No dia seguinte ao anúncio presidencial da convocação de eleições antecipadas, a coordenadora do Bloco defendeu que "qualquer outra opção implicaria grandes riscos de degradação política e de paralisia face aos grades problemas que Portugal tem de resolver com enorme urgência". E anunciou que a Mesa Nacional do partido aprovará no dia 19 um calendário para as próximas eleições, em dezembro aprovará as primeiras candidaturas e em janeiro apresentará o programa eleitoral.
Mariana Mortágua diz que o contributo do Bloco no atual momento político será o de "virar a página desta crise que degradou o país, recuperar a confiança e a responsabilidade que este Governo enterrou em casos que destruíram a sua credibilidade, e impedir a direita de transformar o lodo num pântano". E lembra que enquanto decorre a crise política, o país continua sem ter as soluções de que carece: "um SNS que precisa de ter profissionais que atendam todos os doentes, uma escola que tem de ter professores para todos os alunos e uma solução para a crise da habitação e para os salários que não pagam as casas".
"Os últimos anos provaram que a estabilidade do país depende da estabilidade e da determinação das soluções que cada força política traz ao país. Por isso o Bloco quer ser uma alternativa para trazer essa estabilidade. Uma alternativa pela dignidade e pela democracia, porque levamos o país muito a sério", prosseguiu a coordenadora bloquista.
Hoje, num país envergonhado com o que está a assistir, a palava do @BlocodeEsquerda é de esperança. Vamos apresentar uma alternativa para responder ao que importa: salários que deixaram de pagar o básico, crise da habitação, degradação da escola e do SNS e ao fracasso climático. pic.twitter.com/WdlM6K7oW7
— Bloco de Esquerda (@BlocoDeEsquerda) November 10, 2023
Negócios sob suspeita? "Nunca os deixámos em paz"
Na conferência de imprensa realizada na sede nacional esta sexta-feira, Mariana Mortágua voltou a insistir que a investigação em curso "deve ser objeto de esclarecimento público pelo poder judicial", mas que o Bloco "não ignora nem desvaloriza os factos conhecidos" através da comunicação social.
"A esquerda não é isto. Há em Portugal uma esquerda de confiança que sempre se bateu contra a corrupção contra a corrupção e a promiscuidade entre a política e os negócios. E os portugueses sabem da determinação do Bloco de Esquerda", afirmou Mariana Mortágua, elencando alguns exemplos de como ao longo dos últimos anos, o Bloco "fiscalizou e denunciou a atuação destes intervenientes em diferentes ocasiões".
Foi o caso dos projetos do lítio e hidrogénio "impostos como factos consumados a partir de negociações entre grupos económicos e o Governo, com protagonistas com mau currículo na proteção do interesse público". Aliás, sublinhou Mariana Mortágua, "o último ato legislativo do Bloco na anterior legislatura foi mesmo para restringir estas explorações".
Recuando a 2016, pouco depois da formação da "geringonça", recorda que "criticámos a contratação pelo Governo do consultor Lacerda Machado. Em 2018 pedimos a demissão do presidente [Nuno Lacasta] da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) por complacência com interesses privados. Em 2021, expusemos a sua atuação favorável à EDP na venda das barragens. Em 2022, denunciámos o papel da APA que permitiu à EDP não pagar IMI sobre essas barragens".
"A mesma EDP tinha Lacerda Machado nos seus órgãos ao mesmo tempo que Manuel Pinho era ministro e Vítor Escária era assessor do primeiro-ministro José Sócrates. Tudo isto foi matéria de inquérito parlamentar que o Bloco promoveu em 2019. Nunca os deixámos em paz", concluiu.
"Não queremos um país a fingir, baseado no turismo e nas redes clientelares"
A um país "envergonhado com aquilo a que está a assistir", a coordenadora bloquista deixou uma "palavra de esperança" e a garantia de que o Bloco está pronto para apresentar uma alternativa e responder por "soluções urgentes para aquilo que verdadeiramente importa".
E o que verdadeiramente importa no dia a dia das pessoas "é um salário e uma pensão que já não pagam o básico, é o tormento na habitação, uma saúde e educação que não têm condições para atender todos os utentes, nem dar uma escola de qualidade a todos, e uma transição climática e energética que faça alguma diferença e não os negócios do lítio que prejudicam o ambiente e as populações”, prosseguiu.
Mariana Mortágua defendeu ainda que "aquilo que é público tem de ser gerido com seriedade e não pode nunca ser um negócio, muito menos uma negociata". E avisou que "só a nossa força pode parar os negócios de favores, da TAP à Efacec, do imobiliário ao abuso dos lucros na banca e nos supermercados" e evitar que Portugal se transforme definitivamente num "país a fingir, baseado no turismo e nas redes clientelares".