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Peso dos salários no PIB volta a cair e afasta-se da meta do Governo

Em relação a este ano, o aumento salarial de 5,1% previsto no acordo de rendimentos nem sequer chega para compensar a inflação prevista pelas principais instituições internacionais.
Manifestação Vida Justa. Foto de Ana Mendes.

No ano passado, o peso dos salários e contribuições sociais que são pagas a favor dos trabalhadores registou uma queda significativa, de 47,9% para 47,1%, de acordo com os dados preliminares do Eurostat noticiados pelo Jornal de Negócios.

Este resultado acontece apesar da recuperação da atividade económica e da ligeira recuperação do emprego na economia portuguesa. Em 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) teve o melhor desempenho registado desde o final da década de 1980, tendo crescido cerca de 6,7%. Além disso, o emprego subiu 2% neste período.

No entanto, apesar do desempenho positivo destes indicadores, o peso da retribuição do trabalho no PIB voltou a cair pelo segundo ano consecutivo. Neste indicador, Portugal continua abaixo da média da Zona Euro. O que explica esta queda é a restrição salarial verificada tanto no setor público como no privado.

O Governo apostou numa estratégia de compressão dos salários reais, tendo recusado a proposta do Bloco para aumentar os funcionários públicos ao nível da inflação. No setor privado, ao rejeitar um reforço da legislação laboral, o executivo contribui para o fraco poder negocial dos trabalhadores. Resultado: o salário médio manteve-se praticamente estagnado e caiu 5,2% em termos reais (isto é, tendo em conta a evolução dos preços), segundo os dados do INE.

O peso dos salários no PIB voltou a encolher e a afastar-se da meta definida pelo Governo no acordo de rendimentos e competitividade assinado com as confederações patronais e a UGT (a outra central sindical envolvida nas negociações – a CGTP – acabou por rejeitar o acordo). O objetivo definido – atingir os 48,3% até 2026 – fica cada vez mais longe face à política económica seguida pelo Governo.

Em relação a este ano, o aumento salarial previsto no acordo de rendimentos (5,1%) nem sequer chega para compensar a inflação prevista pelas principais instituições internacionais (o Banco de Portugal prevê 5,8% de inflação, enquanto a Comissão Europeia prevê 5,4%). Mantendo esta tendência, a maioria dos trabalhadores continuará a perder poder de compra.

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