Brasil

Tentativa de golpe: o que diz a acusação contra Bolsonaro e seus cúmplices

20 de fevereiro 2025 - 11:30

Acusação da Procuradoria Geral da República do Brasil detalha ações que tinham como objetivo impedir que Lula tomasse posse como Presidente, mantendo Jair Bolsonaro no cargo mesmo tendo sido derrotado nas urnas.

por

Thalita Pires

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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro. Foto:Tânia Rêgo/Agência Brasil

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou nesta terça-feira (18) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais 33 pessoas pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de património tombado.

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O objetivo central das ações da organização era impedir que o resultado das eleições presidenciais de 2022 fosse cumprido e impedir Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de tomar posse como presidente do país. A ideia era que Bolsonaro permanecesse no poder mesmo sendo derrotado nas urnas.

A denúncia explica como o núcleo duro da organização – composto por Alexandre Rodrigues Ramagem, Almir Garnier Santos, Anderson Gustavo Torres, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Mauro César Barbosa Cid, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Walter Souza Braga Netto, além do próprio Bolsonaro – atuou em diversas frentes para atingir seu objetivo.

De acordo com a PGR, o grupo:

  • agiu para descredibilizar o sistema de votação, criando e divulgando narrativas sobre fraudes nas urnas eletrónicas;
  • mobilizou aparatos de órgãos de segurança para mapear locais com votação expressiva para Lula e usou a Polícia Rodoviária Federal para realizar operações que atrapalhassem o fluxo de eleitores dessas regiões;
  • repassou material para influenciadores digitais manterem acesa a mobilização iniciada logo após a vitória de Lula, que fechou rodovias e ocupou as portas de quartéis em todo o país com o objetivo de sensibilizar as Forças Armadas a aderirem ao golpe;
  • pressionou o Alto Comando do Exército para agir com o uso da força para que Lula não assumisse a presidência;
  • estruturou um plano de ataque às instituições que incluía a morte de personagens-chave, como Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Ambos chegaram a ser monitorados para a execução de possíveis ataques;
  • Augusto Heleno (Chefe do Gabinete de Segurança Institucional) e Alexandre Ramagem (Diretor-Geral da Agência Brasileira de Inteligência – Abin) utilizaram a estrutura agência de inteligência do Estado para atacar opositores e o sistema eleitoral;
  • após o primeiro turno da eleição de 2022, solicitou à Abin o levantamento de informações sobre os locais onde Bolsonaro foi derrotado;
  • via redes sociais, agiu para disseminar críticas infundadas ao sistema eleitoral, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e contra a posse de Lula;
  • discutiu, orçou e buscou apoio financeiro para as ações antidemocráticas; e
  • preparou um decreto golpista para justificar o rompimento das estruturas democráticas.

Outro lado

Nesta quarta-feira (19), a defesa de Bolsonaro classificou a denúncia como “incoerente” e afirmou que o ex-presidente “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse à desconstrução do Estado Democrático de Direito ou das instituições que o sustentam”.

Na mesma linha, a defesa do general Braga Netto chamou a denúncia de “fantasiosa”. No texto, os advogados José Luis Oliveira Lima e Rodrigo Dall’Acqua afirmam que a PF e o MPF ignoraram o pedido do general para prestar esclarecimentos, demonstrando “desprezo por uma apuração criteriosa e imparcial”. “É inadmissível numa democracia, no Estado democrático de Direito, tantas violações ao direito de defesa serem feitas de maneira escancarada”, diz a nota. Em nota, a defesa do general Braga Netto chamou a denúncia de “fantasiosa”.

Já Filipe Martins, ex-assessor especial para Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro e considerado parte do núcleo jurídico de articulação do golpe, afirmou por meio de nota publicada pela defesa que “repudia veementemente a condução suspeita desse processo, a manipulação realizada durante as investigações e as acusações infundadas do PGR. E demonstrará, junto ao seu cliente, não apenas que tudo é falso, mas também que tudo é nulo desde o princípio”. Martins foi preso em 2024 por seis meses e solto após provar que não deixou o Brasil no final de 2022.

Em entrevista à CNN, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente, disse que a PGR se baseia “em um rascunho de projeto de Estado de Sítio, que seria enviado, supostamente, ao Congresso Nacional, algo que ninguém sabe quem foi que escreveu”.


Thalita Pires é jornalista do Brasil de Fato. Artigo publicado em Brasil de Fato.