onde as pessoas que trabalham podem viver e onde o salário pode pagar tudo o que uma pessoa precisa para ter uma vida boa: saber que há uma casa, educação, saúde e tempo para o lazer e o conforto. Que trabalha merece uma coisa: um salário que pague a vida e que pague a casa", resumiu.

Isabel Camarinha: Crise política "é consequência das opções que têm sido seguidas"

A secretária-geral da CGTP saudou a forte mobilização da manhã de sábado no Porto, que viu repetida ao início da tarde na capital. Em declarações à RTP, Isabel Camarinha afirmou que ao objetivo inicial da manifestação de exigir o aumento geral dos salários e pensões, o reforço dos serviços públicos, a crise política desta semana reforçou a vontade "da saída à rua dos trabalhadores para exigir uma alteração de rumo do nosso país", onde persiste um "modelo de baixos salários, não se limitam preços e o custo de vida continua a subir enquanto os salários não aumentam o que deviam aumentar".

Sobre a crise propriamente dita, "encaramos esta situação como consequência das opções que têm sido seguidas", afirmou a líder da CGTP, sublinhando que "o Governo e a Assembleia da República estão em funções e vão votar um Orçamento do Estado que não responde aos problemas dos trabalhadores e do país".

Para Isabel Camarinha, o anúncio da demissão do Governo seria "uma oportunidade de alterar a proposta de Orçamento para dar resposta à necessidade de valorização dos salários e pensões, do investimento nos serviços públicos e funções sociais do Estado, fazer alterações à política fiscal que desonere os impostos sobre o trabalho e os indiretos e aumentar o que o capital tem de pagar para garantir que o Estado tem verbas para responder às necessidades de todos".

A líder da CGTP destacou a "luta intensa" que antecedeu as duas manifestações deste sábado, com a aprovação de "centenas de cadernos reivindicativos no sentido de garantir um aumento de 15%, com pelo menos 150 euros para todos os trabalhadores, que as empresas e as associações patronais têm obrigação de dar resposta". Para Isabel Camarinha, isso "é o que garante dignidade de vida à população deste país que empobrece a trabalhar".