Armamento

Venda de armas da Alemanha a Israel disparou com início do genocídio em Gaza

06 de junho 2024 - 16:33

A Alemanha é o segundo país do mundo que mais vende armas a Israel. Um relatório detalha por completo o que é conhecido deste comércio manchado pelo sangue palestiniano.

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Corveta Sa'ar 6 fabricada pelos alemães para Israel desde 2015.
Corveta Sa'ar 6 fabricada pelos alemães para Israel desde 2015. Foto do exército israelita/Wikimedia Commons.

Um relatório da Forensis sobre a exportação de armas alemãs para Israel nos últimos vinte anos, elaborado em abril, detalha o que é conhecido publicamente sobre o negócio de armas entre a Alemanha e Israel. E mostra como este cresceu desde o passado dia 7 de outubro.

O Estado alemão é um dos maiores exportadores de armas do mundo e Israel tem sido um dos seus melhores clientes. A seguir aos Estados Unidos, a Alemanha é mesmo quem mais armas convencionais vende ao Estado sionista. Este facto já tinha sido denunciado na passada terça-feira pela cabeça de lista do Bloco de Esquerda às próximas eleições europeias. Num comício no Porto, Catarina Martins defendeu que a União Europeia devia aplicar sanções à Alemanha por este país estar a armar o genocídio.

As conclusões são baseadas numa compilação de dados que são públicos e oficiais mas alerta-se que, sendo as “fontes de informação sobre comércio internacional de armas escassas, os dados são sempre parciais e incompletos”.

Recorre-se a informações já recolhidas pelo SIPRI, Instituto Internacional de Estocolmo para a Investigação da Paz, que estimava que, no ano passado, a Alemanha tinha fornecido 47% das importações de armas convencionais a Israel. Os EUA os restantes 53%.

A mesma entidade mostra que, desde 2003, a Alemanha vai mantendo o segundo lugar na venda deste tipo de armas, chegando em alguns anos a ser o maior vendedor. Tomando em conta o período entre 2019 e 2023, os germânicos venderam 30% das armas convencionais importadas pelo Estado sionista, os EUA 69%. Nos últimos dez anos, Israel esteve nove vezes no top dez dos países aos quais a Alemanha vendia armas convencionais de acordo com o SIPRI.

A partir de dados do Relatório de Exportações de Equipamento Militar do Governo alemão, fica-se a saber que desde 2003 foram autorizadas 4.427 licenças de exportação de armas para Israel, num valor de 3.300 milhões de euros, com uma taxa de aprovação de licenças de 99.75%. Entre as licenças nesse período, com valor de 3,3 mil milhões de euros, 53% dizem respeito a armas de guerra, o resto a outros equipamentos militares. Entre 2003 e 2018 foram exportadas armas de guerra da Alemanha para Israel no valor de mais de 1.100 milhões de dólares. Entre 2019 e 2023, as licenças de exportação do conjunto do material militar para Israel foram de mais de 1.100 milhões de euros segundo o executivo alemão.

Aumento da venda de armas durante o genocídio de Gaza

O ano de 2023 foi de aumento exponencial deste comércio. 308 licenças de exportação para Israel foram aprovadas, num valor de aproximadamente 326,5 milhões de euros, ainda segundo o próprio Governo. Isto representa um aumento de dez vezes relativamente ao ano anterior. E pode ser ligado diretamente com o início da ofensiva em Gaza, uma vez que 88% do valor autorizado aconteceu na segunda metade do ano e, indicou o telejornal público Tagesschau, 185 destas licenças foram emitidas apenas entre o 7 de outubro e o dia 2 de novembro.

O valor das licenças do ano passado tornou-se o quarto maior das últimas duas décadas. Mas, tirando despesas de grandes proporções em embarcações como corvetas e submarinos, 2023 passa ser o ano mais lucrativo para os alemães dos últimos vinte anos.

A decisão do Tribunal Internacional de Justiça de fevereiro de 2023, que exigia a aplicação de medidas para prevenir o genocídio, não foi impedimento para os negócios. Entre janeiro do ano passado e fevereiro deste ano foram aprovadas licenças de exportação deste género no valor de mais de nove milhões de euros, 32.449 dos quais eram mesmo armas de guerra.

Exemplifica-se que houve 65 licenças para veículos militares, 57 para tecnologia militar, 29 para eletrónica militar, 25 para torpedos, rockets, mísseis, 17 para outros engenhos explosivos e cargas, para além das munições, combustíveis e outras armas.

Foram vendidas 20,1 milhões de armas de guerra. O que inclui licenças para 3.000 armas antitanque portáteis, 500.000 cartuchos de munição para metralhadoras, semi-metralhadoras ou espingardas totalmente/semi-automáticos, bem como cargas de ignição e propulsão para munições e outros tipos de armas.

O SIPRI conseguiu ainda documentar em 2023 exportações de duas corvetas Sa’ar classe 6 (navios de guerra, subsidiadas em um terço do valor pelo Governo, havendo provas de estarem operacionais em bombardeamentos a Gaza); 10 motores diesel MTU 750hp (ou possivelmente 6V-890) para Eitan APC (os mais recentes veículos blindados de pessoal do exército israelita) e e IFV (veículos de combate de infantaria); 50 motores diesel MT883Ka para tanques Merkava-4 (que têm vindo a ser caracterizados como “o maior ativo de Israel” neste ataque e está documentado o seu uso em ataquees contra civis) e Namer APC (transportadores blindados de pessoal); 10 torpedos DM2A4 Seehecht (SeaHake mod 4) (mísseis subaquáticos) para submarinos Dolphin de Israel (fabricados na Alemanha).

Dá-se ainda conta da notícia do Der Spiegel de que, em janeiro de 2024, o governo alemão tinha concordado como um pedido de Israel para o fornecimento de 10.000 cartuchos de munições para tanques de 120 mm. Aliás, “para garantir uma entrega mais rápida, as munições seriam fornecidas pelos arsenais militares alemães existentes, que seriam então reabastecidos pela indústria alemã de fabrico de armas”.

Já em novembro de 2023, o governo alemão, de acordo com o Financial Times, tinha criado um grupo de trabalho entre o Ministério dos Negócios Estrangeiros, o da Economia e o gabinete encarregue das exportações para lidar especificamente com os pedidos de armas israelitas.

Há ainda a informação de que, em outubro de 2023, a Alemanha autorizou Israel a utilizar dois dos cinco drones de combate Heron TP que tinham alugado ao fabricante de armas israelita Israel Aerospace Industries.