Europeias

Desinformação online aumentou na UE durante a campanha eleitoral

07 de junho 2024 - 16:59

Relatório do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais diz que o número de relatos e notícias falsas publicadas na internet relacionadas com a União Europeia atingiu o máximo desde maio do ano passado, quando começou a sua monitorização.

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telemóvel e portátil
Foto de Xavier Lejeune/União Europeia

As 34 organizações da rede de verificação de factos do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais (EDMO), que em Portugal inclui o Polígrafo, publicaram no último mês 1.643 artigos sobre desinformação online publicada no espaço da União Europeia. 

E a fatia desses artigos que se referia a assuntos ligados à UE representou 15% do total, o valor máximo desde que o EDMO começou a monitorizar a desinformação na internet. Seguem-se os conteúdos falsos relativos à guerra de Israel em Gaza (9%), à guerra na Ucrânia (8%), às alterações climáticas, ao covid-19 e à imigração (todos com 6%), e aos temas ligados ao género e LGBTQ+ (2%). Em relação ao mês anterior, a desinformação com temas ligados à UE aumentou de 11% para 15%, ocupando o primeiro lugar pelo segundo mês consecutivo em véspera de eleições europeias. Já as publicações com temas relacionados com alterações climáticas caíram para metade, enquanto a desinformação sobre as guerras em Gaza e na Ucrânia diminuiu ligeiramente e a dos restantes assuntos permaneceu na mesma, segundo o relatório referente ao mês de maio.

No que diz respeito aos temas europeus, os assuntos são diversos mas há uma constante na desinformação detetada, que em regra apresenta a UE como contrária aos interesses nacionais. A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, é um dos alvos preferidos destes conteúdos, sendo apresentada como próxima do nazismo ou que o seu marido trabalha para uma empresa detida pela Pfizer. Se alguns conteúdos parecem ter por objetivo desmobilizar os eleitores e contribuir para o aumento da abstenção nas eleições europeias, outros divulgados em vários países procuram espalhar a confusão quanto ao próprio ato eleitoral e parecem ter o objetivo de aumentar o voto nulo, ao anunciar por exemplo a possibilidade do voto em duas listas ou partidos.

O Pacto das Migrações tem sido um dos temas preferidos de desinformação por parte dos políticos da extrema-direita, que em vários países propagam vídeos a afirmar que a UE vai obrigar esses países a aceitar centenas de milhares ou mesmo milhões de migrantes e refugiados, como afirmou uma candidata na Eslováquia, país em que o cálculo usado pela UE prevê o acolhimento de 300 refugiados por ano. Outras teorias da conspiração racistas também voltaram a ganhar peso em véspera de eleições, desde a do plano da substituição populacional da Europa até à que defende que os migrantes são afinal soldados da ONU com a missão de obrigar a população a obedecer ao próximo confinamento pandémico.

No que diz respeito à guerra na Ucrânia, a desinformação online tem-se concentrado em conteúdos sobre a existência de tropas de países europeus - sobretudo francesas - a combater no terreno ou sobre a preparação de ataques russos a países europeus. Outro foco de desinformação online no último mês surgiu na Eslováquia, logo após a tentativa de assassinato do primeiro-ministro Robert Fico. A história falsa mais propagada foi a de que a mulher do atacante era ucraniana e muitas outras se espalharam atribuindo a responsabilidade do crime a vários serviços secretos, ao governo de Kiev ou ao bilionário George Soros. Imagens falsas procuraram também ligar o atacante ao maior partido da oposição ou à comunidade LGBTQ+.

O EDMO deixa o alerta para as publicações que provavelmente serão disseminadas no fim de semana em que a UE vai a votos, com conteúdo sensacionalista destinado a provocar reações emocionais fortes ou destinado a fazer aumentar a desconfiança face à integridade do próprio ato eleitoral ou a confundir as pessoas sobre a forma como votar. O observatório espera também, à semelhança do que sucedeu nas eleições polacas e eslovacas do ano passado e nas croatas deste ano, que poucas horas antes da abertura das assembleias de foto surjam vídeos criados com recurso à Inteligência Artificial com mentiras ou teorias da conspiração destinadas a denegrir a reputação de partidos ou dirigentes políticos.