Braga Netto é um dos mais destacados militares que participou, segundo a Polícia Federal (PF), na articulação e preparação de um golpe de Estado que visava impedir a tomada de posse de Lula da Silva na Presidência da República, como consequência da sua vitória eleitoral de outubro de 2022.
O plano do golpe, apurou a PF, incluía ações de membros das Forças Especiais do Exército, conhecidos internamente como os “kids pretos”, para prender ou assassinar o magistrado Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Supremo Tribunal Federal (STF) e também assassinar o presidente Lula e o seu vice, Geraldo Alckmin. O golpe estava previsto para dezembro de 2022, ainda antes da posse de Lula. No dia 15 desse mês, seis militares das Forças Especiais chegaram a pôr no terreno a operação que iria sequestrar ou matar Alexandre de Moraes, mas a ação foi abortada.
Chefiaria governo provisório golpista
Braga Netto, apurou a PF, teve um papel fundamental na elaboração do plano do golpe e no início da sua concretização. Uma das reuniões mais importantes, na qual participaram os chefes dos três ramos das Forças Armadas, no dia 12 de dezembro de 2022, foi na residência do general.
Braga Netto foi também o financiador da operação das Forças Especiais, a quem terá entregue cem mil reais em notas para custear os gastos dos seis militares envolvidos. O general comandaria ainda, junto com outro general, Augusto Heleno, o “gabinete de gestão da crise”, um governo provisório que, segundo os planos golpistas, assumiria no primeiro dia do golpe.
Quando os chefes do Exército e da Aeronáutica se recusaram a participar no golpe, foi ainda Braga Netto que coordenou a ofensiva difamatória das “milícias digitais” contra os dois, e uma campanha de manifestações à porta das suas residências, de bolsonaristas que tentavam convencê-los a aderir. A prisão preventiva do general foi decretada para evitar que Braga Netto aproveite a liberdade para obstruir as investigações, como fez quando procurou saber de detalhes da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de Bolsonaro. Ou seja, a Justiça considerou que a liberdade de Braga Netto representa um risco às investigações.
Só há 19 generais de 4 estrelas na ativa
O posto de general de quatro estrelas é o mais alto da carreira militar no Brasil. Os generais são classificados por estrelas, que representam o âmbito da autoridade de cada oficial. Os de 4 estrelas são os que chegaram ao topo da carreira, comandam regiões. Tomam decisões estratégicas e comandam grandes operações. Só há, nesta data, 19 generais de 4 estrelas na ativa.
Até hoje, nenhum general de 4 estrelas fora preso na História do Brasil, num processo da Justiça civil. O relatório da Polícia Federal está atualmente sob a alçada da Procuradoria-Geral da República, que decide se quer novas investigações, se arquiva o processo ou se oferece denúncia. Esta última opção é quase certa e deve ocorrer ainda em janeiro.
O Relatório da Polícia Federal tem 884 páginas e inclui a delação do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro e a investigação da PF para tentar confirmar com provas as denúncias de Cid.
Assassinatos estavam previstos
Foi neste relatório que ficámos a saber da existência de planos para assassinar Lula, Alckmin e Alexandre Moraes e que estas ações estiveram muito próximas da concretização. O documento é público e pode ser descarregado neste link.
Há, porém, ainda muitas lacunas na investigação. Não se percebe o que aconteceu depois de os golpistas não terem conseguido os seus intentos e Lula ter tomado posse da Presidência da República. Em que condições foram mantidos planos golpistas, como os acampamentos diante dos quartéis e a invasão das sedes dos três poderes, no dia 8 de janeiro, ou ainda os bloqueios de estradas feitos pelos camionistas e o plano de fazer explodir, no aeroporto de Brasília, um camião-tanque carregado de gasolina de aviação. Tudo isto, recorde-se, quando Bolsonaro estava confortavelmente instalado nos Estados Unidos, para onde se deslocou antes da posse de Lula, com medo de ser preso. Isso ainda não aconteceu, mas o cerco aperta-se cada vez mais em torno dele. A prisão de Braga Netto foi um aperto, a divulgação do relatório da PF outro, e a denúncia da Procuradoria, que transformará os 30 indiciados (incluindo Bolsonaro) em réus, um grande apertão.
No meio disto tudo, uma sondagem veio mostrar que Lula é imbatível numa eventual segunda volta das eleições presidenciais: derrotaria o próprio Bolsonaro, que está inelegível, derrotaria a mulher de Bolsonaro, Michele, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas e o governador de Goiás. Ronaldo Caiado, todos eles potenciais candidatos do bolsonarismo. Se Fernando Haddad, do PT, substituísse Lula, também derrotaria todos os opositores. Ainda faltam dois anos, e a história recente mostra que, no Brasil, muitas coisas podem acontecer em muito pouco tempo. Mas boas notícias são sempre bem-vindas.