O Governo dos Países Baixos, o terceiro exportador europeu para Israel, decidiu pedir formalmente à União Europeia que dê início ao processo de revisão do Acordo UE/Israel. Numa carta dirigida à responsável pela diplomacia da UE, Kaja Kallas, e citada pelo Politico, o ministro neerlandês Caspar Veldkamp afirma a sua preocupação com a escalada da violência da operação militar de Israel em Gaza e na Síria, bem como dos colonos israelitas na Cisjordânia.
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O bloqueio à entrada da ajuda humanitária e de alimentos em Gaza “não parece ser compatível com os princípios humanitários da neutralidade imparcialidade e independência, e não permite a distribuição incondicional e sem entraves da ajuda à população necessitada”, diz o ministro neerlandês, considerando que se trata de uma violação do Artigo 2º do acordo entre a UE e Israel que obriga ao respeito pela lei internacional.
Em declarações à TSF, o ministro dos Negócios Estrangeiros português diz ter apoiado a iniciativa dos Países Baixos desde o início, quando foi informado dela no passado domingo. “Isto mostra o ponto de preocupação e censura a que chegamos”, disse Paulo Rangel, acrescentando que em Gaza “a situação tem vindo a piorar para níveis mais graves do que o que existia antes” do cessar-fogo entretanto quebrado por Israel.
Apesar da vaga de apoio que a iniciativa suscita entre os países da UE, tudo indica que ele poderá estar votado ao insucesso. “Só por unanimidade é que esse processo pode ser lançado e sabemos que a Hungria tem vindo a objetar a isso”, afirmou Paulo Rangel, acrescentando que “o simples facto de se abrir o processo para se fazer essa avaliação já é um passo à frente na posição europeia face ao conflito”.
Catarina Martins insiste que “é preciso suspender este acordo e impor sanções a Israel”
Em declarações ao Fórum TSF, a eurodeputada do Bloco de Esquerda Catarina Martins afirmou que “tudo isto vem tarde, mas é fundamental que se avance”, pois a União Europeia “é o maior parceiro comercial de Israel” e nos últimos dois anos “financiou objetivamente o massacre em Gaza” enquanto decorria o “genocídio a que assistimos em direto”.
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Além deste acordo comercial, vários países europeus “mantiveram o negócio da compra e venda de armas a Israel, para além de outros protocolos e financiamentos ara lá do acordo de associação” que está agora em causa, apontou Catarina.
“Nós dizemos há tanto tempo que era preciso suspender este acordo e impor sanções a Israel, como se fez com a Rússia após a invasão da Ucrânia”, prosseguiu a eurodeputada. “80 anos depois do fim da II Guerra Mundial, o genocídio que está a acontecer tem mesmo a Europa no meio”, sublinhou Catarina Martins, para quem “o plano do governo de extrema-direita israelita sempre foi varrer a Palestina do mapa”, com o bloqueio a Gaza e a ocupação Cisjordânia, “mesmo antes desta limpeza étnica”. E tudo isso foi permitido com uma “enorme cumplicidade dos governos da Europa e EUA”.
A diferença é que “agora esse plano é dito explicitamente”, prosseguiu Catarina, concluindo que “se Israel levar para a frente o seu plano e o mundo assistir ao esmagamento completo do povo palestiniano, é a nossa própria humanidade que está em causa”.