Países do G20 continuam a investir milhares de milhões nos combustíveis fósseis

10 de abril 2024 - 13:04

Um relatório mostra como a expansão da aposta na poluição tem continuado apesar dos supostos compromissos. Canadá, Coreia do Sul e Japão são dos que mais dinheiro lançam para a indústria fóssil. “É preciso responsabilizar os países ricos pelo seu papel no financiamento da crise climática”, dizem ambientalistas.

PARTILHAR
Foto Malova Gobernador/Flickr
Foto Malova Gobernador/Flickr

Um relatório conjunto do Oil Change International e do Friends of the Earth dos EUA, divulgado esta terça-feira, mostra como as maiores economias mundiais continuam a financiar a expansão da indústria de combustíveis fósseis, nomeadamente nos países mais pobres, contrariando assim o seu discurso de busca de neutralidade carbónica e de sustentabilidade ambiental.

Estima-se que as economias do G20 e os “bancos multilaterais de desenvolvimento”, por elas financiados, tenham investido pelo menos 142 mil milhões de dólares em projetos desta natureza entre 2020 e 2022.

Os autores do estudo identificam o Canadá (com 11 mil milhões de dólares por ano), a Coreia do Sul (com dez mil milhões e o Japão (com sete mil milhões) como os maiores financiadores. Este prometeu acabar com o financiamento de combustíveis fósseis mas os investigadores descobriram que o continua a fazer, inclusive nas últimas semanas. Da lista fazem parte também Estados Unidos, Alemanha e Itália também com investimentos na casa dos milhares de milhões.

Ao nível dos bancos multilaterais de investimento destaca-se o Grupo Banco Mundial com 1,2 mil milhões por ano para os combustíveis fósseis, 68% dos quais para gás. O gás, aliás, é o combustível no qual mais dinheiro foi colocado, com 54% do total. O investimento no carvão estará a diminuir, enquanto que o do petróleo e do gás continua em força.

As verbas investidas pelas instituições financeiras do norte rico em combustíveis fósseis neste ano foram 58 vezes maiores do que o que disponibilizaram para projetos de compensação ou contenção de danos ambientais por eles causados.

A analista financeira Claire O’Manique, do OCI, destaca a contradição que isto significa: “enquanto os países ricos continuam a arrastar os pés e a alegar que não conseguem financiar uma transição energética justa, países como o Canadá, a Coreia, o Japão e os Estados Unidos parecem não ter falta de fundos públicos para os combustíveis fósseis que estragam o clima”.

Por isso, defende, “é preciso continuar a responsabilizar os países ricos pelo seu papel no financiamento da crise climática e exigir que avancem primeiro e mais rapidamente na eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, que parem de financiar os combustíveis fósseis e que paguem a sua parte justa de um sistema globalmente justo, da transição, perdas e danos e financiamento de adaptação.”

A sua colega Makiko Arima visa particularmente o Japão, que “está a desencarrilar a transição para as energias renováveis na Ásia e no mundo”. Já que as suas instituições financeiras públicas, como o Banco Japonês para a Cooperação Internacional continuam a apoiar novos projetos de combustíveis fósseis, incluindo o campo de gás de Scarborough, na Austrália, e centrais elétricas a gás no México”.