Transferir partos para o privado é "penso rápido" para adiar soluções

25 de maio 2023 - 20:21

Depois do anúncio do ministro da Saúde de que este verão vai transferir partos do SNS para os privados, a Federação Nacional dos Médicos acusa Manuel Pizarro de estar a desmantelar "uma das joias da coroa do SNS”.

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Foto Luci Sallum/PMC - Flickr

“O Ministério da Saúde anunciou que terá de se socorrer do setor privado e social para garantir a realização de partos durante os meses de verão, na região de Lisboa e Vale do Tejo. Esta medida traduz-se em mais um penso rápido, à medida que Manuel Pizarro vai adiando a discussão de medidas concretas, como a atualização das grelhas salariais, nas negociações com os sindicatos médicos”, critica a FNAM em comunicado citado pela agência Lusa.

Os médicos dizem lamentar a insistência do ministro Manuel Pizarro “em adiar a solução para os problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS), promovendo o desmantelamento da Saúde em Portugal, em particular dos cuidados materno-infantis, uma das joias da coroa do SNS”. O ministro justificou a decisão da transferência de partos com "o contexto das dificuldades normais do verão e num contexto também de realização de obras muito importantes em algumas das maternidades públicas”. E promete que apesar dos constrangimentos que irão causar essas obras nos blocos de parto de quase três dezenas de maternidades públicas, elas irão melhorar os serviços e torná-los mais cómodos.

As reuniões entre a FNAM e o Ministério sucedem-se sem que este apresente propostas concretas ou responda às que são colocadas em cima da mesa pelos médicos. E agora falta cerca de um mês para o termo do protocolo negocial. “Todas as reuniões em que o Ministério não apresenta propostas, são reuniões fracassadas na resolução dos problemas do SNS, que obrigam a tutela a adotar medidas paliativas de forma a assegurar os cuidados de saúde aos utentes”, criticam os sindicalistas, insistindo que existe solução para a fixação de médicos no SNS.

Manifestação em defesa do SNS a 3 de junho em Lisboa

Nos últimos dois meses, cerca de duas mil pessoas, profissionais e utentes do SNS com diversos percursos cívicos, reuniram-se em torno do Manifesto Pelo Direito à Saúde, Mais SNS (link is external). No documento, os subscritores alertam que “Portugal não suporta mais esperas e falhas nos cuidados de saúde” e que “só haverá verdadeiro acesso à saúde se não desistirmos do combate por um Serviço Nacional de Saúde público, qualificado e universal, pago com os nossos impostos”.

O movimento está a realizar reuniões em vários distritos. A próxima será esta quarta-feira dia 24, pelas 21h, na Cooperativa do Povo Portuense, no Porto. Para dia 3 de junho está agendada uma grande manifestação cidadã, em Lisboa, pelo reforço do SNS e pela garantia dos cuidados de saúde. O ponto de encontro será no Largo de Camões, pelas 15h.