Fórum Socialismo 2024

“Quem viabiliza o Orçamento da direita, suporta o governo da direita”

01 de setembro 2024 - 17:42

No encerramento do Fórum Socialismo 2024, Mariana Mortágua criticou o "baile de verão" entre PSD e PS sobre o próximo Orçamento do Estado. E anunciou que o Bloco vai apresentar a proposta de 20% de aumento para todos os salários no SNS e majoração de 40% para quem ficar em exclusividade.

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Mariana Mortágua
Mariana Mortágua no encerramento do Fórum Socialismo. Foto Estela Silva/Lusa

A rentrée política do Bloco de Esquerda teve lugar este domingo em Braga, no encerramento do Fórum Socialismo 2024, uma iniciativa que durante o fim de semana incluiu meia centena de debates sobre temas da atualidade política, social e cultural.

No discurso de encerramento, Mariana Mortágua apelidou de “baile de verão” a postura do PSD e do PS face ao próximo Orçamento do Estado. Lembrou que no início do seu mandato à frente do PS, Pedro Nuno Santos tinha garantido ser “praticamente impossível” a viabilização do Orçamento por parte do seu partido, mas desde então essa posição parece ter vindo a mudar: primeiro  “o PS diz que não quer o IRC no Orçamento, então o PSD tira o IRC do Orçamento e apresenta-o num anexo para aprovar à parte, com o Chega”. Assim, a borla fiscal aos ricos é aprovada com a assinatura da extrema-direita e o Orçamento “fica desimpedido e à espera da assinatura do PS”, prosseguiu a coordenadora do Bloco.

“Ouvindo o que Pedro Nuno Santos dizia antes das eleições, espero não ver o PS em semelhante truque para uma viabilização que era praticamente impossível”, acrescentou Mariana Mortágua, sublinhando que para o Bloco de Esquerda, “impossível” é “desistir de um país justo, de casas que se possa pagar, de salários para viver bem, de um SNS de portas abertas”.

Em contrapartida, “no Portugal de privilégio que o PSD está a construir, só os ricos veem futuro e liberdade, enquanto o povo continuará condenado a ter medo do amanhã e a fugir”. E por isso, conclui a coordenadora do Bloco, “quem viabiliza o orçamento da direita, suporta o governo da direita. Quem suporta o governo da direita, não faz oposição à direita. E quem não é oposição à direita, não fala em nome de uma alternativa política”.

Para Mariana Mortágua, nas políticas de Habitação, Saúde e nos impostos, o Governo do PSD tem acrescentado “revanchismo, incompetência e defesa do privilégio despudorado” ao que foi “o abandono e falta de coragem do PS” no governo anterior. Na habitação, a receita de “mais turismo, mais luxo e mais especulação” une Montenegro a Moedas em Lisboa, Moreira no Porto e Albuquerque na Madeira, enquanto no resto da Europa se procura limitar o turismo. E aos jovens que não conseguem pagar um quarto por 450 euros para ir para a universidade, a ministra responde com uma redução de imposto “para que possam comprar uma casa de 450 mil euros”.

Bloco quer aumentos no SNS "sem truques nem condições em letra pequenina"

Na Saúde, o Governo navega “de plano em plano” e o resultado é um “plano inclinado em que tudo piora”. Em alternativa, o Bloco vai insistir na proposta de 20% de aumento de todos os salários do SNS e uma majoração de 40% para quem fique em exclusividade. Uma proposta simples, “sem truques nem condições em letra pequenina, porque o melhor negócio para o país é ter serviços públicos de qualidade e pagá-los com impostos justos”.

E no que diz respeito aos impostos, Mariana Mortágua criticou as grandes bandeiras do Governo como o IRS Jovem que serve para beneficiar “futebolistas de sucesso, nómadas digitais que aqui se queiram instalar, meia dúzia de sortudos e uma dúzia e meia de herdeiros, mas não muda a vida dos jovens em Portugal”. Uma borla fiscal que se junta à do IRC que irá beneficiar sobretudo as grandes empresas, no valor de 2.500 milhões de euros “que podiam pagar os médicos, enfermeiros, técnicos que o SNS precisa para beneficiar todos, ricos e pobres”, sustentou.

A situação na Palestina também foi tema do discurso de Mariana Mortágua, com a garantia de que o Bloco está “ao lado de todos os que não se calam perante a limpeza étnica, a censura e o genocídio”. Mas também ao lado dos que denunciam “a cobardia do Governo português, escondido atrás da posição dos EUA” e que agora recusa retirar a bandeira portuguesa a um navio carregado de material militar com destino a Israel, apesar dos avisos da Relatora Especial da ONU, Francesca Albanese, que vê nesta inação uma quebra da Convenção sobre Genocídio por parte do Estado português.

A coordenadora bloquista saudou ainda os milhares de pessoas que já assinaram a petição para a retirada da bandeira portuguesa ao navio que alimenta o genocídio.