Jornalistas manifestaram-se no Porto em dia de greve

14 de março 2024 - 13:50

Cerca de duas centenas de profissionais do jornalismo entoaram palavras de ordem junto à Câmara do Porto. Presidente do sindicato diz que a adesão à greve superou as expetativas.

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Imagem da concentração no Porto
Imagem da concentração no Porto, por Miguel Soares/X

"Portugal, escuta: o jornalismo está em luta", "É mesmo necessário o aumento do salário", "Sem jornalistas não há liberdade" ou "Redação vazia, não há democracia" foram algumas das palavras de ordem entoadas pelos jornalistas em greve que se juntaram no centro do Porto ao meio dia desta quinta-feira.

Em declarações à SIC, o presidente do sindicato, Luís Simões, diz que a adesão á greve teve "um impacto incrível, superou todas as minhas expetativas". E deu o exemplo dos Açores, onde neste dia prossegue a discussão do programa do Governo Regional e já se sabe que "a RTP Açores não terá noticiários à tarde".

"Este protesto é um grito de alerta de que o jornalismo vive um momento de emergência e que é preciso travar a degradação das condições de trabalho dos jornalistas", prosseguiu Luís Simões. "Hoje os jornalistas, com a complexidade que ganhou o seu trabalho, ganham em média pouco mais de mil euros por mês. Quem vive nos centros urbanos e pagar casas com os valores que já sabemos, depois é mais difícil fazer um jornalismo livre, independente, que possa resistir a pressões e que possa investir na formação. Somos uma classe que procura a formação contínua, sempre. E isso custa dinheiro", lembrou o líder sindical dos jornalistas.

Um dos manifestantes que falou à RTP foi João Nogueira, com 22 anos e um dos afetados pelos despedimentos na Global Media. "Graças a greve, a ameaça de despedimento foi revertida, mas não para todas as pessoas", lembrou este e-jornalista do Jornal de Notícias, que foi surpreendido por uma carta de não renovação do contrato em 15 dias e não tinha direito a subsídio de desemprego. "Vivo no Porto e pago renda alta, é muito difícil manter-me assim numa situação tão instável. É triste, mas é importante estarmos aqui", afirmou.

Miguel Carvalho, veterano jornalista que passou pela Visão e outros títulos e agora trabalha em regime freelancer, afirmou à RTP que esta luta não é apenas por condições dignas "que permitam manter a integridade deste ofício e desta profissão, que é muito importante para o interesse público, a democracia e a liberdade", nem para "evitar situações de absoluta escravatura que já existem nas redações há muito tempo, e que se aprofundaram com a chegada de alguns vendedores de banha da cobra que julgam que o jornalismo é o melhor caminho para defender os seus interesses".

Para Miguel Carvalho, esta luta é para "defender quem está lá em casa e valoriza ainda aquilo que é importante numa democracia: o escrutínio contínuo dos poderes. E que isso possa ser feito com os jornalistas a ter condições de integridade e dignidade para exercerem a sua profissão".

"Estão aqui alguns dos que têm mais a perder por estarem aqui, porque há alguns que mesmo dentro da nossa profissão decidiram ficar em casa quando não tinham nada a perder. A democracia não se exerce nas redes sociais e nos TikToks desta vida. Quem pensa que vai chegar a algum lado assim só está a cavar o fosso da democracia. O jornalismo defende-se com esta gente que está aqui a trabalhar dignamente. Quem sente isso como nós devia estar na rua connosco", concluiu o jornalista.

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