O Gabinete de Segurança israelita reuniu na noite deste domingo para aprovar o plano para uma nova ofensiva em Gaza, tendo para isso mobilizado dezenas de milhares de reservistas do exército.
À France Presse, uma fonte israelita assumia que este plano implicava “a conquista da Faixa de Gaza e o controlo de territórios” e a promoção da “partida voluntária dos habitantes de Gaza”. À Associated Press, dois outros dirigentes do Estado sionista indicavam que se tratava de “um plano que visa capturar o conjunto da Faixa de Gaza e ficar sobre o território durante um período indeterminado”. E também a cadeia pública israelita Kan citava fontes do poder para explicar que a implementação do projeto seria feita progressivamente ao longo de meses.
O jogo de declarações sob anonimato sobre o conteúdo do plano também chegou ao Haaretz, onde outro responsável vincava que a diferença deste plano relativamente a anteriores era que Netanyahu tinha deixado claro que se passava de operações de raids para “a ocupação de território e a presença sustentada de Israel em Gaza”. Este assumia igualmente que o plano incluía deslocação da população para o sul do território.
Palestina
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A meio desta segunda-feira, um alto responsável do exército procurava matizar todas estas declarações ao dizer ao Ynet que “a Faixa não será ocupada na integralidade e não imediatamente”, não tendo sido dados mais pormenores sobre as pretensões em jogo na ofensiva a não ser que Netanyahu continua a “promover o plano Trump que visa permitir a partida voluntária dos habitantes de Gaza e que as negociações sobre este tema prossigam”.
Depois disso, foi o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a finalmente lançar uma mensagem de vídeo na X na qual assumia a limpeza étnica, ao afirmar que a população palestiniana “vai ser deslocada para sua própria proteção”. Confirmou ainda que a intenção passa a ser o “oposto” de lançar raids e depois retirar do território.
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Entre as reações de rejeição contou-se a do Fórum das Famílias, a organização de familiares dos reféns israelitas, que diz que o plano “sacrifica os reféns” e que o governo “admitiu que escolheu o território em vez dos reféns, contrariamente aos desejos de mais de 70% da população”.
O porta-voz da Comissão Europeia também se posicionou relativamente a este plano, dizendo que a UE está “preocupada” porque implicará “novas vítimas e sofrimentos para a população palestiniana”.
Entre as decisões estará também um plano para distribuir ajuda humanitária através de empresas privadas. Isto num contexto do bloqueio de Israel à chegada de auxílio que dura já há dois meses e que deixou a Faixa de Gaza numa situação ainda mais dramática.
Quer as Nações Unidas quer outras agências de ajuda humanitária dizem que esta proposta vai contra os “mais fundamentais princípios humanitários”, foi desenhada para “reforçar o controlo sobre os bens essenciais à vida como tática de pressão — como parte de uma estratégia militar” e dizem que não irão cooperar com ela. O Humanitarian Country Team, fórum que inclui as agências da ONU e outras organizações, considerou que o objetivo era “fechar o sistema de ajuda existente” para “fazer-nos concordar com a entrega de mantimentos através de centros israelitas sob condições estabelecidas pelos militares israelitas”. Isto, explicam, significa ainda que grandes partes do território continuariam sem acesso aos bens essenciais.
Mas a ideia de retomar a ajuda humanitária, ainda que controlada pelo exército israelita, não é aceite por todos os governantes israelitas. Itamar Ben-Gvir apressou-se a vir dizer que “a única ajuda que deveria entrar em Gaza é a ajuda para a migração voluntária. Enquanto houver reféns, não deve ser permitida nenhuma comida, eletricidade ou nenhuma outra ajuda – nem pelo exército nem pela sociedade civil”.
Desde a madrugada desta segunda-feira até ao momento em que esta notícia foi redigida foram confirmadamente mortos pelos ataques do exército sionista em Gaza mais 41 pessoas.