Milhares de pellets de plástico estão a poluir as praias galegas

09 de janeiro 2024 - 10:17

No início do mês passado, um cargueiro deixou cair vários contentores ao largo de Viana de Castelo. Pellets de plástico começaram a aparecer nas praias galegas. O governo tardou um mês a agir enquanto centenas de cidadãos se têm mobilizado para as limpezas.

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Foto dos pellets encontrados numa praia galega. Foto da Noia Limpa.
Foto dos pellets encontrados numa praia galega. Foto da Noia Limpa.

A 13 de dezembro na praia de Espiñeirido na Ribeira, Galiza, começaram a ser encontrados pequenos grãos de plástico branco. Estes pellets, que são rotulados como “estabilizadores de UV” e servem como aditivo para produzir objetos de plástico, não têm parado desde então de chegar às praias da região atingido zonas como Porto do Son, Muros, Outes, Noia, Carnota, Muxía e Corunha e o mapa da poluição continua a crescer. Este domingo a onda branca estava espalhada já pelo litoral da Cantábria, tinha chegado à Corunha e a Lugo, e descido para sul até às rias baixas.

Alguns destes pellets vêm em sacos com o nome da empresa polaca Bedeko Europe. As primeiras notícias davam conta que uma embarcação teria perdido parte da carga ao largo de Viana do Castelo. Soube-se depois que se tratava do navio mercante Toconao com pavilhão da Libéria mas pertencente à Maersk.

A Xunta da Galiza reagiu tardiamente à vaga de poluição e só na passada sexta-feira, quase um mês depois das primeiras confirmações da existência do material poluente, ativou o nível mínimo do “plano territorial de contingências pela contaminação marinha acidental” que diz respeito a episódios de contaminação “de pequena gravidade e extensão”. Neste âmbito foi contratada uma empresa para limpar as praias.

Cidadãos contra as lágrimas de sereia

Entretanto, têm sido pescadores, mariscadores e grupos de voluntários, organizados por associações ambientalistas, que meteram as mãos à obra de limpar as praias atingidas pelo material poluente que é ironicamente chamado “lágrimas de sereia”. Numa corrida contra o tempo, com meios improvisados, tenta-se em primeiro lugar chegar aos sacos antes que estes rompam porque depois disso a limpeza fica ainda mais difícil, as pequenas bolas do tamanho de um bago de arroz são difíceis de apanhar e enterram-se facilmente na areia. Foram pedidas ainda autorizações para que pudessem operar máquinas para peneirar a areia mas estas ainda não chegaram. À falta delas, centenas de pessoas usam meios artesanais como coadores de cozinha, peneiras e grelhas feitas de materiais como fritadeiras.

Em Area da Cruz, O Grove, voluntários descobriram golfinhos mortos e em vários outros sítios foram encontradas aves mortas.

Os ecologistas, como por exemplo a Greenpeace Galiza, contestam a ineficácia do governo regional galego de direita e pretendem informações exatas sobre a quantidade de carga que o navio transportava e sobre que medidas legais vão ser tomadas contra as empresas implicadas no episódio.

Os pellets como arma de campanha

O acontecimento não podia deixar de entrar na pré-campanha para as eleições regionais que acontecerão em seis semanas. Ainda por cima quando a incapacidade de lidar com a poluição invoca a memória marcante da catástrofe ambiental que foi o derrame do Prestige há 22 anos.

Alfonso Villares, conselheiro do Mar do governo regional galego, do PP, tratou no domingo na Televisão da Galiza de passar culpas para o governo central por este não ter ativado o “plano nacional de emergências de contaminação marinha”. Acusa-o ainda de “ocultar informação” porque saberia há “14 dias” da poluição e não teria partilhado a informação.

A ministra para a Transição Ecológica, Teresa Ribera, respondeu nas redes sociais que acionar o plano de emergência está pendente da evolução da situação e que já tinha oferecido “colaboração” ao governo regional. O comunicado oficial afirma esperar que a Xunta “exerça a sua competência” e passe ao nível dois da situação de emergência para poder dar-lhe o apoio ao nível estatal.

A Delegação do Governo na Galiza rebate a ideia de atraso na comunicação, afirmando que a comunicação foi efetuada às 18.30 de 20 de dezembro, exigindo um pedido de desculpas a Villares “por faltar à verdade” e por “não assumir as suas responsabilidades ao não estarem a par da informação recebida pelos serviços da Xunta”. Vários cidadãos também afirmam ter ligado para a linha de emergência 112, gerida ao nível das autonomias, a relatar o sucedido.

Ana Pontón, porta-voz do Bloco Nacionalista Galego e cabeça de lista do partido às próximas eleições, acusa também o presidente da Xunta, Alfonso Rueda, de “ocultar informação” sobre a “tragédia ambiental”, anunciando que iria convocar a comissão parlamentar do parlamento da Galiza para pedir explicações.

Marta Lois, candidata do Sumar, acrescenta que se poderia passar a nomear o PP como “partido dos plásticos. Isabel Faraldo, a candidata do Podemos, exigiu a demissão de Villares. E José Ramón Gómez Besteiro, o cabeça de lista socialista na região, sugere que a intervenção no caso é “tirada do manual do Prestige” pelo atraso na resposta.

Alfonso Rueda, esse, tem mantido o silêncio sobre o tema. A televisão regional é igualmente acusada de menorizar o problema. Nas suas redes sociais, o grupo Defende a Galega, que junta trabalhadores da rádio e televisão públicas galegas, denuncia a pouca atenção que tem sido dada ao tema. O telejornal da tarde do canal televisivo “relegou a cobertura do problema ambiental que os pellets de plástico estão a provocar no litoral galego para o minuto 31 de um jornal que dura 35, para nem sequer dar voz ao setor das pescas, ao governo ou às entidades ecologistas”.

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