Europeias 2024

Catarina: União Europeia deve sancionar Alemanha por armar o genocídio

05 de junho 2024 - 13:16

No comício do Porto do Bloco, falou-se ainda de combate à pobreza, de construir uma Europa cooperante para além do mercado, da importância de estancar a extrema-direita e contrariar a indiferença com a força da vibração democrática.

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Comício do Porto Europeias 2024
Comício do Porto do Bloco. Europeias 2024. Fotos de Ana Mendes.

No comício da noite desta terça-feira no Porto, Catarina Martins destacou os direitos humanos como “o tema mais importante desta campanha”. Neles incluiu o direito à habitação, ao qual tinha dedicado o dia, mas também o “salário para viver” e o “tempo para viver”, a questão dos “imigrantes, dos direitos das mulheres, da cooperação europeia na saúde, da qualidade da educação”. Todos eles são, considera, “o sentido mais profundo da dignidade humana, são as regras que consagram a igualdade, sem igualdade não há democracia”.

Dedicou-se, em seguida, ao direito à vida para falar na “guerra infinita” que se tornou “a bandeira das direitas e dos seus cúmplices”, uma “barbárie” que “atinge o seu ponto culminante no genocídio do povo da Palestina” dirigida por um “criminoso de guerra” que “nunca vai parar” porque “o Apocalipse é a sua política”.

Neste contexto, cabe à União Europeia ajudar a terminar esta chacina e “o passo mais importante nesse sentido é impedir o envio de armas para o genocídio”. Assim, apresentou a proposta de que o Parlamento Europeu condene o governo alemão “que é o segundo fornecedor de armas a Netanyahu”, o que “mostraria que a União não aceita que um governo europeu continue a ajudar Netanyahu no seu projeto genocida contra o povo da Palestina”. Catarina apelou aos socialistas, verdes e liberais, cujos parceiros alemães integram o governo liderado por Olaf Scholz, a apoiarem a medida.

Catarina Martins no comício do Porto

A cabeça de lista bloquista às europeias apoia-se no Tratado de Comércio de Armas Convencionais de 2013 e no facto de “já desde 2008” a União Europeia ter aprovado como regra que “não se podem vender armas a quem comete um genocídio ou viola a lei internacional”. Pelo que apelou a um voto “pela paz, pela autodeterminação dos povos, contra os criminosos de guerra” e “a cumplicidade com os massacres”.

Sérgio Aires defendeu prioridade ao combate à pobreza

Na sua intervenção neste comício, o vereador portuense Sérgio Aires sublinhou que o tema das migrações “tomou conta desta campanha” porque serve justamente para “radicalizar os debates”, mas lamentou que o tema para o qual no Eurobarómetro os europeus queriam respostas, o combate à pobreza, tenha sido esquecido. No espaço da UE 20% da população vive em situação de pobreza. A direita e a extrema direita “tudo fizeram para que tudo permanecesse na mesma”, ao passo que a esquerda fez disso prioridade.

Sérgio Aires no comício do Porto

A este propósito, aproveitou para recapitular alguns dos debates sobre o tema, desde a Diretiva de Salários Mínimos Adequados envolvida numa “confusão jurídica e não só” e cujo resultado “nunca vai acontecer nem serve para absolutamente nada”, até às linhas diretrizes para o emprego que tinham “propostas muito progressistas” mas “quando elas ainda estavam a ser discutidas no Parlamento Europeu, já o Conselho tinha decidido exatamente o contrário”.

O trabalho do Bloco neste ponto passou ainda pela defesa do direito a desligar, onde “se conseguiram algumas vitórias”, pela estratégia europeia para a Deficiência, pelo combate à precariedade nas plataformas digitais e pela defesa de “estágios remunerados com qualidade que não fossem postos de trabalho disfarçados”, o que chocou com a recusa do PPE.

António Soares: Esquerda deve erguer “novos horizontes de esperança”

António Soares lembrou a “promessa de um futuro melhor” que em 1977 foi “semeada” com o pedido de adesão à CEE e depois com o processo de adesão em 1986, para criticar uma política de livre concorrência que beneficia os países mais rico ou as consequências da subordinação ao Banco Central Europeu.

