Irlanda

Catherine Connolly vence presidenciais na Irlanda

25 de outubro 2025 - 15:42

A candidata apoiada pela esquerda vence com grande vantagem nas urnas e derrota a candidata apoiada pelo partido do atual executivo.

PARTILHAR
Catherine Connolly
Catherine Connolly em camanha. Foto publicada nas suas redes sociais.

O eleitorado irlandês foi chamado às urnas na sexta-feira e o resultado não trouxe surpresas face às previsões: uma baixa participação eleitoral, com menos de metade dos eleitores a votarem, e uma vitória confortável para a candidata independente Catherine, provavelmente com a maior margem de sempre numas presidenciais.

Bastaram poucas horas desde o início da contagem dos votos, que só começou na manhã de sábado, para a candidata Heather Humphreys vir reconhecer a derrota e parabenizar a vencedora. “Isto é democracia e desejo sinceramente o melhor para a Catherine”, afirmou a candidata apoiada pelo Fine Gael, um dos partidos do centro-direita no atual Governo irlandês, acrescentando que “a Catherine será uma presidente para todos nós e será a minha presidente”.

A única surpresa eleitoral está a ser o número de votos nulos. Com 71% dos votos contados, Catherine Connolly  surgia com 60%, Heather Humphreys com 22%, Jim Gavin - candidato do outro partido do Governo, o Fianna Fáil, que desistiu a meio da campanha mas figurava no boletim de voto - com 6%, para além de 12% de votos nulos. Boa parte destes podem ser explicados como o protesto de eleitores da extrema-direita e apoiantes da ativista ultraconservadora Maria Steen, a quem faltaram duas das vinte assinaturas de parlamentares necessárias para assegurar presença no boletim de voto.

Quem é Catherine Connolly, a nova Presidente da Irlanda?

Aos 68 anos, a candidata independente teve o apoio inicial dos partidos Social Democrata, People Before Profit, 100% Redress e vários deputados independentes, a que se juntaram depois o partido Trabalhista, Sinn Féin, Verdes, Partido dos Trabalhadores e o PC irlandês. Formada em Psicologia Clínica e Direito, Catherine Connolly iniciou o seu percurso político dos Trabalhistas irlandeses, pelos quais foi vereadora em Galway em 1999 e em seguida presidindo à Câmara da sua terra a partir de 2004. Rompeu com o partido em 2007 e candidatou-se ao Parlamento como independente nesse ano e em 2011, quando falhou a eleição por 17 votos. A entrada no Dáil só ocorreu na eleição de 2016 e quatro anos depois foi escolhida pelos pares para se tornar a primeira mulher presidente desta Câmara Baixa do parlamento.

A atividade parlamentar ficou marcada pela defesa da herança cultural e linguística irlandesa, mas também pela intervenção na comissão de finanças públicas. Conhecida pela defesa da paz e da neutralidade do país, tem criticado o processo de militarização na Europa. Defensora acérrima do povo palestiniano contra o que chama de “estado genocida” de Israel, Catherine condenou a invasão russa da Ucrânia sem esconder a oposição ao belicismo da NATO no conflito e a hipocrisia europeia no tratamento diferente que dá à Rússia e a Israel. É apoiante da reunificação da ilha e a sua campanha passou por Belfast no final de agosto, onde defendeu que a população da Irlanda do Norte devia poder votar nas presidenciais irlandesas, pois o Norte era um ‘membro’ cortado da República da Irlanda. Num país predominantemente católico, Catherine defende o direito à autonomia individual no tema da morte assistida e apoiou a legalização do aborto até às 12 semanas e dos casamentos de pessoas do mesmo sexo.

Embora o papel da Presidente da República seja quase meramente decorativo na Irlanda, estando limitado politicamente ao envio de legislação aprovada para o Supremo verificar a sua constitucionalidade - usado apenas 16 vezes desde 1938 - e à recusa da dissolução do parlamento, o que nunca sucedeu, Catherine afirmou na campanha pretender dar uma nova dinâmica às reuniões com o chefe do Governo, um dos grandes derrotados na eleição.

Um editorialista do Irish Times diz que este é o dia mais desastroso para o Fianna Fáil desde as eleições gerais de 2011, quando o partido quase desapareceu após a crise financeira e o resgate do FMI. E prevê que a eleição retumbante de Catherine seja um sinal de uma mudança política na forma como a Irlanda será governada no futuro, com a perda de terreno do duopólio partidário que dominou o executivo no último século e também com a dúvida sobre se a esquerda que agora se juntou em torno desta candidata conseguirá fazer o mesmo nas próximas eleições gerais.