Younus Muhammadi foi entrevistado para o esquerda.net sobre a situação dos refugiados na Grécia na conferência "Um Plano B para a Europa", em Madrid.
Como está a situação dos refugiados na Grécia neste momento?
A situação na Grécia vai de mal a pior. Todas as políticas de encerramento de fronteiras, não apenas o encerramento de fronteiras para entrar na Europa, mas também das fronteiras da Grécia com os outros países europeus, é muito preocupante, e só algumas nacionalidades têm o direito a sair da Grécia.
Mas agora esta política de encerramento e de tornar a Grécia uma grande prisão para todos os refugiados cria um grande problema. A Grécia e o seu governo, já têm os seus problemas, é impossível gerirem todas estas situações. Por outro lado, sabemos que o encerramento das fronteiras na realidade não significa nada, e como consequência, provoca mais mortes de refugiados nas fronteiras da Europa, em diferentes fronteiras, e ainda muito mais dinheiro para os traficantes.
São agora os traficantes no centro de Atenas que estão a celebrar, porque sabem que se as fronteiras estão fechadas e vão ganhar mais dinheiro. E precisamente os milhares de requerentes de asilo e refugiados que estão a vir para Atenas, a única ajuda e esperança que têm agora é de movimentos de solidariedade, que os salvam do mar e também os ajudam no momento em que saem do país, na fronteira com a Macedónia.
Uma medida urgente é dar uma passagem segura às pessoas que precisam de proteção internacional. Eles devem vir, é impossível impedi-los de vir, não vêm fazer turismo. Eles são forçados e não têm outra escolha. Eles vêm e arriscam as suas vidas, eles vêm pelas suas vidas, não é por uma vida melhor.
E tudo isto está a ser feito por pessoas e pelas organizações da sociedade civil, e pelos movimentos de solidariedade. Infelizmente as autoridades, governos e etc, estão de alguma forma ausentes. Por exemplo, nos últimos meses abriram alguns centros de receção. Na verdade, não são centros de receção, mas estádios desportivos que foram abertos e milhares de pessoas vivem lá dentro.
Se entrarmos nesses centros de receção, estão lá milhares de pessoas, mas das autoridades só estão uma ou duas pessoas, e as restantes são de organizações da sociedade civil que estão a ajudar. Tudo, até a comida e os cuidados de saúde, tudo vem de organizações da sociedade civil. Até na mediação cultura as organizações estão a ajudar as comunidades de refugiados, e isso é muito importante.
Quais são as medidas urgentes que deveriam ser tomadas para salvar as vidas dos refugiados?
As medidas urgentes são muito claras. A primeira é que vemos que centenas de pessoas já morreram no mar Egeu em 2016 e que a quantidade de requerentes de asilo que chegam continua a aumentar.
Deve haver partilha de responsabilidades de todos os países europeus e este assunto deve ser um assunto comum, um assunto europeu. Não é um assunto grego ou italiano. Se a União Europeia atira este assunto para os países fronteiriços, isso vai tornar o problema mais sério para os refugiados e também para a Grécia e a Itália.
Por exemplo, em janeiro de 2015, 35 mil pessoas chegaram à Grécia. Mas em janeiro de 2016 já entraram no país 70 mil pessoas e centenas morreram no mar Egeu. Então, uma medida urgente é dar uma passagem segura às pessoas que precisam de proteção internacional. Eles devem vir, é impossível impedi-los de vir, não vêm fazer turismo. Eles são forçados e não têm outra escolha. Eles vêm e arriscam as suas vidas, eles vêm pelas suas vidas, não é por uma vida melhor, isso é muito claro.
Algumas medidas que foram decididas pela União Europeia, por exemplo, as políticas de relocalizações, podemos dizer que foram um ponto de partida positivo. Num esforço de partilha de responsabilidades, decidiram relocalizar cerca de 160 mil pessoas da Grécia e de Itália, mas até agora só relocalizaram 500 pessoas.
Isso significa que não funciona assim, é uma decisão que tem de ser melhorada. É um bom ponto de partida, mas deve haver partilha de responsabilidades de todos os países europeus e este assunto deve ser um assunto comum, um assunto europeu. Não é um assunto grego ou italiano. Se a União Europeia atira este assunto para os países fronteiriços, como a Grécia e a Itália, não é solução e vai tornar o problema mais sério para os refugiados e também para os países fronteiriços.