Criticou que o mesmo rigor que as instituições europeias exigem aos países e aos Estados-Membros que não cumprem com os tratados orçamentais seja “completamente abdicado quando estes Estados não cumprem com aquilo que são os direitos humanos”.

E defendeu que “é urgente à esquerda erguer novos horizontes de esperança, edificar um futuro mais justo e construir uma Europa alternativa que responda verdadeiramente aos interesses dos pobres, que conceba uma verdadeira cooperação, ao mesmo tempo que respeite a autodeterminação de todos os países. Uma Europa livre, cooperante, que não esqueça a responsabilidade histórica que tem em alargar as fronteiras da paz”.

Marisa: Resultado das eleições é determinante para estancar crescimento da extrema-direita

Marisa Matias considerou que o contexto é difícil com “as ameaças permanentes aos direitos humanos e ao direito internacional, a ameaça de recuo no combate às alterações climáticas”. O resultado será assim “determinante para começar a estancar a onda de crescimento da extrema-direita e afirmar uma esquerda progressista”.

Sublinhou depois as incoerências da extrema-direita europeia, parte da qual quer acabar com transferências financeiras dos países do Norte para os países do Sul e Leste e acabar com a política agrícola comum, enquanto outra parte pede mais verbas, uma “Europa das Nações em barafunda”, vincando que o que os une é “o ódio pelos direitos das mulheres, o desprezo pelas minorias, a limpeza, também, palavra deles, que querem fazer na União Europeia contra os imigrantes”, para além da “aposta em acabar com o que chamam a ecoloucura do Pacto Verde”.

Marisa Matias no comício do Porto

O Bloco, pelo seu lado, bateu-se “de forma consistente contra as alterações climáticas”, empenha-se na reversão do Pacto das Migrações “que contou com o apoio da do PSD, do CDS, dos socialistas e dos liberais” e que “atenta contra muitos dos direitos fundamentais, em particular contra os direitos das crianças”, quer garantir avanços nos direitos das mulheres e das comunidades LGBT e “pôr o fim ao insuportável e criminoso genocídio que está a acontecer em Gaza.” Foi ainda “o único partido português que votou favoravelmente todas as propostas apresentadas e que defendiam medidas eficazes para combater a corrupção”.

Louçã contrapõe “força da vibração democrática” à “pandemia da indiferença”

Francisco Louçã realçou a “pandemia” de indiferença. Trata-se não só da indiferença perante a guerra mas também para com os imigrantes, com a direita a “copiar” propostas da extrema-direita. Sobre esta há duas formas de reagir: a do Chega que grita “nem mais um” mas quer dizer “venham todos” os que tiverem dinheiro, considerando o fundador do Bloco que “não há política mais degradante e mais suja do que aquela que é feita com a desgraça das pessoas mais pobres, que mais sofrem, daquela que é feita com humilhação dos outros por razões de uma cruzada religiosa, de uma perseguição por uma etnia ou de uma discriminação por aquilo que as pessoas são e pela História que trazem”; e da direita e socialistas que dizem que o Pacto das Migrações “tem uns defeitos”. Só que “não haverá uma vírgula que vá mudar naquilo que foi acordado pelos governos europeus”, sendo assim “outra forma de política suja”.

Francisco Louçã no comício do Porto

Francisco Louçã mencionou ainda outra forma de indiferença que é sobre a liberdade, pegando na recomendação do candidato liberal, Cotrim de Figueiredo, para a leitura de um livro de Milton Friedman, para vincar que este foi apoiante da ditadura chilena e que os seus discípulos estavam no poder quando milhares de pessoas eram assassinadas. Os liberais, acrescenta, “fizeram com a Segurança Social do Chile aquilo que fazem sempre: faliram o dinheiro dos pensionistas”.

Por último, indicou a indiferença sobre as condições de vida. Sobre habitação, juros das casas, salário, emprego precário, desigualdade salarial entre homens e mulheres ou nos direitos da sua vida, há “proximidade” entre a Aliança Democrática, o Partido Socialista e a Iniciativa Liberal. Contra isso, encontra nesta campanha no Bloco a vibração democrática, a liberdade, consciência, a política social e o compromisso “com o nosso povo”.