Extrema-direita

Tânger imita Putin e volta a propagar teoria da conspiração

31 de maio 2024 - 18:28

Questionado pelos jornalistas sobre as ligações do presidente russo aos seus parceiros europeus, o candidato do Chega acusou o bilionário húngaro-americano George Soros de financiar os partidos que o criticam.

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Tânger Corrêa
Tânger Corrêa. Foto de Rodrigo Antunes/Lusa

“Nós não somos 'putinistas', nós não recebemos um tostão do senhor Putin, do senhor Soros, como recebem outros partidos que nos criticam", afirmou esta sexta-feira o cabeça de lista do Chega às eleições europeias em resposta aos jornalistas que o questionavam sobre as ligações dos partidos do seu grupo europeu a Vladimir Putin, agora investigadas pela polícia da Bélgica e da República Checa.

A referência a George Soros pode ter surpreendido quem segue a política portuguesa, mas desde há muito que o bilionário judeu e sobrevivente do Holocausto é um dos alvos preferenciais da extrema-direita, na maior parte das vezes em campanhas com contornos antissemitas. O facto de Soros apoiar financeiramente desde há décadas os Democratas nos EUA e organizações progressistas em países com regimes autoritários tornaram-no persona non grata pelos lideres desses regimes, a começar pelo do seu país-natal, Viktor Orbán, passando pelo presidente turco Erdogan, que acusou o “famoso judeu húngaro Soros” de estar por detrás dos protestos que começaram no parque Gezi, em Istambul, e depois alastraram a todo o país em 2013.

O próprio Vladimir Putin se referiu a Soros na inusitada conferência de imprensa que deu ao lado de Donald Trump em julho de 2018 em Helsínquia. Enquanto Donald Trump atacava o FBI e os Democratas e se recusava a apontar o seu homólogo como suspeito de interferência nas eleições que o levaram à Casa Branca, Putin acrescentava que o facto de uma empresa envolvida ser russa não significava que o Kremlin fosse responsável. “Bem, há muitos indivíduos nos Estados Unidos - veja-se o caso de George Soros, por exemplo, com capitais multibilionários, mas isso não faz dele - da sua posição, da sua postura a postura dos Estados Unidos”, afirmou o presidente russo.

Segundo as teorias da conspiração da extrema-direita, Soros e a sua Open Society Foundation são responsáveis por planos maquiavélicos para dominar o mundo, através do controlo do mundo político e financeiro. Teorias que ganharam projeção com a ascensão da “alt-right” norte-americana e dos seus meios de propaganda e se ouviram muitas vezes repetidas pela boca de altos dirigentes do Partido Republicano. O próprio Donald Trump acusou no ano passado o procurador de Manhattan Alvin Bragg, que o mandou julgar, de ter sido “escolhido a dedo e financiado por George Soros”.

Do plano secreto dos Rothschild ao aviso prévio do 11 de Setembro: as teorias da conspiração de Tânger

Estas teorias da conspiração com contornos antissemitas encontraram em Tânger Corrêa um adepto e difusor em Portugal. Há poucas semanas, em entrevista ao Observador a propósito do seu recém-lançado livro de memórias, onde descreve o alegado plano de uma Nova Ordem Mundial para tornar a população subserviente a “um líder único no planeta Terra”, coordenado no Fórum de Davos com a participação da família judia Rothschild, uma dinastia de banqueiros que remonta ao século XVIII, o candidato do Chega perguntava aos jornalistas: “Macron era funcionário de Rothschild, não é?”, assegurando que “é evidente que ele sabe onde é que as coisas irão parar, qual é o objetivo final desse tipo de atuação”. Nas teorias de conspiração antissemitas, o nome de George Soros é normalmente acompanhado dos Rothschild como estando por detrás deste plano para uma “nova ordem mundial”.

Também nessa entrevista, Tânger questionou porque é que o número de judeus mortos nas Torres Gémeas fora menor do que o inicialmente estimado, sugerindo que tinham sido avisados de antemão por alguém do ataque do 11 de Setembro.  Disse que “90% ou 85% das pessoas que trabalhavam naquelas Twin Towers eram judeus” e que “se houve aviso ou não houve aviso, fica a dúvida no ar”, acrescentando que “às vezes, as coisas são passadas de uma forma tão subtil, tão fora dos esquemas normais de comunicação…”.

Criticado por estas declarações, Tânger defendeu-se em declarações ao Diário de Notícias, afirmando que “dizer que sou antissemita não passa pela cabeça de ninguém”, até porque na véspera almoçara com o embaixador de Israel, Dor Shapira. Por seu lado, a embaixada condenou as “declarações conspirativas”, mas sem identificar Tânger Corrêa como o seu autor nem o partido que representa enquanto dirigente e primeiro candidato às eleições de 9 de junho.