“Se o jornalismo morrer, a democracia e a liberdade morrerão com ele”

14 de março 2024 - 19:55

Na última das concentrações do dia de greve dos jornalistas, centenas juntaram-se no Largo Camões num “grito de alerta” para a sua situação profissional marcada pela precariedade, baixos salários e cargas de trabalho excessivas.

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Centenas de jornalistas concentraram-se esta quinta-feira no Largo Camões em Lisboa na ação que culminou a primeira greve geral de jornalistas em mais de 40 anos.

À RTP, o dirigente sindical João Rosário fez um balanço ainda parcial da jornada de luta, apontando para 45 redações, ao nível nacional, onde os jornalistas aderiram à greve, exemplificando com as mais expressivas como o Expresso, onde o número alcançou os 75%, as da RTP, até ao meio-dia registaram 85% de adesão.

Para ele, esta era a adesão desejada e acontece porque “os problemas dos jornalistas arrastam-se há demasiados anos”. Entre eles está a “degradação clara das condições de trabalho”, “profissionais que têm vindo a aumentar competências, mas a remuneração e grau de reconhecimento profissional é muito baixo”. Por exemplo, os jornalistas recebem durante anos “salários de 700 e 800 anos depois de anos de estágios não remunerados” e vivem situações de precariedade, relata.

O jornalista Pedro Coelho, também presente na concentração, contou que esta greve “é quase um grito de alerta” uma vez que “o jornalismo chegou a um estado que não interessa a ninguém, aos empresários dos meios de comunicação, aos jornalistas e não devia interessar aos políticos”. Este jornalista defende que “é importante que se olhe para o jornalismo como um bem público, uma voz que é essencial à democracia”, e que “não há democracia sem jornalismo".

Foi ele a ler no palco uma declaração em nome da organização que terminava com a ideia de que “se o jornalismo morrer, a democracia e a liberdade morrerão com ele”.

Também Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas, em declarações ao canal público de televisão, utilizou a mesma expressão “grito de alerta” para “defender o jornalismo antes que seja demasiado tarde”. E também ele traçou um quadro profissional de “precariedade, escalada dos baixos salarios, redações com cada vez menos gente, pessoas a trabalhar cada vez mais”.

Bloco defende condições de trabalho, transparência sobre donos e mecanismos de financiamento que não ponham em causa  independência do jornalismo

Mariana Mortágua esteve presente nesta concentração para vincar que o Bloco de Esquerda dá “todo o seu apoio a esta greve” e para reafirmar “a importância do jornalismo com condições em Portugal”.

A coordenadora do Bloco acredita que “o jornalismo é o garante da democracia” porque “a capacidade para distinguir entre o que é informação verificada, criada pelos jornalistas, que seguem um código deontológico, têm uma profissão e as redes sociais e as mentiras e as falsidades é crucial”.

Também ela referiu as condições de exercício desta profissão: a “enorme precariedade”, “baixos salários”, “horários de trabalho infindáveis”, a que se junta o facto dos meios de comunicação social estarem “muitas vezes em risco”.

Nesse sentido, o Bloco defende “novas regras para transparência das estruturas de capital dos meios de comunicação social”, sendo “preciso saber e garantir” que quem é dono de um meio de comunicação social “tem idoneidade para o ser”. Para além disso, “é preciso encontrar mecanismos de financiamento aos meios de comunicação social que não coloquem em causa a liberdade e a independência do jornalismo”. Mariana Mortágua defendeu que esse debate tem de ser aberto para que se possa chegar a um compromisso entre os partidos sobre "as medidas para apoiar o jornalismo livre em Portugal”.

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