“Nunca mais”, a palavra de ordem que há 21 anos ecoou por toda a Galiza como resposta à maré negra causada pelo naufrágio do petroleiro Prestige voltou a fazer-se ouvir. Em resposta a um apelo de mais de uma centena de grupos ecologistas, sindicatos e associações de produtores de setores ligados às rias, dezenas de milhares de pessoas encheram as ruas de Santiago de Compostela este domingo “em defesa do nosso mar” numa “maré de dignidade”.
Os manifestantes criticavam a gestão da Xunta de Galicia, o governo regional nas mãos do Partido Popular, do desastre ambiental que se vive na Galiza devido ao derramamento de uma enorme quantidade de pellets plásticos de um contentor do navio Toconao.
Entre a Alameda de Santiago de Compostela e a Praça do Obradoiro, fora da qual muitos tiveram de ficar porque já não cabiam, lembraram que foram os voluntários quem respondeu à contaminação pelos seus próprios meios, face à inação da Xunta que tardou um mês a reagir, repetindo-se “incompetência nunca mais”.
À chegada, María Porto Maneiro, presidente de uma associação de mariscadoras de Pontevedra, Sandra Lorenzo e Sandra González Pousada, duas das voluntárias que têm estado no terreno nas limpezas de praias, leram o manifesto da organização da manifestação no qual se afirmava que “a chegada massiva de pellets mostrou como a Xunta de Galicia minimiza os problemas, ignora os dados científicos e só resolve com mentiras e incompetência”.
#Santiago totalmente desbordado pola manifestación #EnDefensaDoNosoMar e contra a nefasta xestión da #Xunta na crise dos #pellets. #NuncaMais pic.twitter.com/MCHtWVs8wj
— CIG (@galizaCIG) January 21, 2024
Sempre salvaguardando as diferenças na dimensão do problema, a tragédia ambiental do Prestige pairava em todas as cabeças com o texto a acrescentar que “este Prestige de luvas brancas, cujos efeitos nocivos durarão décadas no meio ambiente, mostra o fracasso de tudo o que deveria ter sido aprendido há 20 anos, e dos sistemas operacionais de segurança marítima, tanto do Resgate Marítimo dependente do Estado espanhol quanto do Serviço de Guarda Costeira dependente da Xunta de Galicia”.
Mal feito, exige-se agora investimento e “coordenação para atuar” nas limpezas, meios de proteção adequados para os voluntários, contentores específicos para depositar os pellets retirados das praias e “transparência sobre a toxicidade dos materiais e dos seus efeitos sobre a saúde e os ecossistemas marinhos”. Internacionalmente, exige-se à União Europeia e à Organização Marítima Internacional que declarem os pellets de plástico como uma mercadoria perigosa.
O Obradoiro enchido na defensa do mar. pic.twitter.com/OH3uKHir1T
— Greenpeace Galicia (@greenpeace_gal) January 21, 2024
O PP ataca os nacionalistas galegos, a esquerda vinca negligência e incompetência
Com as eleições galegas à porta, marcadas para o próximo dia 18 de fevereiro, o tema não deixa de estar presente na campanha eleitoral. Estiveram presentes na manifestação os candidatos da oposição de esquerda, Ana Pontón do BNG, José Ramón Gómez Besteiro do Partido Socialista, Marta Lois do Sumar e Isabel Faraldo do Podemos, assim como figuras nacionais como Yolanda Díaz, dirigente do Sumar e vice-presidente do Governo espanhol, e Irene Montero, ex-ministra da Igualdade e dirigente do Podemos.
Em reação, Alfonso Rueda, o presidente da Xunta, considerou que a manifestação foi de “um nacionalismo em Santiago que está a criar farsas porque pensa que ainda pode lucrar” que está “sempre zangado” e que “fala mal” de mariscadores e pescadores, isto apesar de as associações destes setores também terem convocado os protestos.
Ana Pontón, do Bloque Nacionalista Galego, contrapôs isso mesmo, declarando que o setor do mar está “a revoltar-se contra as mentiras” e a demonstrar “o seu amor pelo meio ambiente”. Para ela, o “modus operandi” da Xunta foi o mesmo que face à maré negra causada pelo Prestige: “ocultação, mentira, manipulação, falta de respeito e desproteção do meio ambiente”.
Quero ser a presidenta que lle diga sempre a verdade aos galegos e ás galegas, que se poña á fronte se hai unha crise e que protexa o noso mar.
Estou moi orgullosa de ser galega e desta #MareaDeDignidade.
Hai ganas de cambio. Imos construír #AMellorGaliza pic.twitter.com/fwaP0gW38s
— Ana Pontón (@anaponton) January 21, 2024
Besteiro do PSdeG sublinhou que as “gentes do mar” e “toda a Galiza” se juntou para limpar o mar e para limpar “da contaminação de mentiras a que nos submeteram durante as últimas semanas”. Marta Lois destaca o mesmo. Entre a crise do Prestige e a dos pellets, houve “os mesmos erros e a mesma falta de diligência”. E Isabel Faraldo defendeu que o conselheiro do Mar, Alfonso Villares, deve ser demitido por incompetência.