Depois do contentor de um navio ter derramado no Atlântico milhões de pellets de plástico que acabaram por contaminar as praias da Galiza, as críticas sobre o atraso em agir da Xunta de Galicia, o órgão de governo autonómico liderado pelo Partido Popular, somaram-se, ao mesmo tempo que eram voluntários coordenados por associações ambientalistas, de mariscadores e pescadores a assumir a linha da frente do combate à poluição.
Agora que a Xunta passou a estar no terreno, são as suas ligações a uma das empresas contratadas para a limpeza que geram polémica, assim como a sua falta de experiência na matéria.
Uma investigação do jornal El Salto mostra que o governo galego atribuiu parte da logística da limpeza à Silman 97, uma empresa de comunicação e marketing com conhecidas ligações ao Partido Popular e que vai somando “dezenas de contratos com administrações governadas pelo PP dentro do território galego”.
Esta ficou responsável pela formação de voluntários e até por parte da limpeza. E tem estado, pela boca de Manuel Roca, conselheiro da empresa mãe Noventia Corporación Empresarial SL, a enviar áudios nos grupos de voluntários a tentar contratar pessoas sem experiência para serem formadores de voluntários e para limpar as praias. O El Salto teve acesso às mensagens em que se afirma: “serão contratados pela Silman 97, 150 euros limpos por dia (...) com deslocações e alimentação. Dar-vos-emos um coletezinho da Xunta e uns folhetos para que possam aprender e, quando chegarem à praia, se quiserem recolher, tanto melhor, e orientar e formar as pessoas que lá encontrarem”.
O meio de comunicação social questionou quer o governo galego quer a empresa sobre os valores em causa e os critérios técnicos que levaram à adjudicação sem concurso, mas estas não responderam ainda às suas perguntas. Acrescenta-se que estes detalhes já deveriam ter sido tornados públicos no Portal da Transparência.
Nos documentos consultados sobre as suas atividades, nos registos de empresas e na informação que ela própria disponibiliza, não consta que tenha capacidade para formar voluntários para limpar matérias poluentes nem para efetuar a própria limpeza, apenas se definem como sendo uma empresa de comunicação e marketing.
O El Salto ouviu ainda algumas das pessoas que responderam ao apelo e que consideram a formação como “deficiente”. Uma delas disse que “em nenhum momento te perguntam a tua formação, apenas se tens carro”.
Os folhetos a que o áudio se refere foram feitos pela Xunta. Quem tem estado nas praias a limpar desde a primeira hora, descreve igualmente a “falta de qualquer formação em matéria de meio ambiente, gestão de resíduos ou contaminação” por parte destas. É o que explica a ambientalista Aldara Castro, que relata: “no segundo dia de trabalho entregaram a uma pessoa luvas e uma bolsa, material insuficiente, sem lhe dar mais informação e sem indicar como deve fazer a limpeza: sem retirar a matéria orgânica e sem pisar os restos. No primeiro dia de trabalho, indicaram-me que mandasse o resto dos plásticos retirados para o contentor amarelo” da reciclagem.
Sem contar com a empresa mãe e apenas olhando para a atividade da Silman 97, esta tem ganho contratos “com objetos extremamente heterógeneos” nos últimos tempos, no valor de, pelo menos, 13 milhões de euros, observa-se na peça.
Para além das campanhas de comunicação públicas, os serviços da empresa de comunicação podem ir desde a prestação de serviços sociais e assistenciais em zonas rurais, através de unidades móveis, até à gestão integral do infantário da Câmara Municipal de Castro de Rei”. Sobre o primeiro caso, o Bloco Nacionalista Galego tinha já criticado no Parlamento da Galiza o facto de a empresa não ter contratado nenhum pessoal especializado capaz de assegurar os serviços incluídos naquelas unidades móveis como Psicologia, Terapia Ocupacional e Trabalho Social.
Sobre a capacidade de formação no campo do ambiente, são as principais organizações da área e que têm estado nas limpezas, como a Adega, a Greenpeace Galiza, ou os Ecoloxistas en Acción, que afirmam desconhecer qualquer atividade da empresa. São elas aliás que continuam a tratar da coordenação e formação de voluntários.