Governo galego contrata empresa de marketing próxima do PP para limpar pellets

17 de janeiro 2024 - 18:20

Uma empresa ligada ao grande partido da direita espanhola, que tem beneficiado de milhões em contratos públicos na Galiza e sobre a qual não se conhece qualquer experiência de formação ambiental, ganhou sem concurso este contrato.

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Formadores de voluntários para a limpeza das praias. Foto do El Salto.
Formadores de voluntários para a limpeza das praias. Foto do El Salto.

Depois do contentor de um navio ter derramado no Atlântico milhões de pellets de plástico que acabaram por contaminar as praias da Galiza, as críticas sobre o atraso em agir da Xunta de Galicia, o órgão de governo autonómico liderado pelo Partido Popular, somaram-se, ao mesmo tempo que eram voluntários coordenados por associações ambientalistas, de mariscadores e pescadores a assumir a linha da frente do combate à poluição.

Agora que a Xunta passou a estar no terreno, são as suas ligações a uma das empresas contratadas para a limpeza que geram polémica, assim como a sua falta de experiência na matéria.

Uma investigação do jornal El Salto mostra que o governo galego atribuiu parte da logística da limpeza à Silman 97, uma empresa de comunicação e marketing com conhecidas ligações ao Partido Popular e que vai somando “dezenas de contratos com administrações governadas pelo PP dentro do território galego”.

Esta ficou responsável pela formação de voluntários e até por parte da limpeza. E tem estado, pela boca de Manuel Roca, conselheiro da empresa mãe Noventia Corporación Empresarial SL, a enviar áudios nos grupos de voluntários a tentar contratar pessoas sem experiência para serem formadores de voluntários e para limpar as praias. O El Salto teve acesso às mensagens em que se afirma: “serão contratados pela Silman 97, 150 euros limpos por dia (...) com deslocações e alimentação. Dar-vos-emos um coletezinho da Xunta e uns folhetos para que possam aprender e, quando chegarem à praia, se quiserem recolher, tanto melhor, e orientar e formar as pessoas que lá encontrarem”.

O meio de comunicação social questionou quer o governo galego quer a empresa sobre os valores em causa e os critérios técnicos que levaram à adjudicação sem concurso, mas estas não responderam ainda às suas perguntas. Acrescenta-se que estes detalhes já deveriam ter sido tornados públicos no Portal da Transparência.

Nos documentos consultados sobre as suas atividades, nos registos de empresas e na informação que ela própria disponibiliza, não consta que tenha capacidade para formar voluntários para limpar matérias poluentes nem para efetuar a própria limpeza, apenas se definem como sendo uma empresa de comunicação e marketing.

O El Salto ouviu ainda algumas das pessoas que responderam ao apelo e que consideram a formação como “deficiente”. Uma delas disse que “em nenhum momento te perguntam a tua formação, apenas se tens carro”.

Os folhetos a que o áudio se refere foram feitos pela Xunta. Quem tem estado nas praias a limpar desde a primeira hora, descreve igualmente a “falta de qualquer formação em matéria de meio ambiente, gestão de resíduos ou contaminação” por parte destas. É o que explica a ambientalista Aldara Castro, que relata: “no segundo dia de trabalho entregaram a uma pessoa luvas e uma bolsa, material insuficiente, sem lhe dar mais informação e sem indicar como deve fazer a limpeza: sem retirar a matéria orgânica e sem pisar os restos. No primeiro dia de trabalho, indicaram-me que mandasse o resto dos plásticos retirados para o contentor amarelo” da reciclagem.

Sem contar com a empresa mãe e apenas olhando para a atividade da Silman 97, esta tem ganho contratos “com objetos extremamente heterógeneos” nos últimos tempos, no valor de, pelo menos, 13 milhões de euros, observa-se na peça.

Para além das campanhas de comunicação públicas, os serviços da empresa de comunicação podem ir desde a prestação de serviços sociais e assistenciais em zonas rurais, através de unidades móveis, até à gestão integral do infantário da Câmara Municipal de Castro de Rei”. Sobre o primeiro caso, o Bloco Nacionalista Galego tinha já criticado no Parlamento da Galiza o facto de a empresa não ter contratado nenhum pessoal especializado capaz de assegurar os serviços incluídos naquelas unidades móveis como Psicologia, Terapia Ocupacional e Trabalho Social.

Sobre a capacidade de formação no campo do ambiente, são as principais organizações da área e que têm estado nas limpezas, como a Adega, a Greenpeace Galiza, ou os Ecoloxistas en Acción, que afirmam desconhecer qualquer atividade da empresa. São elas aliás que continuam a tratar da coordenação e formação de voluntários.

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