A coordenadora do Bloco esteve esta segunda-feira na Feira de Espinho, onde ouviu incentivos e congratulações pelo trabalho que o Bloco tem feito, mas também muitas queixas por causa do aumento do custo de vida. "Ouvimos pessoas que dizem que não conseguem chegar ao fim do mês depois de pagar a sua renda da casa ou a prestação ao banco", afirmou Mariana Mortágua aos jornalistas.
"Estamos em Espinho, numa terra onde existem muitas suspeitas de corrupção ligadas ao imobiliário. E é bom para nos lembrarmos que sempre que o Estado facilita, e do outro lado da crise que impede a habitação a quem precisa dela, há muito negócio, muita corrupção e muito privilégio", afirmou a coordenadora do Bloco.
"Encarou-se o imobiliário como forma de lucro fácil, muitas vezes com consequências ambientais desastrosas para enriquecimento de construtoras e empresas. Muitas fortunas foram assim feitas. A outra face da moeda dessa corrupção é a crise da habitação, porque enquanto isto se desenrolava não houve uma política que protegesse a habitação" continuou Mariana, destacando a importância das propostas para inverter estas políticas através de limites às rendas e limites às prestações ao banco, "porque as pessoas não estão a aguentar". Mas também "ter regras apertadas na contratação com privados, no licenciamento da construção e nas regras que permitem os negócios imobiliários nas autarquias".
Questionada sobre o artigo assinado pelo primeiro-ministro a defender que não desvaloriza a corrupção, Mariana Mortágua diz acreditar em António Costa, "mas o problema é que o primeiro-ministro não comentou as suspeitas de corrupção dentro do Governo. E era importante que o fizesse porque são suspeitas muito graves" em torno das contratações feitas na tutela do Ministério da Defesa. Por isso, "uma auditoria do Tribunal de Contas é o mínimo que deve ser feito imediatamente", num caso que mostra a "enorme promiscuidade com o privado" e a "enorme facilidade com que se encara a contratação de serviços privados por parte do Estado, com o pagamento de milhares ou milhões de euros, e se vai olhando para o lado e deixando cair a capacidade do Estado resolver os problemas do país".
O caso do corrupto condenado no Chile que obteve visto gold em Portugal
"Quando falei dos licenciamentos, dos vistos gold ou dos combates aos offshores, todos estes combates que a direita acha que são ideológicos e muito radicais, são na verdade as melhores formas de combater a corrupção", prosseguiu Mariana Mortágua, dando o exemplo de Nilsen Arias, o empresário chileno de uma petrolífera que comprou 14 imóveis no centro de Lisboa através de vistos gold com investimento total de 8 milhões. "É um corrupto condenado. Os vistos gold serviram para um corrupto condenado conseguir nacionalidade para o seu filho e o seu irmão e residência em Portugal. Isto é o Estado a promover a corrupção através dos vistos gold", concluiu.
E se o Governo anunciou em fevereiro o fim dos vistos gold, a verdade é que eles não só não acabaram, como "há quase oito mil pedidos de novos vistos gold à espera de serem aprovados e o Governo diz que os vai aprovar", recordou. O problema, prosseguiu Mariana, é que "o combate à corrupção muitas vezes é um slogan que se usa, vão-se afinando as leis penais e poucas vezes se pensa no que é que permite a corrupção. "Em primeiro lugar, é a porta aberta do Estado aos negócios", defendeu.
Depois da privatização, a PT "tornou-se um joguete nas mãos de poderosos"
"A privatização da PT é um bom exemplo de como se favoreceu o crime económico e a corrupção. É um exemplo de como as privatizações, pôr aquilo que é público nas mãos do privado, deixar que as lógicas do privado entrem pelo Estado adentro, favorece o crime económico", apontou a coordenadora bloquista, recapitulando a "história de terror" desta empresa: "a PT empregava milhares de pessoas, era uma empresa que tinha tecnologia de ponta e desenvolveu serviços inovadores e fez tudo isto enquanto era pública. A partir do momento em que foi privatizada, tornou-se um joguete nas mãos de poderosos, sejam eles Ricardo Salgado ou depois dos seus donos internacionais como a Altice. Este é o último episódio desse processo que utilizou imóveis da própria PT para negócios imobiliários de enriquecimento pessoal".
Para a coordenadora do Bloco, é preciso olhar para o que aconteceu a cada uma das empresas que foram privatizadas "e aprender com isso", pois dessa forma se poderá chegar à conclusão de "porque é que é uma má ideia privatizar a TAP".