Indústria dos combustíveis fósseis prepara-se para quadruplicar produção numa década

28 de março 2024 - 18:05

A Global Energy Monitor diz que o aumento “mostra uma falta de compromisso com as metas climáticas” e que “a ciência é clara: não pode haver novos campos de petróleo e gás, ou o planeta será empurrado para além do que pode suportar”.

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Exploração de gás natural. Foto de pxhere.
Exploração de gás natural. Foto de pxhere.

De acordo com a organização não governamental Global Energy Monitor, os grandes produtores mundiais de combustíveis fósseis preparam-se para quase quadruplicarem, até ao final da década, a quantidade de gás e petróleo que extraem através de novas explorações.

O aumento vai no sentido contrário dos Acordo de Paris sobre alterações climáticas, que tinham como objetivo evitar que a temperatura média mundial fique 1,5 graus célsius acima da era pré-industrial. A Agência Internacional de Energia tinha já alertado em 2021 que isso implicaria que não fossem construídas novas infraestruturas da indústria dos combustíveis fósseis.

Mas o que está previsto acontecer é afinal um incremento da produção. Desde então, pelo menos 20 mil milhões de barris de petróleo, equivalentes a novo petróleo e gás, foram descobertos para serem objeto de futuras explorações.

Só no ano passado, pelo menos 20 novos campos de petróleo e gás foram aprovados, o que corresponde à extração de oito mil milhões de barris de equivalente de petróleo. E o objetivo será, até ao fim da década, abrir mais 64 novos campos de petróleo e gás para produzir quase quatro vezes mais: 31 mil milhões de barris de equivalente de petróleo.

A liderar esta corrida aos combustíveis estão os Estados Unidos,que continuam a produzir desde há seis anos mais petróleo em bruto do que qualquer país alguma vez produziu na história. Em destaque nas novas descobertas prontas para exploração estão também a África e América do Sul.

Nos últimos dois anos, houve 22 países com descobertas significativas de petróleo e gás. Quatro deles, Chipre, Guiana, Namíbia e Zimbabué, concentram mais de um terço das descobertas. São países que até há pouco tempo não produziam nenhum ou quase nenhum petróleo ou gás.

No top 3 dos projetos recentes neste período, o primeiro lugar vai para o campo de gás de Shahini, no Irão, no qual se irão extrair 623 mil milhões de metros cúbicos de gás; o segundo para o projeto Vénus da TotalEnergies,na Namíbia; e o terceiro para o projecto Kodiak no Alasca.

Scott Zimmerman, gestor de projetos desta organização, vinca que “apesar dos avisos constantes e claros de que nenhum novo campo de petróleo e gás é compatível com os 1,5°C, a indústria continua a descobrir e a sancionar novos projetos”. O que “é dececionante” e “mostra uma falta de compromisso do lado da oferta com as metas climáticas”.

Ele considera que todas as razões que vão sendo apresentadas pelos produtores de petróleo e gás para continuar a procurar e implementar novos campos são inconsequentes porque “a ciência é clara: não pode haver novos campos de petróleo e gás, ou o planeta será empurrado para além do que pode suportar”.

Aliás, de acordo com os especialistas, a infraestrutura já existente seria suficiente para ultrapassar aquele patamar.