A 13 de dezembro na praia de Espiñeirido na Ribeira, Galiza, começaram a ser encontrados pequenos grãos de plástico branco. Estes pellets, que são rotulados como “estabilizadores de UV” e servem como aditivo para produzir objetos de plástico, não têm parado desde então de chegar às praias da região atingido zonas como Porto do Son, Muros, Outes, Noia, Carnota, Muxía e Corunha e o mapa da poluição continua a crescer. Este domingo a onda branca estava espalhada já pelo litoral da Cantábria, tinha chegado à Corunha e a Lugo, e descido para sul até às rias baixas.
Alguns destes pellets vêm em sacos com o nome da empresa polaca Bedeko Europe. As primeiras notícias davam conta que uma embarcação teria perdido parte da carga ao largo de Viana do Castelo. Soube-se depois que se tratava do navio mercante Toconao com pavilhão da Libéria mas pertencente à Maersk.
A Xunta da Galiza reagiu tardiamente à vaga de poluição e só na passada sexta-feira, quase um mês depois das primeiras confirmações da existência do material poluente, ativou o nível mínimo do “plano territorial de contingências pela contaminação marinha acidental” que diz respeito a episódios de contaminação “de pequena gravidade e extensão”. Neste âmbito foi contratada uma empresa para limpar as praias.
Cidadãos contra as lágrimas de sereia
Entretanto, têm sido pescadores, mariscadores e grupos de voluntários, organizados por associações ambientalistas, que meteram as mãos à obra de limpar as praias atingidas pelo material poluente que é ironicamente chamado “lágrimas de sereia”. Numa corrida contra o tempo, com meios improvisados, tenta-se em primeiro lugar chegar aos sacos antes que estes rompam porque depois disso a limpeza fica ainda mais difícil, as pequenas bolas do tamanho de um bago de arroz são difíceis de apanhar e enterram-se facilmente na areia. Foram pedidas ainda autorizações para que pudessem operar máquinas para peneirar a areia mas estas ainda não chegaram. À falta delas, centenas de pessoas usam meios artesanais como coadores de cozinha, peneiras e grelhas feitas de materiais como fritadeiras.
Cada saco de éstos contienen 1,25 millones de #pellets. Se han recogido más de 60 sacos enteros y muchos otros se han abierto.Lo peor aún está por llegar, hay que saber ya el transporte de estos microplasticos, previsión d zonas d llegada y actuar en el mar @Xunta @greenpeace_gal pic.twitter.com/kd9B8eOSf9
— OpenPLAS (@OpenPLAS) January 8, 2024
Em Area da Cruz, O Grove, voluntários descobriram golfinhos mortos e em vários outros sítios foram encontradas aves mortas.
Os ecologistas, como por exemplo a Greenpeace Galiza, contestam a ineficácia do governo regional galego de direita e pretendem informações exatas sobre a quantidade de carga que o navio transportava e sobre que medidas legais vão ser tomadas contra as empresas implicadas no episódio.
ADEGA insta á Xunta e ao Estado a retirar urxentemente os millóns de microplásticos vertidos nas costas galegas. Malia a que a alerta xa foi feita hai un mes, nin Xunta nin Costas seguen sen darse por aludidas, exercendo unha clara deixazón de funcións!!https://t.co/JX0gVBZAZg pic.twitter.com/EGBNPmp6Y7
— ADEGA (@ADEGAgz) January 6, 2024
Non se entende que a @xunta se negue a elevar o nivel de emerxencia
Se o nivel 2 dá máis recursos, porque non usalos?
Dinnos que os pellets non son tóxicos nin perigosos, pero non fornecen a súa composición
Que levaban os outros 5 contedores?https://t.co/smjmHt19cS— Greenpeace Galicia (@greenpeace_gal) January 8, 2024
Os pellets como arma de campanha
O acontecimento não podia deixar de entrar na pré-campanha para as eleições regionais que acontecerão em seis semanas. Ainda por cima quando a incapacidade de lidar com a poluição invoca a memória marcante da catástrofe ambiental que foi o derrame do Prestige há 22 anos.
Alfonso Villares, conselheiro do Mar do governo regional galego, do PP, tratou no domingo na Televisão da Galiza de passar culpas para o governo central por este não ter ativado o “plano nacional de emergências de contaminação marinha”. Acusa-o ainda de “ocultar informação” porque saberia há “14 dias” da poluição e não teria partilhado a informação.
A ministra para a Transição Ecológica, Teresa Ribera, respondeu nas redes sociais que acionar o plano de emergência está pendente da evolução da situação e que já tinha oferecido “colaboração” ao governo regional. O comunicado oficial afirma esperar que a Xunta “exerça a sua competência” e passe ao nível dois da situação de emergência para poder dar-lhe o apoio ao nível estatal.
A Delegação do Governo na Galiza rebate a ideia de atraso na comunicação, afirmando que a comunicação foi efetuada às 18.30 de 20 de dezembro, exigindo um pedido de desculpas a Villares “por faltar à verdade” e por “não assumir as suas responsabilidades ao não estarem a par da informação recebida pelos serviços da Xunta”. Vários cidadãos também afirmam ter ligado para a linha de emergência 112, gerida ao nível das autonomias, a relatar o sucedido.
Ana Pontón, porta-voz do Bloco Nacionalista Galego e cabeça de lista do partido às próximas eleições, acusa também o presidente da Xunta, Alfonso Rueda, de “ocultar informação” sobre a “tragédia ambiental”, anunciando que iria convocar a comissão parlamentar do parlamento da Galiza para pedir explicações.
A catástrofe dos pellets de plástico é unha nova marea da mentira, da ocultación e da incompetencia do PP que hai que derrotar nas urnas.
A partir do 18 de febreiro construiremos #AMellorGaliza. Non teño dúbidas. pic.twitter.com/Iw9CSHtuo6
— Ana Pontón (@anaponton) January 7, 2024
Marta Lois, candidata do Sumar, acrescenta que se poderia passar a nomear o PP como “partido dos plásticos. Isabel Faraldo, a candidata do Podemos, exigiu a demissão de Villares. E José Ramón Gómez Besteiro, o cabeça de lista socialista na região, sugere que a intervenção no caso é “tirada do manual do Prestige” pelo atraso na resposta.
Alfonso Rueda, esse, tem mantido o silêncio sobre o tema. A televisão regional é igualmente acusada de menorizar o problema. Nas suas redes sociais, o grupo Defende a Galega, que junta trabalhadores da rádio e televisão públicas galegas, denuncia a pouca atenção que tem sido dada ao tema. O telejornal da tarde do canal televisivo “relegou a cobertura do problema ambiental que os pellets de plástico estão a provocar no litoral galego para o minuto 31 de um jornal que dura 35, para nem sequer dar voz ao setor das pescas, ao governo ou às entidades ecologistas”.